Vamos abraçar um novo desafio na nossa vida...
Pensei muitas vezes em como escreveria este post, mas sem nunca encontrar as palavras certas ou sem nunca deixar de sentir o medo (natural) de quem está prestes a mudar e abraçar uma grande mudança na sua vida. Pois, embora me considere uma pessoa aventureira, com o espírito e a determinação para mudar, porque mudar faz bem, a mudança, por mais que se goste ou não, vem sempre com uma boa dose de ansiedade, insegurança e… medo (do desconhecido).
Faz quase cinco anos que regressei de Bruxelas, onde vivi praticamente dois anos, os dois anos mais importantes da minha vida. Tinha sido mãe pela primeira vez, profissionalmente estava a passar uma fase difícil e a única coisa que, naquele momento, me guiou foi o facto de não querer ter uma família separada, sobretudo numa altura tão importante: o primeiro filho. E fui, de malas e bagagens e com uma enorme pressão da família, dos amigos e da sociedade, porque enfrentava o estereótipo da mulher que deixava o trabalho para ficar em casa a cuidar do filho, com a agravante de ficar mais vulnerável perante o seu marido. Eu sabia que não iria ser assim, mas os outros não.
Nestes (quase) cinco anos, passei por altos e baixos, mas continuei a tomar decisões muito importantes, mas também muito orientada para a família e para os filhos. E também neste período, as coisas nem sempre foram fáceis, nem sempre consegui estar a altura dos meus desafios, porque em casa as exigências são grandes e tive muitas crises existenciais. Contudo, olhando para trás, nunca me arrependi por um segundo de ter ido, de ter mudado e de ter arriscado. Senti que cresci imenso como pessoa, que aprendi a lidar comigo e a gostar de mim (depois de ter tirado todos os meus esqueletos do armário e ter enfrentado tudo aquilo que, no dia-a-dia, tentamos pôr para o lado e fingir que não existe, porque tinha tempo e não havia como fugir disso).
Portanto, se me pedir para descrever esse período da minha vida, foi como se tivesse feito todo o processo para reiniciar num caminho, creio e acredito eu, mais próximo daquele que me está destinado. E porquê? Simplesmente porque eu sinto isso, sinto mais ligada nas coisas que faço, porque posso dar-me a 200% tal como sou.
Mas o tempo passa e por forças maiores do que nós, acomodamo-nos, criamos rotinas, hábitos e eu encontrei a minha forma de equilíbrio entre o meu lado pessoal, a minha presença na família e a minha realização profissional. Estava bem, finalmente estava bem, sentia-me bem e, acima de tudo, que conseguia picar todos os itens necessários e ainda ter tempo para mim, com a cabeça e o corpo são.
E foi precisamente nesse momento que a mudança nos bate novamente à porta. Uma mudança desejada, mas ao mesmo tempo, abafada com a forma como nos sentimos confortáveis na rotina e a segurança de quem finalmente tem tudo “oleado” e a funcionar bem. Desde a escola dos miúdos, à nossa casa, a primeira na qual nos sentimos verdadeiramente em casa, a própria logística, aos amigos… enfim, sentíamo-nos todos confortáveis e, por isso, felizes e agradecidos.
Mas quando a mudança bateu à porta, acordou o bichinho que adormecemos nestes (quase) cinco anos. Lembramos rapidamente de tudo aquilo que vivemos como expatriados, a forma como uniu a nossa família, nos fez crescer, as experiências que nos proporcionou, os lugares e culturas diferentes que descobrirmos e a própria superação de quem vive emigrado, sem a rede de apoio a que se habitua. Olhamos para os nossos filhos e pensamos que era a oportunidade da vida deles, para aprender uma outra língua e viver num ambiente internacional que lhe abrirá os horizontes e com isso as oportunidades ao longo da vida. E com o Vicente a entrar, em setembro, na primeira classe, era o momento certo.
E este é o cenário base e aquele em que acreditamos e, no qual eu, acima de tudo acredito, porque volto a ter que organizar toda a minha vida em prol da família. Dito assim de forma muito simples e pratica, é isso – claro que não será apenas isso, claro que vou arregaçar as mangas e tenho ideias e projectos e oportunidades, mas à data de hoje, não tenho nada garantido a não ser a minha forte perseverança e crença de que “quem muda, Deus ajuda”.
E assim tomamos a decisão de regressar a Bruxelas para viver uma experiência de vida que, de certa forma, já conhecemos, todavia agora terá outras nuances, vamos a quatro e com novas exigências, pois vamos ter dois filhos na escola e é precisamente aqui que chegamos ao tema que fará parte da segunda parte deste post: como é lidar com todos os medos e inseguranças quando se muda de país, e de tudo, com dois filhos que já nos perguntam muitas coisas e sentem muitas mais?
Bom… de certa forma, este blog vai regressar à sua origem, pois foi em Bruxelas que foi pensado e que nasceu. Espero que continue desse lado e acompanhe mais uma viagem dos Vs.