Uma cirurgia de urgência e a vida virada do avesso!
Tudo, rigorosamente tudo, pode mudar de uma hora para a outra. Nem eu, nem você, posso achar que controlo tudo na nossa vida. E se existem momentos em que o fazemos, rapidamente somos surpreendidos pela vida com formas, regra geral, não muito simpáticas de nos chamar a atenção, ora quando estamos a abusar, ora quando damos uma de controladores.
Lição de vida n.1: Aprendida
O meu mês de junho estava, e está ainda, completamente cheio, programado, com datas fechadas para muitas coisas acontecerem, muitas delas que determinam TO-DA a nossa vida. A data da mudança (o próprio camião, fechado com todas as nossas coisas, que tem que seguir num dia certo) e os bilhetes de avião comprados, são assim algumas das coisas.
Estava tudo programado para correr dentro do calendário, sem esquecer as despedidas! Ai... as despedidas!
Portanto, quando o mês de junho chegou, eu entrei literalmente em modo piloto-automático sem margem para que algo corresse mal ou para que houvessem deslizes.
Mas, na vida, as coisas não funcionam assim e curiosamente, no dia seguinte a ter partilhar uma fotografia em que me sentia optimista e positiva e vos incentivava a:
Tirarem uma fotografia vossa nos vossos dias bons, naqueles em que se sentem bem seja fisicamente, seja, porque motivo for. No meu caso, falava da minha barriga, esse never-ending projecto de a manter bem. Mas, acrescentava que esse resisto servia para me mimar no dia mau, para não me castigar, mas sim, incentivar a não desistir, porque eu consegui estar ali.
Ora, precisamente no dia seguinte, dou entrada nas urgências com uma suspeita, e mais tarde confirmada, apendicite aguda.
Gerir a situação do problema em si não foi o difícil, mas foi pela inexistência de um plano de emergência ou sequer de uma situação deste género ter sido equacionada. O meu marido ia viajar em trabalho no dia seguinte, o Vicente tinha a última, e tão importante, Festa de Finalistas, sendo que o pai já não ia estar e eu naquela situação, já não controlava nada.
Para além disso, a recuperação, que implica não fazer esforços, e toda uma mudança marcada. Era o pior cenário de todos! O pior! Pois o desgaste físico nesta fase em que entramos vai ser grande.
Contudo, não houvo sequer tempo para que a frustração desse lugar, porque foi tudo muito rápido e, no hospital dos Lusíadas, foram todos impecáveis comigo e até com a minha fragilidade emocional, a lidar com tudo aquilo, ali sozinha.
Lição de vida n.2: Olhar o copo meio cheio.
O facto de não ter acontecido em Bruxelas, foi de longe o primeiro motivo pelo qual eu agradeci logo estar ali e a resolver já este assunto. Não teria uma rede de apoio e em que confio a 100% como tenho cá, e isso será sempre o pior de viver fora. Mas serviu de alerta, pois uma das coisas que irei tratar é de construir uma rede de suporte, sobretudo ter quem se assegure das crianças em caso de emergência.
O pai, a quem eu não quis preocupar e deixei viajar, cumpriu o objectivo da sua viagem, mas antecipou o regresso e, no final, o Vicente acabou por ter pai e mãe na primeira fila e notou-se a felicidade estampada no seu olhar. Porque tive alta e tive a compreensão de que eu, como mãe, não podia ficar-me pelos vídeos e as fotografias. Eu tinha que lá estar, ele tinha que me ver e sentir que somos estamos junto aqui e na próxima fase da nossa vida.
Amor de mãe é assim. Apodera-se de nós e nós movemos montanhas para fazermos o que achamos que temos que fazer. E foi esse amor que serviu de analgésico para as minhas dores.
Quanto ao resto… bom, a vida vai seguir na mesma, as datas estão marcadas e há coisas realmente inadiáveis. Foi bom ter começado a planear tudo mais cedo, pois agora não me sinto demasiado ansiosa e depois, vou delegar mais na empresa de mudanças, ao invés de ser tão eficiente e facilitadora do trabalho… dos outros!
Este episódio menos feliz, foi também a prova de todo o amor que temos à nossa volta. Das pessoas que, elas próprias alteram a sua vida com este imprevisto, para não me deixarem sozinha. Até vocês que se ofereceram para um pratinho de canja, que eu irei cobrar (eheh), às partilhas sobre o processo de recuperação e até a piadas que me fizeram rir.
E, por fim, perceber que tudo se faz, seja de costas ou de barriga. E que na verdade podemos ser pessoas mais relaxadas, até porque se exageramos, lá recebemos o nosso aviso! Podemos ser mais brandos connosco próprios, sem colocar demasiada pressão nos nossos ombros e sem querer demasiado perfeccionista.
E eu sou assim e isso não faz de mim melhor profissional, mãe, pessoa, mulher. Fez me entrar em brunout e, se é preciso parar, está apendicite aguda veio lembrar-me disso!
Boa noite!