Último Dia Do Mês De Setembro: Permitem Que Se Fale De Balanços?
Quando chega o último dia do mês de setembro sinto-me imediatamente mais próxima do fim do ano. Num misto de nostalgia, de recapitular o que vivi, o que fiz, de onde parti e o momento que vivo hoje. Porque setembro é potencialmente o mês de organização, de planeamento e de mudança, se houve algo para mudar.
E efectivamente é isso eu sinto hoje, no último dia do mês de setembro, em que dou por mim a fazer o balanço desta nova gestão familiar e de vida que temos. As novas rotinas e as novas obrigações que advêm com a entrada de um filho no ensino obrigatório. Foi um padrão que mudou radicalmente, seja de horários, seja de deslocações e, a verdade é que, os filhos tornam-se o ponto central da nossa vida e é função deles que depois eu organizo a minha própria vida e nunca num balanço equilibrado para o meu lado – que tenhamos sempre isso em mente, é um bom ponto de partida.
No último dia do mês de setembro e depois de muitos dias, uns em que tudo correu super bem e outros nem por isso; uns que foram a prova e a certeza das nossas decisões e outros que me trouxeram dúvidas e incertezas, a nossa vida ficou mais sólida em Bruxelas.
Ser um ser humano e ser adulto não é fácil, é verdade, e o pior é virmos formatados já com o complexo de culpa dentro de nós. Lutar contra isso no dia-a-dia é difícil. Sinto mesmo que temos que ir ao mais profundo de nós e resolver algo bem mais profundo do que um “mero” traço da nossa personalidade.
Contudo, colocando tudo isso de lado, há uma parte da nossa vida – a da vida das crianças e da casa – que está (bem) organizada – que funciona, digamos - por exemplo:
- Percebi que, de manhã, o que resulta melhor é acordar mais cedo que o Vicente e a Laura. Há dias em que acordo ainda mais cedo e tomo banho, mas, regra geral, é vestir o “fato de treino” sem mais coisas e depois concentrar-me apenas nos dois.
- Já conheço os caminhos e mesmo que o trânsito em Bruxelas seja também uma questão de sorte, já tenho a minha rota mais ou menos definida e consigo prever, mais ou menos, o tempo que levo entre uma escola e outra e a nossa casa. E sei igualmente qual o nosso limite de horas para sair – e aqui… bom…. não consigo evitar dizer um ou vários “Despachem-se!”, “Estamos atrasados!”, “Temos que sair!”, “sorry”!
- Anotei na agenda e na minha cabeça que as quartas-feiras são dias para os filhos, almoçamos juntos e aproveitamos para recuperar algum tempo de qualidade, visto que a escola termina às 12h.
- Para libertar um pouco mais de tempo ao final do dia, ajuda ter um frigorifico organizado com refeições pré-preparadas para a semana.
- Consegui começar a fazer as grandes compras ao mês e isso tira-me literalmente um peso de cima de mim e ter um planeamento que faz com que frutas e legumes sejam comprados semanalmente. Para além disso, poupa-se igualmente algum dinheiro.
- Aos fins-de-semana, o sábado pode ser de passeio e de aventuras, mas ao domingo é importante que seja feito um planeamento da semana, sobretudo no que toca à lavandaria e aos cozinhados.
- Gerir as coisas dia-a-dia e evitar o acumular: o acumular de roupa desarrumada; de brinquedos fora do lugar; de camas por fazer; etc.. por isso há um conjunto de tarefas que me obrigo a que sejam diárias e feitas na hora certa.
Setembro foi um mês muito longo para mim e muito exigente. Foi o mês em que tive que me adaptar “à bruta” a todas as mudanças e em que tive que fazer frente a uma mentalidade diferente, a uma sociedade com formas de fazer as coisas totalmente diferentes da minha/nossa e basicamente em que tudo foi novidade! Foi também o mês em que o meu marido viajou praticamente o mês inteiro e, por isso, ser necessário esta gestão mais organizada, da minha parte, de alguns aspectos da nossa vida - prefiro optar pelo seguro e o certo ao invés do improviso.
Ainda assim e de forma a conseguir gerir tudo isto, também é verdade que foi um mês em que de alguma forma senti-me um pouco em segundo plano, pois, para além de tudo, era o momento de agarrar com unhas e dentes o meu trabalho e não ficar somente à espera que as coisas viessem ter comigo. Como tal, não fui exemplar nas idas ao ginásio, nas minhas rotinas de cuidados e nem nas minhas horas de sono…
Andamos em constante ajuste e a balança não tem uma medida certa para o equilíbrio. Mas levo os meus dias com alguma serenidade a de quem não quer travar todas as lutas ao mesmo tempo, a de quem se disciplinou a ser mais flexível e tolerante consigo mesma, estabelecendo prioridades e resolvendo as urgências.
Chego ao último dia do mês de setembro e, noutra altura da minha vida, diria que esperava mais de mim, esperava ter tido mais tempo para isto ou aquilo. Porém, eu fiz tudo aquilo que eu podia e, acima de tudo, dei tudo aquilo que tinha e não tinha todos os dias. Assim, parece-me justo e merecedor para mim sentir-me grata por chegar aqui desta forma.
O meu desejo: que sejamos capazes de fazer mais vezes as pazes connosco próprios. Agradecer mais pelo que fizemos e culpar menos pelo que ficou por fazer.