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As viagens dos Vs

Mulheres nutridas, famílias felizes

As viagens dos Vs

Sobre: vivermos em passo de corrida e sem tempo para nós!

22.02.19 | Vera Dias Pinheiro

brunch

 

Numa altura em que se fala tanto de que as mulheres portuguesas “vivem em passo de corrida e sem tempo para elas”, é ainda mais importante dar valor aos momentos em que fazemos algo que contraria isso. E o que acontece, na tal correria do nosso dia-a-dia, é que nem nos apercebemos que há pequenas coisas que podem fazer a diferença na qualidade do nosso tempo.

 

Independentemente da vida e das rotinas, haverá certamente um espacinho de tempo que podemos canalizar para fazer algo que nos dê prazer. Por exemplo, aproveitar que temos tantos dias de sol e, por exemplo, na hora de almoço sair para apanhar um pouco de vitamina D. Bastam pouco minutos para se sentirem revigorados e, melhor ainda, se fizerem disso uma rotina.

 

No que toca ao meu tempo, eu também comecei a sentir necessidade de fazer mais alguma coisa por mim. O ginásio é uma rotina do dia-a-dia, mas também tirar um dia para almoçar com uma amiga, para conversar com uma pessoa diferente, no fundo, sair da minha bolha diária que entra, muitas vezes, em saturação pelo tempo que passo sozinha – e quando não estou sozinha, é sinal que estou com os meus filhos, o que, por sua vez, é sinónimo de mais tarefas. Pelo facto da minha liberdade de horários, claro que posso ajustar e, hoje, em vez de almoçar fiz um brunch com uma amiga que estava de férias. Regressei a casa e continuei o meu trabalho, sem pausas até à entrada do “modo mãe”.

 

Outras coisas das coisas que me tem dado muito prazer também, é, quando ao final da noite, e ainda tenho a cozinha por arrumar, roupas para organizar, coloco uns headphones e fico a ouvir Podcasts no telefone. Acabam por ser conversas interessantes, umas que me fazem rir, outras que me deixam a pensar e outras que me inspiram. O tempo passa mais rápido e até o que estou a fazer dá-me mais prazer, sim, mesmo quando se trata de tirar a gordura do fogão ou lavar as panelas que já não cabem na máquina de lavar a loiça, ou ainda, estender a roupa, porque entretanto a maquina de lavar roupa deu o sinal de terminar o programa – até dobrar meia e encontrar os pares certos se torna mais divertido!

 

Por fim, e talvez já venha trazer-vos nenhuma novidade, instalei a aplicação da Netflix no telefone. Sem conseguir parar tempo suficiente no sofá para ver uma série ou estar a par de tantos hits que tanta gente fala, posso dizer que já estou viciada na série Sex Education. Entretanto, aceito sugestões, mas nada que me deixe triste, que me crie ansiedade ou que me deixe a chorar. E até no ginásio, nos dias em que me apetece fazer um exercício cardiovascular mais longo, lá estou eu vidrada em mais um episódio e nem dou pelo tempo passar.

 

Estas foram as pequenas coisas que mudaram a qualidade do meu tempo e que, de certa forma, contribuíram para deixar as redes sociais, para fazer uma separação entre o trabalho – que está muito associado ao meu telefone – ou “fingir” que me entretenho com coisas que, na verdade, nada de diferente acrescentam à minha vida ou à minha inteligência.

E se as tarefas gritam por nós e não se fazem sozinhas, tudo o seu audível permite fazer-nos companhia. Daí ter aderido recentemente aos Podcasts – algo que não me tinha passado pela cabeça antes.

 

Fico com a esperança que a partir daqui o caminho seja o de conseguir a tal paragem para pegar num livro e retomar um ritmo de leitura que nunca mais voltou a ser o mesmo desde que fui mãe. Fico com a impressão que desaprendemos a aproveitar o nosso tempo, que vamos sucessivamente abdicando sempre um pouco mais do nosso tempo, e aquilo que começa por uma excepção, acaba rapidamente por se tornar a regra.

Não batemos o pé com força suficiente para zelar pelo nosso tempo, não “evoluímos” no sentido de sermos capazes de reinventar novas formas de criar tempo de qualidade e momentos que nos façam esquecer os problemas do dia-a-dia ou que realmente nos tragam prazer individualmente e não inseridos num grupo (família, amigos, colegas de trabalho, etc…).

 

O tempo realmente não estica e as responsabilidades acumulam-se, porém, da mesma forma que os casais têm que aprender a respeitar o tempo a dois após os filhos, o tempo individual (de cada um) é igualmente importante. Pode ser impressão, todavia tenho a sensação que vamos desaprendendo a estar sozinhos, a estar com os “nossos botões” e a estarmos entretidos com coisas que nos interessam a nós.

 

Desejo-vos um óptimo fim-de-semana!

 

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