O nosso corpo parece que sabe exactamente quando é que mais precisamos dele e quando é que ele pode quebrar. Esta é uma conclusão a que cheguei não apenas agora, mas logo na altura em que comecei a ficar sozinha com o Vicente, com o pai em Bruxelas e nós em Portugal e, mais tarde, juntos em Bruxelas, mas sempre com o pai de malas feitas.
As ausências de um, dois ou três dias, quase que nem se dava por isso: uma dia da partida, um de ausência e, depois, o da chegada. Mas a partir dos 3 dias sim, porém havia quase um modo mecânico que me fazia estar ligada a uma ficha. Fazia tudo, tratava da casa, do Vicente, passeávamos, se tinha alguma actividade não faltava, de noite estava sempre pronta a abrir a pestana, a trocar fraldas etc... Não me sentia cansada, quer dizer, chegava a noite, quando tudo estava pronto, e parecia um vegetal no sofá ou ia directa para a cama. Mas sentia-me bem, vá!
O clic dava-se quando o pai chegava, quando eu sabia que, se vacilasse, ele estaria lá e era aí que o meu corpo cedia, quando chegava à cama, o sono deixava de ser leve e o estado de alerta praticamente desaparecia por uns dias. Era estranho, no entanto, durante uns dias a seguir, eu simplesmente apagava.
E esta última semana foi uma dessas semanas. Eu sei que o médico me manda descansar, mas também sei que existe o Vicente, uma casa e todo um sem fim de coisas que nunca ficam feitas "para sempre". Há o supermercado, a sopa que acaba, o levar e buscar à escola, a roupa para lavar, etc... Por isso, foi uma semana mais difícil, em que era necessário parar muitas vezes enquanto fazia alguma coisa; ir todos os dias ao supermercado, se fosse preciso para não andar carregada com grandes pesos. Mas ontem - ontem à noite - contava os segundos para que o Vicente terminasse de comer e fosse dormir e que adormecesse de imediato, sem me fazer levantar e sentar umas quantas vezes, porque "tem xixi". Ele ainda me perguntou se me doía a barriga, eu disse apenas que estava um pouco cansada, mas que estava tudo bem.
O pai chegou de madrugada e eu já não consegui levantar-me da cama para preparar o pequeno-almoço e preparar o Vicente para a escola... O corpo percebeu que agora sim podia exigir descanso e eu respeitei. A partir de hoje é sem pressas e sem exageros e o pai dá uma ajuda.
... Se calhar, as mães ganham mesmo super poderes!
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