Se estou preparada para ter um filho na escola primária?
Óbvio que (não) estou. Não estou preparada, sobretudo, para vê-los crescer desta forma e para que a vida deles, para além de nós e deste ninho confortável e tão nosso, vá-se dispersando. Ele acha que isso nunca vai acontecer, acha que aquilo que ele sente agora, vai ser sempre assim para sempre.
Faz parte da ingenuidade de ser criança e que bom que é que ele sinta tanto amor e carinho pelos pais, em vez de dizer a toda a hora que quer crescer e sair com os amigos. O Vicente tem um coração de ouro e é muito emocional. É preciso ter cuidado e dar atenção a este sei lado, porque facilmente sofre com as coisas, com as mudanças, com o sofrimento dos outros, etc…
Mas se estou preparada para que ele vá para a escola primária? Estou e ele também esta. Só não estou preparada para tudo o resto que isso acarreta e que, tal como tem sido até aqui, o tempo encarregar-se-á de fazer passar muito velozmente.
Vivo, tal como todas as mães, na ambiguidade dos sentimentos, no querer e sentir coisas completamente opostas a toda a hora. Por exemplo, sabe-me bem ter dois filhos assim mais independentes, nomeadamente sem fraldas e com horários mais flexíveis, mas daí a querer que eles ganham total independência e que comecem nas saídas com os amigos e cheios de segredos com os pais e atitudes de adolescentes? Não, não quero!
Ser mãe é lutar precisamente contra este constante sentimento de protecção e de mãe-galinha, natural e incontrolável, para dar lugar à mãe consciente de que os filhos não são seus e que o nosso papel se resume a essa preparação constante para essa vida para alem de nós, os pais.
Óbvio que estou preparada para que ele entre na primária (e ele também). Mas não estou preparada para o ouvir conversar sobre certos assuntos, ter determinados sentimentos, como as saudades e o medo, que o fazem chorar. No outro dia, confessou-me uma coisa engraçada, que a música que estávamos a ouvir o fazia chorar. E eu perguntei porquê… ele responde que sente coisas boas que o fazem chorar.
Nesta fase, sei que se atormenta com as saudades que vai sentir daqui a algumas semanas e que por mais que lhe explique que vai passar e que vai correr tudo bem, ele não percebe isso. Sei que sente que vai perder tudo aquilo que o faz feliz, por muito que eu lhe explique ele vai sempre encontrar coisas que o fazem feliz. Sei que tem medo de perder os amigos, mesmo que eu lhe garanta que vai encontrar novos amigos e que estas mudanças vão sempre fazer parte do processo de estar a crescer.
O que custa são as mudanças e tudo o que elas acarretam. O que custa é vê-los crescer e nós sem poder fazer nada. O que custa é aceitar que o tempo passar realmente muito rápido e que nós, os pais, por dentro, parecemos carcaças idosas resistentes a essas mudanças.
Vai correr tudo bem, Vicentinho!