"Mãe e pai, lembra-te, eu sou apenas uma criança"
Aproveito que estamos em altura das férias e, em que a minha principal preocupação é que os meus filhos se divirtam e que sinta uma maior liberdade por comparação aos dias de rotinas, que reflicto sobre as exigências que colocamos “sem querer” numa criança. Sou uma apologista de regras, mesmo que com a minha segunda filha, as coisas não sejam tão lineares, mas se me perguntarem um truque para educar as crianças é precisamente que eles tenham a noção do que é esperado deles e à medida que vão crescendo, ir acrescendo sempre algo mais ao seu dia-a-dia e ás suas rotinas.
Contudo, reconheço que, a maioria dos pais, são pais “apressados” logo desde a nascença. A verdade é que sinto que não temos muita paciência para vê-los crescer e para lidar com as dificuldades, peripécias, confusões e asneiras inerentes a cada fase etária. Em pequenos, estamos ansiosos para o momento em que começam a interagir, depois, para começarem a andar e a falar, a comer, deixar de dormir a sestas e ansiamos rapidamente por voltar a ter uma vida normal. Orgulhamo-nos que saibam ler, contar e até escrever muito antes da idade em que é suposto adquirirem tais competências, mas, pelo contrário, ficamos completamente passados e aborrecidos por fazerem birras. Enche-nos o peito e arregalamos o olhar para contar aos outros como o nosso filho, de tenra idade, já participa ativamente nas tarefas de casa e que não só guardar o seu pijama na gaveta como ainda faz a cama e ajuda a tirar a loiça da máquina. Porém, exigirem ficar no parque mais tempo sem perceberem que os adultos têm outras obrigações e que para alem de estarem ali, precisam ir a correr para casa para dar banhos e fazer o jantar, isso já é uma dor de cabeça. A mim dava-me jeito que eles acordassem mais tarde aos fins-de-semana e sobretudo, a seguir aqueles dias em que me deito mais tarde. Mas se acho razoável que uma criança tão pequena durma até as 11 horas da manhã? Se calhar não. Eu, em miúda, sempre acordei cedo e lá chegará o tempo em que vou ser eu a ficar à espera que acordem.
O Vicente está a um ano de entrar na escola primária. Sei que a exigência vai aumentar, que a noção das obrigações e das tarefas vai cair em cima dele e especialmente que a vida não é apenas brincar. Não há férias quando se quer e há responsabilidades quando se chega a casa que não apenas tomar banhar e depois ver um pouco de televisão enquanto não chega a hora do jantar. Com a pressa toda que temos e a pressa com que o próprio tempo passa, daqui a nada deixo de ter uma criança para ter um adolescente el, de seguida, uma pessoa adulta que encara como todos nós, as frustrações, pressão e stress da vida adulta.Entretanto, esqueci-me que o tempo de brincar é agora, o tempo de lhes dar liberdade e de os soltar para que explorem, vivam e sintam a sua própria vida com tudo aquilo que têm é agora. É agora que estão a formar o adulto que vão ser, é agora que vão traçar um perfil e isso vai depender muito daquilo que eles vivem e experienciam agora, nestes primeiros anos.
Não sou aquela mãe que diz que vai dar tudo aos filhos. Mas sou, sem dúvida, a mãe que quer e fará de tudo para que eles experimentem e vivam tudo aquilo que têm para viver, que vai acreditar neles e deixá-los ir incentivando, estando lá como rede de segurança, mas sem exigir que sejam os mais bem-sucedidos, os vencedores, os mais que todos os outros. Tudo isto, casa muito bem com a humildade, humildade essa que nos pode escapar mesmo sem querermos e por ter uma sociedade tão virada para o lado material, em que aquilo que somos se prova com as coisas que cada um consegue adquirir.
Portanto, aquilo que eu faço é procurar que se explorem a si mesmos, que descubram as coisas de que gostam e de que não gostem, que percebam que não são de ferro, que podem cair e que o truque é saber como cair e como se levantar a seguir. Em tempo de férias, os dias são deles, têm que ser. Brincam, vão para a rua, recebo os amigos, passeamos, vamos à praia e tudo o que mais faz parte. Todavia, não me esqueço que são crianças e que como tal não se pode nem se deve esperar deles um comportamento de um adulto. É preciso deixá-los serem crianças e ter paciência para isso.
Se é fácil? Ui, não é de todo! As regras ajudam a não perder o norte, mas o papel dos pais não é gostar mais ou menos, é aceitar que temos ao nosso encargo a responsabilidade de educar uma criança e de a acompanhar. E isso é colocar-nos de certa forma, em segundo plano, pelo menos, deixar de lado, os nossos “egoísmos” e deixar de esperar um quadro perfeito das crianças quando os adultos são os primeiros a falhar.Certo?