Quando te permites (ou não) viver a plenitude do agora...
Há um momento na nossa vida em que, por razões que desconheço, deixamos de viver o agora como antes. Diria até, que quando deixamos de ser crianças nos é roubada essa simplicidade de viver a vida.
Lembro-me da pressão que foi escolher uma faculdade, uma carreira, uma profissão para a vida ainda eu nem tinha 18 anos. Na altura, eu queria ser muitas coisas: queria ser psicóloga, queria ser professora, queria ser jornalista… depois apercebi-me que queria ser outras coisas, mas que, naquele momento, já não podiam estar no horizonte, pois tinha optado pelas humanidades e não pelas ciências. Quando chegou na altura de concorrer senti muita pressão para conseguir entrar na faculdade logo na primeira fase e que isso seria o passo de arranque para o resto da minha vida.
Na prática, eu tentei que fosse assim, mas os sonhos e a continua vontade de fazer tantas outras coisas e de descobrir tantas outras paixões como que foram desviando-me daquela linha recta.
Assim de repente, o primeiro momento que me vem à cabeça e que me terá tirado essa simplicidade e espontaneidade em viver o presente, tenha sido aqui. A partir daí seguiu-se uma procura constante por seguir o que seria esperado e o que serviria de base para a minha vida adulta. E eu tentei muito, batalhei muito por encontrar o trabalho que me permitisse pagar as contas e onde, independentemente de gostar ou não, seria um emprego para vida.
Mas nada correu como previsto. Por razões que eu própria desconheço – ou talvez, porque simplesmente tivesse que ser assim – a minha vida foi seguindo rumos completamente alternativos e eu, ainda que perdendo toda a rede se segurança tal como a conhecemos, fui voltando a encontrar-me comigo mesma. Diria que o processo de reconexão comigo mesma começou em 2013, um processo de auto-conhecimento fortíssimo, longe de acabar… porém, de certa forma, levou-me um pouco mais para perto de uma pessoa mais consciente de quem é, do que precisa e nada disso se prende com aquilo que a sociedade espera de nós. E talvez essa seja a dificuldade que temos em sermos felizes: aceitar que isso é algo que devemos trabalho cá dentro, cá bem no fundo de nós. O resto à nossa a volta ajuda, ajuda o trabalho, ajudam a casa, as roupas, as viagens e por aí a fora.
Sermos felizes com tão “pouco” é aparentemente uma tarefa muito mais difícil do que aquela que imaginamos. E a pergunta que se impõe é: e se perdesse tudo e tivesse que aprender a ser feliz dessa forma?
Foi um pouco assim que me senti, pois embora nunca me tenha faltado nada em família, eu cheguei a uma fase de “estaca zero”: tinha deixado o meu trabalho, não tinha qualquer fonte de rendimento nem poupanças amealhadas; não tinha o meu carro; não tinha a minha casa. A vera – a pessoa – teve que reaprender a ser feliz de outra forma, teve que se reinventar sabe-se lá como – com a confiança e o pensamento positivo sempre presente – teve que se desprender da opinião de terceiros e daquilo a que a sociedade nos formata. Viver como excepção numa sociedade que prima pela regra não é fácil, as vezes é parecermos maluquinhos e ficar felizes simplesmente por estarmos vivos mais um dia e com saúde. Entendem onde quero chegar?
Às vezes é preciso repetirmos as mesmas coisas muitas vezes, mas é realmente importante que nos foquemos em nós e que trabalhemos mais a nossa capacidade de desfrutar do momento presente e que tomemos as nossas decisões também baseado no aqui e no agora.
Que não deixemos coisas por dizer. Que não adiemos coisas que queremos fazer. Que sejamos mais confiantes de nós mesmos. Que sejamos mais essência e menos matéria. Que não deixamos escapar a nossa capacidade em fazer um pedido de desculpas ou em dizer que gostamos de alguém, em dizer não, mas também de pedir ajuda.
E se estiver difícil, lembre-se de que somos todos seres finitos e que a única coisa que podemos dar por garantida é o momento presente, o agora, aquele que raramente damos a importância que merece. Somos ingénuos – ou não – mas projectamos sempre os nossos sonhos lá bem para a frente, regra geral, para quando formos bem velhinhos… mas e se não chegarmos lá, como é que ficamos?...