Posso escapar-me às viagens de carro com crianças?
Vou admitir que penso sempre nisso durante as viagens que fazemos de carro, embora isso nunca se sobreponha ao quanto eu gosto de passar tempo com eles quer em férias quer em fins-de-semana fora. Contudo, tanto o Vicente como a Laura – o Vicente já não felizmente – são crianças a quem dificilmente alguma coisa as acalma durante as viagens de carro. E inevitavelmente, eu, que vou no pendura, acabo por ter que aguentar tudo aquilo. Eu bem que me ofereço para conduzir, mas acho que o meu marido já topou que o melhor lugar é ali, ao volante. Afinal, não se pode distrair com nada….
Eu dava uma moedinha para me escapar às viagens de carros em família – prefiro andar de avião com eles, assim como assim, é mais agradável para mim porque de certa forma interagem mais connosco e isso acalma-os. Mesmo assim, digamos que, eu podia tratar de tudo o que diz respeito à viagem e à estadia - como aliás, faço – contudo, a seguir, eu podia gozar do direito de me teletransportar para o nosso destino e ficava lá à espera do resto da família.
As viagens de carro são daquelas experiências desgastantes e que, regra geral, é algo que se agrava quanto mais longa é a viagem. Não sei como é com vocês, mas aos meus filhos nada os entretem, aliás, a comida é aquilo que os entretém durante mais tempo. Estão sempre com fome! Por eles, era simples, eu ia sentada no espaço microscópico que existe entre ambas as cadeiras, a brincar sem parar a viagem toda.
E digo mais, é aquela experiência que até pode colocar em causa, mesmo que por momentos, o próprio espírito das férias. Pode arrasar com o bom humor e ser motivo de discussão entre marido e mulher!!!
Mas como não vou, a alternativa é ouvir “mãe” repetidamente e sem parar. E isso deixa-me desorientada, porque se não bastasse, ainda sou obrigada a virar-me para trás para acudir, contorcer-me para apanhar alguma coisa que caiu, revirar-me porque, afinal, foi cair num espaço minúsculo praticamente inacessível. Dou comida, dou água, limpo quando se sujam, dou a mão para não chorarem, peço que esperem um minuto, que tenham calma e sem sucesso. A verdade é que chego ao destino com a cabeça às voltas e com o estômago feito num oito. E quanto maior o mal-estar, menor a paciência.
Todavia, o mais engraçado é que me lembro de ser criança e de fazer exactamente as mesmas coisas. Lembro-me de perguntar mil vezes se estávamos a chegar, lembro-me de ficar com vontade de fazer xixi mal começávamos a viagem, lembro-me de arranjar sarilhos com a minha Irmã e dos mais pais se passarem connosco. Lembro-me inclusivamente de nós proibirem de falar, só podíamos respirar!
Lembro-me de tudo!!!! A partir de agora, começo a recordar-me de tudo e é isso que, ao mesmo tempo, me faz sempre ter alguma paciência e compreensão extras. Mas foram os meus pais que me ensinaram isso. Na altura eu não pensava assim.
Começo a entrar na fase em que olho para os meus pais e percebo como é que me educaram de determinada maneira, como é que me ensinaram a ter determinadas atitudes. Começo a perceber a importância de dizer “não”, o porquê de não se ceder a todas as exigências dos filhos, o porquê de se preferível que sejam eles a chorar (e agora) do que os pais (e mais tarde), o porquê de não nos esquecer que por muito que queiramos ser amigos dos nossos filhos tal não nos pode fazer esquecer de que, acima de tudo, somo pai e mãe e que temos um importante dever de educar.
Percebo tudo com muita clareza e só desejo que os meus filhos não percam a capacidade e o à vontade de falar com os pais independentemente de qualquer coisa! Isso garantirá sempre alguma proximidade entre nós, quer seja por vez mais próxima e outras vez mais afastada.
Quanto às viagens de carro, só me resta mesmo fazer o reset da última para estar preparada para a próxima! Ainda temos férias pela frente e quem sabe não volto a ter a sorte de fazer “jackpot” e ambos adormeçam durante praticamente a viagem toda. Isso é que era de valor! Não concordam?
Boa noite!