Por que motivo estive tão ausente do blog!
Uma Ausência Que (Agora) Parece-me Ser Tão Óbvia E Necessária.
Fotografia a bordo do catamarã da Discouver Tours, em Lagos.
Passaram-se dois meses (e tal) desde que escrevi aqui o último post – quando fui fazer as contas nem queria acreditar, pois nunca estive tanto tempo sem escrever. Mas foi uma ausência necessária, ainda que não tenha sido planeada.
Fazendo uma retrospectiva do último ano, a verdade é que tenho andado em constantes mudanças, adaptações, criação de rotinas de vida de raiz, dois filhos, um marido com viagens constantes, uma doença oncológica, um falecimento, uma pandemia e um confinamento. E a lista não acaba aqui, pois cada um destes momentos acarreta consigo milhares de outras coisas que “não matam, mas moem”.
Procurei ajuda de uma psicóloga, é verdade. Contudo, nunca parei. Estive sempre a tentar ser produtiva – muitas vezes, foi a cabeça a impor-me essa pressão, estive sempre a tentar ser a melhor mãe que podia, a esposa – se bem que a sobrar para a alguém, seria sempre para o meu marido e não tanto nas crianças. Fazia e refazia a minha lista de tarefas, a curto e a médio prazo, tentei exercitar-me com a mesma regularidade, ainda que as noites fossem, muitas vezes, passadas entre lágrimas ou a olhar no vazio.
À medida que as férias iam-se aproximando, crescia em mim uma vontade imensa de largar tudo, de me sentir livre e leve. Queria simplesmente viver o dia-a-dia, sem pressões ou compromissos, perante os quais eu lutava comigo mesma para dar resposta. Sentia-me lenta e a divagar nos dias.
Chegamos ao Algarve, revi a minha irmã e os meus sobrinhos e aquelas duas semanas foram tal e qual o esperado: viver o momento, agradecer por poder estar ali, mergulhar no mar – com a água a uma temperatura particularmente convidativa aos mergulhos – a sentir o sol na pele e a tentar encontrar-me. Fui egoísta, descarreguei muito no meu marido, deleguei e exigi muito para que eu pudesse ter a liberdade que tanto desejava. Foi um período complicado, tenso, porque é difícil entrar na cabeça do outro, entender desejos tão fortes e comportamentos tão radicais face aqueles a que estavam habituados.
Contudo, foi um mal necessário e nunca me senti mal por exigir e reclamar o meu espaço. Ninguém fica da mesma maneira após acompanhar um doente terminal que, desde que sabe o seu diagnóstico, morre todos os dias um bocadinho. Para além disso, quando esse alguém era o nosso melhor amigo, aquela pessoa que nos amparava, o ombro amigo, a pessoa que melhor nos conhecia, a pessoa que estava sempre disponível para nos ouvir e sempre do outro lado do telefone, sentimos um vazio enorme e uma tristeza ainda maior ao percebermos que não há outra pessoa que cumpra aquele papel.
A minha mãe era a pessoa a quem eu ligava quando estava sozinha no carro, enquanto esperava numa consulta ou enquanto almoçava. Ela preenchia o meu tempo e perder isso trouxe-me um desequilíbrio gigante. E é com o passar dos dias, das semanas e dos meses que vou percebendo a sua dimensão.
E foi neste turbilhão de emoções e sentimentos, revolta e raiva que olhei para mim e senti uma urgência em recuperar a minha vida. Todos os papéis estavam bem definidos: o de mãe, o de esposa, o de dona de casa, o de alicerce e suporte face à exigência profissional do meu marido. Mas o mais importante de todos – o meu - estava um caos!
Quis rever os meus valores, o meu propósito, a minha presença digital – que ponderei se deveria continuar ou não – a forma como desejo ocupar o meu tempo, a minha direcção profissional. No fundo, quis pegar na minha vida e começar a traçar objectivos ou horizontes, mais do que sentir que o meu espaço são sobras dos outros papéis. Entendem? Vivia em constante pressão para marcar o meu território.
Portanto, não escrevi porque, na verdade, não tinha nada a dizer. Não tinha respostas nem para mim, nem para vocês. Não tinha voz! Não tinha vontade!
E a esta altura, o que é que já fiz para mudar isto?
Bom, já escrevi um post (anterior a este) e tenho outros pensados; já me inscrevi no curso de francês (novamente), que começo já no início de outubro e recomecei os cursos online que, ou tinha deixado a meio, ou nem sequer tinha começado.
Não sei se se trata de uma linha recta agora. Não faço ideia se, daqui a umas semanas, volto a cair nesta sensação de vazio ou indefinição. O que eu sei é que passei por muito, por muito mesmo e não preciso de dar provas de valentia a ninguém. Também aprendi que não há certo nem errado para que toca a fazer luto. E sei que as pessoas nos dão os pêsames e depois deixam de falar no assunto, por medo, talvez, mas isso também nos torna solitários e, então, é preciso espaço e tempo para nós.
Seguir em frente como se nada fosse, não faz qualquer sentido. Conversarem comigo como se nada tivesse acontecido, é-me estranho!
Portanto, neste momento, estou (ainda) a assimilar toda esta quantidade de informação para, depois, poder aprender a viver com ela.
Com carinho,
Vera