Os Diferentes Estados de Espírito Vividos Durante A Pandemia.
As Três Fases Da Pandemia E Como Isso Nos Tem Afectado!
Durante estas últimas semanas - largas semanas já – em que a pandemia nos obrigou a paralisar tudo e a ficar cas, há algo que tem sido linear: a oscilação entre momentos cheios de energia e super produtivos e os momentos de cansaço extremo e em que cumprir os mínimos necessários é já sinal de esforço.
Tenho tentado manter-me com escuta activa com o meu corpo e aceitar cada um deles. Aproveito ao máximo quando o dia está a ser produtivo e aceitar igualmente quando, pelo contrário, o meu corpo precisa de abrandar e se restabelecer. Para tal, tem sido importante desligar-me das partilhas sucessivas que acontecem em cada instante nas redes sociais. Evito por completo a (eventual comparação) com qualquer pessoa que esteja aparentemente nas mesmas condições que eu e que esteja sempre constantemente a partilhar o seu ritmo frenético de produtividade e de criatividade. E actualmente, este é dos grandes desafios com que nos debatemos, directa ou indirectamente, acredito que a maioria de nós já se confortou com essa comparação (desleal).
Para além disso, sinto que a curva desta pandemia e da consequente quarentena, tem tido momentos diferentes e agora que se prevê um fim – independentemente do que isso queira significar – sinto-me capaz de afirmar que, para mim, esta quarentena teve três fases distintas, mas todas ela com aquele oscilar emocional de que vos falei no início.
Primeira Fase: O CHOQUE/ Confronto
Corresponde às primeiras semanas, aquelas em que ainda meio incrédulos, fomos forçados a cancelar toda a nossa vida tal como a tínhamos estabelecido para readaptar num registo, para a grande maioria nunca antes visto e até impensável de se conseguir. Os que puderam ficaram em teletrabalho, os que não conseguirem ficaram em Layoff, outros tiveram que se reinventar e enfrentar o medo para continuar o seu trabalho. As crianças passaram a ter escola em casa e ainda sem qualquer plano preparado previamente, pais, crianças e professores, correram atras e fizeram o que puderam para que o ano curricular continuasse. Foi o caos total para muitas famílias. O afastamento social e o que a isso nos obrigou, com o todo o peso psicológico e consequências daí decorrentes.
Houve quem conseguisse, para além de tudo isto, ser ainda mais produtivo e fazer ainda mais coisas! Muitos Parabéns! Houve quem, pelo contrário, desmoralizasse e a quem fosse muito complicado gerir essa mudança na sua vida e da sua família. E houve ainda outras que foram gerindo dia após dia, conforme ia dando e mesmo assim, a sentir um esforço acima do normal.
Segunda Fase: A DESCOMPRESSÃO/PERCEPÇÃO
Aquela em que caímos na realidade e em que percebemos exactamente aquilo que nos está a acontecer. Foi nesta fase que muitos de nós caímos numa espécie de depressão, de apatia e de tristeza com tudo isto. Foi também aqui que muitos desistiram de ler e assistir às notícias diárias. Não havia uma boa noticia e eu, por exemplo, cheguei a pensar que iriamos viver assim para sempre – uma hipérbole, mas que, de certa forma, traduz os meus sentimentos em determinados dias.
Mas foi também aqui que muitos de nós reagiram. Que arregaçaram mangas e que se adaptaram (finalmente) à nova realidade: a de confinamento. Houve quem voltasse a ter a inspiração para retomar o exercício físico em casa, quem se interessasse mais pela cozinha e por descobrir novas receitas, que organizasse a casa e o espaço para se tornar mais produtivo, fosse para o teletrabalho, fosse para a, então, certeza de que, pelo menos, o início do terceiro período escolar ia continuar em regime de telescola.
Eu entreguei os pontos nesta fase. Foi o período das férias escolares da Páscoa, mantive-me activa, mas, ao mesmo tempo, permiti-me descomprimir das semanas de stress anteriores. Aproveitei o bom tempo, apanhei sol, fiz muitos bolos e investi em experiências gastronómicas, treinei quando me apeteceu, vivi a família e fiz todas as compras online necessárias para a próxima etapa.
Terceira Fase: A REACÇÂO
Entretanto, arranca o terceiro período escolar e eu sinto-nos mais preparados e mentalizados. Ao mesmo tempo, começamos que começamos a ouvir falar de desconfinamento e começam a surgir as primeiras medidas que nos vão permitir sair de nossas casas ou, pelo menos, a deixar de ter o peso que a quarentena obrigatória representa. Só a ideia de saber que não podemos sair de casa ou que existem regras para o fazer, psicologicamente, mexe connosco, afinal, sempre vivemos em liberdade.
Já sabemos que o contacto físico vai manter as mesmas regras de precaução, portanto, beijinhos e abraços só para mais tarde. Abriram as primeiras lojas, mas apenas de bricolage, e, embora não tenho ido, só de o saber, já me sinto mais feliz – o poder do efeito psicológico é real – precavi-me com máscaras e demos, após mais de um mês em casa, as primeiras saídas à rua, duas no total.
Foi uma espécie de tentativa de reconhecimento do mundo lá fora e de preparação para aquilo que nos espera. Foram passeio curtos, de bicicleta, mas que representaram uma novidade nos nossos últimos dias e isso trouxe-nos a todos um bocadinho de alento e de motivação para levar isto até ao fim.
Entretanto, voltar a ter uma rotina, mesmo que em casa, ajuda a uma melhor gestão do tempo. Os dias são mais fácies de levar e passam igualmente mais rápido. Durante a segunda semana de férias estávamos bastante entediados, crianças incluídas.
Espero que esta pandemia não nos traga mais surpresas e que agora tudo se resuma aquilo que todos nós aprendemos durantes estas longas semanas de quarente, aquilo que vivemos, sofremos e mudamos. A necessidade de bom senso e de prudência é imperativa e quero acreditar que todos nós queremos o mesmo: conquistar alguma normalidade, dentro desta nova realidade, porque a verdade é esta: existe um elemento novo nas nossas vidas e no nosso quotidiano. Este vírus tornou real muitos dos nossos receios e até aquilo que pensávamos impossível de acontecer. Para vencermos isto e não repetir a experiência de uma quarentena obrigatória é preciso sair de casa com precaução, gozando a liberdade que temos, mas respeitando as regras para a conseguirmos manter.