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As viagens dos Vs

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As viagens dos Vs

Os comportamentos que se perpetuam nos exemplos que (lhes) damos.

O Racismo: A Outra Pandemia Que Aflige A Humanidade

02.06.20 | Vera Dias Pinheiro

racismo, black lives matter

 

Hoje é um daqueles dias em que, face ao que se passa no mundo – na minha opinião, outra pandemia, a do racismo e das suas vítimas - qualquer assunto que se aborde parece inoportuno e desapropriado.

 

Contudo, quando soube o que se tinha acontecido nos EUA, a morte por asfixia de George Floyd, quando vi os vídeos e todas as imagens aterradores de quem está a assistir ao vivo a uma morte – seja de um branco ou negro – de forma silenciosa e impotente, é já incompreensível, quanto mais sequer pensarmos na agravante de ser um acto racista. E, naquele momento, foi automático a forma como revi na minha mente, um episódio da série da Netflix, Orange is the new black.  

 

Foi, sem dúvida, uma das melhores séries que vi. Para quem não viu, e muito resumidamente, é uma série cuja história se desenrola num estabelecimento prisional feminino para pequenos delitos, nos EUA. E houve um episódio marcante e de viragem no motim que estava a acontecer: a morte de uma presidiária negra precisamente da mesma forma e ouvindo-se os gemidos constantes de quem não conseguir gritar “I can´t breathe!”.  

 

Na altura fiquei chocada e incrédula, mas era ficção. Porém, quando nos apercebemos que o mesmo pode acontecer, em pleno século XXI, em plena rua… é um murro no estômago.  E eu penso: “em que raio de mundo estou eu a educar os meus filhos?” Fala-se tanto de progressos e de evoluções… e, afinal, que mundo é este em que vivemos? Em que a estas mortes, se juntam tantas outras sem motivo ou justificação, sem idade ou género ou raça?

 

Acabamos de sair de uma pandemia, que nos obrigou a todos a ficar fechados em casa. Durante esta pandemia conseguiu-se travar o consumo exagerado, atingimos os níveis mais baixos de poluição, recuperamos tradições e o “shop local”, apoiamos os pequenos produtores, fomos obrigados a separar o supérfluo do essencial, tal era a privação a que fomos sujeitos, seja da companhia de pessoas que amamos, seja de  coisas tão básicas como assistir ao pôr do sol. E se no meio da desgraça que foi, estes valores que emergiram não seriam um bom indicador da uma mudança geral da Humanidade? Afinal, falamos de uma pandemia mundial, em que o factor “poder económico” não teve qualquer impacto nas consequências da Covid-19.   

 

Se calhar, foi mais uma tempestade, um pouco mais forte das que tínhamos vivido até aqui e que, a partir de agora, seguimos a nossa vida, focado no nosso umbigo e no nosso egoísmo. Será? Será vamos meter prega a fundo novamente e esquecer a lição que alguém muito acima de nós deu? Uma espécie de abre olhos para um futuro melhor?

 

Há quem me ache branda e tolerante de mais, que me insurgo pouco sobre as coisas que estão mal. Contudo, eu olho para este mundo assustadoramente cruel e frio que a única forma de me sentir “activa” no combate a isso é com a minha tolerância. Com o facto de não me insurgir por cada coisa que ouço e com a qual não concordo, com as asneiras que se cometem no trânsito, por evitar os confortos cara-a-cara. Porque, no final do dia, quando me deitar, é a paz que quero ter comigo e essa tal tolerância me ajuda a viver em paz comigo e com os outros que estão à minha volta, então, que seja assim. E que seja assim com os meus filhos!

 

Mas desenganem-se se pensam que tolerância é sinónimo de silêncio e de compactuar com atitudes ou pensamentos racistas sejam eles de que natureza forem. Todavia, não tenho dúvidas que continuamos a ter comportamentos em sociedade que continuam a perpetuar esse tipo de actos e para que, em pleno século XXI, ainda se discutam os direitos das mulheres, os direitos das crianças e o racismo. As cores, os tabus, as reacções, ainda que não verbais, mas físicas, os desconfortos, os padrões sociais nunca desfeitos… coisas “sem importância” que continuamos a passar às gerações mais jovens e a perpetuar diferenças e assimetrias.

 

Ser tolerante é para mim algo tão simples quanto dar a mão a qualquer pessoa que precise de ajuda, a olhar para trás antes de fechar a porta para ver se vem alguém, a respeitar o meu espaço, sem interferir no do outro, a aceitar que somos todos diferentes, mas todos temos os mesmos direitos.

 

Ainda assim, é incrível como ainda é tão difícil perceber que nada disto implica ter que conviver ou gostar, não! Tolerância é respeitar e deixar estar com a mesma liberdade que eu tenho para aqui andar! Só isso!

 

 

 

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