O significado dos dois anos (das crianças) para mim
É, pela segunda vez, que estou com um filho em casa a tempo inteiro, filho esse que chegou à barreira dos dois anos. Da primeira vez, era tudo uma novidade e é verdade que estava dedicada em exclusivo ao Vicente. Fiz uma pausa em tudo na minha vida, menos na viagem da maternidade que, naquele momento, se iniciava. Foi intenso, absorvente e aprendi muito com o Vicente. Aprendemos a fazer tudo em conjunto e eu fiz daquele período uma forma de lhe ensinar tudo aquilo que eu entendia ser necessário a um bebé nos primeiros anos de vida.
Pinturas, actividades várias, jogos, passeios, brincadeiras... tantas coisas que fizemos em conjunto, tantas conversas que tivemos e, não menos, muitos pedidos de ajuda e de compreensão da minha parte. Eram os nossos dias, os meus em função dos do Vicente e dos seus horários - que, mesmo assim, eram bastante certinhos, o que me permitia, mais ou menos, planear os dias e o que fazer. Felizmente, conseguia saber quando podia tomar banho, quando podia comer, quando podia não me esquecer de mim, etc...
Regressamos a Portugal e o Vicente completou os dois anos de idade e eu lembro-me, como se fosse hoje, do dia em que liguei ao meu marido dizendo que não conseguia mais. Lembro-me de lhe pedir que arranjássemos uma creche para o Vicente pois eu sentia que, a partir dali, já não iria conseguir cumprir aquele papel da forma, como até então, eu tinha feito e, acima de tudo, da forma como eu acho que uma criança merece quando está em casa.
Porque eu nunca senti que os meus filhos fossem menos simpáticos, menos desenvolvidos ou menos qualquer outra coisa por estarem em casa. Talvez porque me dedico a 200% naquela missão, sento que lhe devo dar o melhor de mim e que eles não podem ser privados de todas as oportunidades, de todas as brincadeiras e de explorar tudo o que têm para explorar à medida que vão crescendo e à medida do que as diferentes idades vão exigindo. Contudo, eu assumo que tenho um limite e que esse limite são os dois anos.
Com essa idade a exigência é gigante, a necessidade de serem entretidos e aquilo que exigem de nós leva-nos tudo aquilo que temos e não temos. Já dormem menos, já brincam mais e já reclamam mais também. E eu sinto que a minha disponibilidade já deixa de ser a mesma, a minha capacidade para passar o dia a brincar já não é a mesma e a minha vontade de ter mais tempo para mim aumenta.
Com efeito, se me perguntarem se existe uma idade ideal para as crianças entrarem na escola, eu diria os dois anos. Exactamente, nem um, nem três. São os dois anos! Mas, por outro lado, acho realmente importante para o seu desenvolvimento este contacto mais prolongado com um dos progenitores. Até ao primeiro ano de idade o tempo voa e é precisamente o período em que mais coisas acontecem, em que as coisas mais importantes acontecem. As primeiras papinhas, as primeiras palavras, os primeiros passos, as primeiras gracinhas, os primeiros tudo! Estar lá sempre em cada um desses momentos é uma bênção – pelo menos, para mim é. E tive medo que, com a Laura, tivesse que ser diferente, confesso. Com a incerteza de como seria a minha vida profissional e a possibilidade de voltar ao antigo emprego, não teria nada disso. Faria como a maioria das mães, porém sabendo o que era ter tido a experiência de estar com um filho mais do que apenas os quatro ou cinco meses de idade.
É certo que a minha disponibilidade com a Laura também já foi menor, é verdade que tive sempre a trabalhar e que o primeiro ano dela foi o meu primeiro ano a sério como trabalhadora independente. Corri muito de um lado para o outro, também dormi muito pouco, mas valeu a pena, sem dúvida. Não trocaria por nada tudo o que mudou na minha vida desde que fui mãe pela primeira vez. O tempo corre com a certeza que não volta atrás e que, por eles, vale mesmo tudo a pena, por cada segundo a mais do meu tempo com eles, vale tudo a pena.
Porém, e pela segunda vez, chegamos à barreira dos dois anos e está na hora da Laura sair debaixo da minha asa. E tal como me tinham advertido, por ver o irmão todos os dias a ir para a escola, ela própria pede para ir, coloca-se em frente da porta todas as manhãs impedindo a saída como sinal do seu protesto por ter de ficar em casa.
A matricula já está feita e a expectativa já é muita. Acho que os dias já são pouco para ele, para a necessidade que ela tem. Por isso, é que há todo um novo dia que para ela recomeça a partir da chegada do Vicente a casa. A minha missão está cumprida pela segunda vez, mas também é bom quando sabemos identificar as nossas fraquezas, o momento a partir do qual já não vamos conseguir dar o suficiente. Porque isto de estar em casa com filhos, não é só estar. É um trabalho diário muito intenso, sem pausas e sem férias e quem disser o contrário não sabe do que fala.