Não são os recém nascidos que dão trabalho
03.11.16 | Vera Dias Pinheiro
Para mim, o que dá mais trabalho não é o recém-nascido. Para mim, o trabalho que um filho nos dá, só vem mais tarde.
No início existe uma adaptação, às vezes, um choque de realidade. No início, é preciso tempo para conhecermos o bebé e o bebé nos conhecer a nós. É preciso tempo para nos adaptarmos fisicamente à nossa nova realidade, aprender a lidar com a privação do sono, com os horários trocados, com a ausência das nossas rotinas, em prol das rotinas do novo membro da família.
Nos primeiros meses, existe uma certa calma subjacente a tudo o que está a nossa volta, ainda que na realidade tudo esteja o caos. Mas existem os sentimentos que transbordam do nosso peito, a ocitocina, aquele amor, aquele silêncio porque há um bebé em casa, aquele cuidado por parecer tão frágil e delicado. Escutam-se todos os barulhinhos que faz enquanto dorme, observa-se tudo até ao mais ínfimo pormenor.
Os primeiros tempos são de um namoro sem fim, quase total e absoluto. As horas que passa a dormir são superiores às que passa acordado e, quando acorda, há pouco mais a fazer do que: dar de mamar/biberão, mudar a fralda e colocar para arrotar.
Os primeiros tempos são de um namoro sem fim, quase total e absoluto. As horas que passa a dormir são superiores às que passa acordado e, quando acorda, há pouco mais a fazer do que: dar de mamar/biberão, mudar a fralda e colocar para arrotar.
Passados estes tempos de recém-nascido, de namoro e em que nós ainda estamos imbuídos por uma total e absoluta névoa de amor e de ocitocina, o próprio bebé começa a despertar aos poucos para o que o rodeia. Primeiro, começa por reconhecer apenas a mãe, o pai, os irmãos e, rapidamente, tudo o resto que está a sua volta. Começa a exigir atenção, já não se contenta com o leite para adormecer, reclama e reclama muito e não é pelas necessidades básicas como antes. Aos sete meses de Laura é cada vez mais difícil fazer alguma coisa que não tenha a ver com ela. E se não estou directamente com ela, estou a fazer alguma coisa relacionada com ela, como por exemplo, a preparar a sopa e fruta para o almoço; o lanche - e juro que não percebo como é que, neste momento, é a "lida da Laura" que deixa a nossa cozinha na maior confusão - é a roupa que se suja mais; são as coisas que acabam por ficar espalhadas, pois é cada vez mais raro conseguirmos fazer uma coisa do início ao fim, sem interrupções.
Ela não come grandes quantidades, é certo; também não são precisos muitos ingredientes, é certo; são apenas duas refeições sólidas por dia, igualmente certo - graças a Deus que o resto ainda é só amamentação - mas todos os dias, à hora de almoço e do lanche, o caos instala-se! São os pratos, as várias colheres - uma para ela, um para mim e outras para substituírem as que caem ao chão; são os babetes, é o que cai ao chão e ela que fica toda suja, porque afinal, tudo isto faz parte de uma aprendizagem; é ir a correr para a casa de banho no final, para limpá-la e, muitas vezes, trocar de roupa, mudar a fralda e o mais certo é ter que ir dormir a seguir, mas se não for dormir, precisa de atenção e assim, num curto espaço de tempo passaram-se horas e a cozinha mantém o aspecto de quem acabou de sofrer um ataque qualquer.
Depois, seguem-se as sessões de brincadeiras intermináveis e de novos estímulos, que nos absorvem por completo, pois, a cada dia, há uma gracinha nova, uma nova habilidade que aprendem a fazer e a que nós não conseguimos resistir. Fora isto, há todo o resto da casa que é preciso ir fazendo diariamente e, agora, junta-se um outro filho!
Depois, seguem-se as sessões de brincadeiras intermináveis e de novos estímulos, que nos absorvem por completo, pois, a cada dia, há uma gracinha nova, uma nova habilidade que aprendem a fazer e a que nós não conseguimos resistir. Fora isto, há todo o resto da casa que é preciso ir fazendo diariamente e, agora, junta-se um outro filho!
O grande desafio - dentro deste outro grande desafio, os filhos - é conseguir encontrar tempo para nós, aquele tempo que é fundamental ao nosso equilíbrio e ao nosso bem-estar. Na minha experiência de mãe em regime de full-time - que entre todas as coisas maravilhosas que tem, acaba por nos fazer sentir a responsabilidade de termos que estar sempre presentes - a primeira vez que me ausentei foi para ir ao cinema. Fui sozinha, ao final da tarde, tinha o Vicente cerca de oito meses. Devo ter questionado mais de 100 vezes o meu marido se tinha a certeza de que ficavam bem sem mim e repetido mais de 200 vezes que podia vir a correr para casa assim que fosse preciso.
A partir daí foi ficando mais simples e mais fácil e fui voltando a aprender a saborear aqueles momentos de mulher e não de mãe, sem ter a cabeça em casa. O difícil continua a ser quando estamos em casa, com eles, conseguir conciliar tudo sem perder o tempo para nós!
P.s n.1: Um desabafo de quem já não se lembrava da quantidade de loiça que estas pessoinhas sujam quando começam a alimentação complementar. :)
P.s n.2: De referir que são fases "delicosamente" caóticas.
A partir daí foi ficando mais simples e mais fácil e fui voltando a aprender a saborear aqueles momentos de mulher e não de mãe, sem ter a cabeça em casa. O difícil continua a ser quando estamos em casa, com eles, conseguir conciliar tudo sem perder o tempo para nós!
P.s n.1: Um desabafo de quem já não se lembrava da quantidade de loiça que estas pessoinhas sujam quando começam a alimentação complementar. :)
P.s n.2: De referir que são fases "delicosamente" caóticas.