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As viagens dos Vs

Mulheres nutridas, famílias felizes

As viagens dos Vs

Não gostaram que tivesse demasiado "mundo"!

11.10.18 | Vera Dias Pinheiro

o que significa ter demasiado mundo

 

Uma das últimas coisas que me disseram, no Departamento de Recursos Humanos quando entreguei a minha carta de demissão, foi que, ali, pessoas como eu, não eram bem vistas. Franzi a testa, intrigada… como assim “como eu?”

 

A Vera tem mundo! Tem demasiado mundo, tem uma vida preenchida fora daqui e isso não é bem visto!

 

Nunca conseguirei entender isto, seja nesta ou noutra situação qualquer, e a única conclusão a que cheguei, foi a certeza de que aquela era a decisão mais acertada de toda a minha vida. Não posso deixar de ser quem, não posso alhear-me desse meu mundo - e nem quero. É graças à minha experiência de vida e a tudo o “mundo” que alcancei que eu estou bem comigo mesma. O balanço que eu faço, mesmo nos períodos mais difíceis e com mais problemas, é que eu me basto a mim mesma. Não me consumo com a vida dos outros, não julgo porque é que uns têm e outros não. Acredito que há espaço para todos e pessoas positivas e realizadas alcançam sempre alguma coisa de bom. Não valem a pena as comparações, não valem a pena os lamentos ou estarmos sempre desconfiados em relação ao próximo.

 

O meu “mundo”, como me disseram, faz-me querer ser a melhor pessoa para mim. Fez-me a aprender a gostar de mim e sou ainda mais feliz por não ter expectativas dos outros. E o respeito é isto, é aceitar que uma pessoa é livre de tomar decisões diferentes das minhas, até de ter menos mundo que eu – sei lá o que isso quer dizer – e isso não faz dela uma pior pessoa ou um alvo a abater.

 

O meu “mundo” começou na educação que os meus pais me deram - e que tento dar aos meus filhos. O meu mundo começou por aprender a não culpar os outros e por aprender a resolver os meus problemas. Sei que nem sempre tomei as melhores decisões, mas também não voltaria atrás para fazer de forma diferente. Foi tudo isso, o bom e o menos bom, que me fez aprender tudo aquilo que aprendi. Aprender todos os dias a ser um melhor ser humano. A errar e a voltar a tentar, sem pretensões de ser quem não sou e/ou de achar que sou melhor do que os outros.

 

Quando me disseram que tinha demasiado “mundo”, achei a coisa mais descabida da vida! Chegava a ser ridículo. Como é que uma empresa não pode desejar pessoas com mundo? Com vontade de trazer esse mundo para aquela empresa? E com vontade de trabalhar? Mas independentemente disso, que o que isso de "tem demasiado mundo para esta empresa"?

 

Antes disto, já me tinham acusado de fazer os meus colegas sentirem-se mal com a minha vida. De mim, uma trabalhadora que gozava de uma licença sem vencimento, um direito nos estatutos de todos nós, eu estava a incomodar os meus colegas de trabalho… Como assim, gente?! Em que mundo vivemos, afinal?  

 

Eu não sou mais do que ninguém, mas se ter mundo é viajar e não ter medo do desconhecido, só posso dizer que jamais me arrependerei de ter ido viver para Bruxelas e que irei agradecer, para sempre, aos meus pais a oportunidade de fazer Erasmus. Se ter mundo é não ter medo de arriscar e de explorar ao máximo as minhas capacidades e de me reinventar, lamento, mas é essa a minha natureza. Tenho demasiadas ideias na minha cabeça para simplesmente as fechar à chave numa parte do meu cérebro, porque incomoda que eu pense pela minha cabeça. E sabem que mais, é essa a educação que eu dou aos meus filhos e, se um dia, eles tiveram que se deparar com uma situação assim, que não tenham medo e que saltem fora!

 

Quando não é a vontade de trabalhar que nos aflige, encontraremos sempre forma de dar a volta. E o medo, que também sentimos, será sempre inferior à vontade que temos de ser felizes e de nos sentirmos realizados.

 

A minha ansiedade com a passagem do tempo também tem muito a ver com isto. Eu quero ser feliz hoje, eu quero que os meus dias tenham um sentido. Quero sentir-me gente de verdade, quero poder ser quem sou, porque isso não afecta o meu trabalho e nem a minha consciência do meu lugar e do meu papel, muito pelo contrário. Não quero viver aquém das minhas capacidades.

 

Se ter mundo é não ter ficado desleixada após ter sido mãe, eu já não o era antes. Se ter mundo é ter oportunidades, algumas muito boas, isso é trabalho, não é sorte. Se ter mundo é ter opinião própria, isso não é arrogância, é personalidade. Se ter mundo e estar tão entretida com a minha vida, que apenas me aborrecem as coisas que realmente valem a pena o esforço, então, façam o mesmo! A vida é demasiado curta para passarmos os nossos dias a consumirmo-nos com o que os outros fazem.

 

Saiam dos vossos empregos a tempo de ir buscar os vossos filhos à escola, coloquem-se como prioridade e cuidem de vocês sem culpa, olhem para o dinheiro como um bem utilitário e tenham mais tempo de qualidade.

 

Não existem duas oportunidades. Não vivemos o mesmo dia duas vezes. Preocupem-se com o meio ambiente e com as questões ecológicas; questionem-se o porquê destes fenómenos políticos acontecerem cada vez mais, o porquê destes homens, com ideias tão distantes daquilo que esperaríamos, estarem a assumir posições de grande poder. Preocupem-se com o legado que querem deixar aos vossos filhos. Sejam o melhor exemplo que eles podem ter.

 

Tenham todo o mundo que vocês desejem, porque vocês merecem!

 

Boa noite!

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2 comentários

  • Eu é que agradeço a cada pessoa que partilha comigo uma história semelhante. Tem sido a melhor terapia e também o melhor incentivo a perder o medo de falar. Desejo as melhores felicidades para a sua vida. E parabéns por se desafiar <3 um beijinho
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