Não foram de pijama para a escola, mas o importante está lá!
Não sou a mãe que enche os filhos de roupas da moda, que lhes dá os presentes topo de gama ou que vira o mundo do avesso para satisfazer os seus desejos. Mas sou a mãe que incentiva as actividades ao ar livre, que viaja menos para poder levar sempre os filhos, que quer que tenham as melhores festas de aniversário de sempre e por aí a fora. E sei que sou a mãe que os tem como prioridade, como tal, sei que os poupo as muitas coisas e que têm muitos benefícios por isso.
Contudo, não sou mais nem menos que outras mães. O tempo de qualidade é algo que se constrói e, na maioria das vezes, não é preciso muito tempo. Basta que seja bem aproveitado. Basta que o tempo que tenhamos para passar com eles seja vivido a full-time.
E os meus filhos têm, ao mesmo tempo, muita sorte. São crianças que recebem alguns presentes de marcas, são os primeiros a ver muitos espectáculos e a ter acesso as várias experiências. É uma sorte excepcional e foi muito por causa disso que, há três anos atrás, decidimos trocar os presentes de natal por viagens. E se fosse a pensar no que gastamos financeiramente, é bastante mais dispendioso financeiramente. Contudo, a balança pende mais para o outro lado, o lado das coisas que ganhamos e que dinheiro algum pode comprar.
O tal tempo de qualidade com os pais, a full-time, a noção do tanto que há para descobrir, conhecer outras coisas e aprender a valorizar algo que tem muito de imaterial. As memórias que guardamos, as recordações que ficam e as experiências que temos.
E, pelo meio disto, tudo a gratidão, esse sentimento tão poderoso que é capaz de nos fazer mudar de percepção do mundo. O valor das coisas é algo que, nas crianças, é muito relativo e quanto mais têm, mais querem e mais fácil acham que é o acesso às coisas. Às vezes, torna-se muito frustrante o papel de pai e mãe, porque parece ser tudo insuficiente – mas será que é assim por terem demasiado?!
Contudo, também é verdade que não queremos que os nossos filhos sejam privados de nada e que hoje em dia há acesso a muito mais coisas, seja pelo poder económico, seja pelo desenvolvimento da sociedade. E se assim é, até será normal que naturalmente acabem por ter mais coisas, verdade?
Portanto, eu acho que a única forma é explicando precisamente a diferença entre os meninos e para isso não são precisos dias específicos. Não precisamos de esperar que chegue o Dia Nacional do Pijama ou o Natal ou outra ocasião qualquer. Resulta, a meu ver, muito melhor, quando certas coisas se tornam um hábito. Para o meu filho é certamente difícil compreender que possam existir crianças que não tem um lar ou que nem sequer vivem com os seus pais. O meu filho já observa e intriga-se, por exemplo, se vê um menino numa cadeira de rodas ou com alguma necessidade especial. Pode haver vocabulário que, para ele, seja ainda difícil de entender, mas seguramente que já tem percepção da diferença. E é por isso que eu faço questão de fazer com ele - e com a Laura - a separação de brinquedos e de roupas e explicar para quem vai. E a verdade é que já nem preciso de dizer, o próprio Vicente já me lembra quando há coisas com as quais já não brincam.
Para mim a questão não está propriamente no ter ou não ter, a questão está na mensagem que passamos ás crianças e de que forma eles encaram tudo isso. Eu não sei o dia de amanhã, o que eu sei é que hoje somos nós que podemos dar brinquedos e roupas e tantas outras coisas a amigos que precisem ou a instituições. Por isso, nada me faz mais sentido do que simplesmente dar!
No fundo, desejo que esta altura seja vivida mais em torno de experiências e não tão centrada no consumo. Ou, então, que o consumo seja orientado nas experiências dos mais pequenos.
Por fim, que não nos esqueçamos nunca que aquilo que as crianças mais procuram é a nossa atenção. E hoje, por exemplo, em véspera de mais uma viagem do pai, pedi-lhe que fosse ele a ir buscar o Vicente e a Laura à escola. E sei que, embora tenham saído um pouco mais tarde do que o habitual, que valeu totalmente a pena terem visto o pai de surpresa a entrar na sala deles.
Bom… e tudo isto porque apercebi-me que na escola do Vicente e da Laura não se assinalou o Dia do Pijama!
Boa noite!