Não foi bem assim que imaginei os nossos últimos dias em Portugal...
Sem Santos Populares, sem Feira do Livro e sem outras pequenas coisas às quais tive que dizer não ou mesmo cancelar, porque a verdade é que foi preciso abrandar o ritmo no meio do caos da mudança.
Estava tudo controlado e havia tempo para tudo, mesmo que sempre a correr de um lado para o outro. Porém, de um momento para o outro, fui obrigada a parar e a recomeçar com calma. E nesse processo tive que ganhar forças para definir prioridades, escolher o devo ou não fazer e, acima de tudo, perceber em que medida é que em determinadas situações estava ou não a agir mais prol dos outros do que de mim mesma.
É que eu sou esse tipo de pessoa. Sou aquela pessoa que facilmente dá por si a fazer as coisas mais pelos outros do que por si mesma. E sem coragem para dizer um não!
Contudo, nesta recuperação, sou constantemente alertada para a necessidade de dosear os esforços e a intensidade com que faço as coisas. Mas há coisas das quais eu não posso fugir, nomeadamente cuidar dos meus dois filhos, que só isso já é trabalho suficiente; o meu trabalho e toda a transição necessária de ser feita e, por fim, e não menos importante a mudança. E assim percebi com clareza que estas são as minhas prioridades e onde devo investir as minhas forças.
E uma mudança deste género, quem já passou por isso saberá, não é feita de animo leve, não se trata apenas de colocar tudo em caixar e pronto! Comecei cedo a planear, organizar e também a destralhar. O que, por um lado, foi a melhor ideia que podia ter tido, mas, por outro, tem vindo a tornar a nossa vida cá em casa cada vez mais caótica, desarrumada e confusa. E não é fácil lidar com isso, nunca é, mas nesta recta final, começo a sentir-me mais nervosa e ansiosa.
Mas não sou apenas eu, o Vicente e a Laura também. Os dois passam os dias a brincar aos aviões e a perguntar quando vamos no “avião para Bruxelas” ou, por exemplo, quantos dias ainda vão estar na escola. Ai!!! É muita pressão! Muita mesmo!
A esta altura do campeonato, já não existe propriamente vontade de estar nesta casa e contam-se os dias para que comecem a encaixotar e levar coisas daqui. O trabalho que temos pela frente é ainda muito, porque as coisas parece que se multiplicam, tanto as que são para destralhar, como as que são para levar. Torna-se desesperante não conseguir colocar uma ordem, um início é um fim. É tudo um caos!
Entrentanto, os dias passam-se, a data aproxima-se rapidamente e fica, no entanto, uma certa pena por não ter aproveitado os últimos dias por aqui tal como tinha planeado. Para além disso, tive que deixar de treinar, algo que me faz tão bem a cabeça e a tudo; os encontros que tive desmarcar; o arraial de Santo António onde queria levar os miúdos; a Feira do Livro, uma paragem obrigatória todos os anos...
Vejo-me apenas rodeada de caixas e mais caixas, de coisas fora do sítio e sempre em grande esforço para manter a calma, todos os dias, de manhã à noite. Contudo, a recta final custa sempre mais, não é verdade? Pelo menos sempre ouvi dizer que sim.
Houve alguém que comentou o seguinte:
“Por vezes, há momentos em que sentimos que a nossa vida está sem “suspenso”. Quando finalmente, chegarem a Bruxelas a vida volta a fazer play e recomeçam do ponto onde estavam antes de tomar a decisão da mudança. E vida volta a girar e as rotinas voltam ao dia-a-dia. E a nova casa “volta” a ser a vossa casa/lar.” Uma seguidora nesta fotografia.
E, talvez, seja mesmo isso, porque, neste momento, vivemos dividimos entre cá e lá. Despedir-nos de cá e instalar-nos lá, e sim, esta parte envolve muita burocracia, desde documentos, de assuntos relacionados com a casa e com as escolas. E, desta vez, vou com outras preocupações, afinal, agora vou com duas crianças crescidas e não podemos cair lá de para-quedas. Se há coisa que quero garantir é que sintam em todo este processo segurança, tanto quanto possível nesta primeira fase. Por isso, temos feito todos os esforços para ter tudo tratado antes de chegarmos com eles e tem sido uma loucura.
Mas agora estamos mesmo quase! Estamos a poucos dias, pouquinhos mesmo de se dar o tal “click” e as coisas voltarem a engrenar. Ainda não consigo respirar de alívio, contudo já vislumbro uma luz ténue ao fundo do túnel.