Mulheres Reais é o não assunto do momento!
Para mim, mulheres reais é um não assunto a não ser que alguém me consiga definir exactamente o conceito de mulher real e o que quer isso dizer no nosso dia-a-dia. É que pelo que tenho visto nas redes sociais, as vozes levantam-se para dizer que as mulheres reais são as mulheres que mostram as suas formas mais generosas, que mostram a beleza de um corpo pós-parto – sim, é beleza, mesmo que o tentemos esconder e fazer com que passe o mais rápido possível (eu incluída) – que não encolhem a barriga e por aí a fora. Está tudo certo, mas já acompanhei de perto o drama de pessoas que eram magras demais, que sofrem de bullying e críticas por serem demasiado magras, acusadas de serem anoréticas ou bulímicas, quando na verdade, se pode tratar apenas de um biótipo de corpo.
Não sei se perceberam, mas todas nós temos corpos, hábitos e genéticas diferentes e por muito que se queiram comparar, que comam o mesmo que outras mulheres comam e que façam os mesmos exercícios no ginásio que elas, isso não vos transformará de forma idêntica a ninguém.
Eu sei que ninguém me perguntou nada, mas acreditem que o Instagram, em particular, causa uma pressão danada em todos nós, em quem “influência” e em que segue esses influenciadores. Mulheres reais para mim não é um dia assumir que estão contentes com a sua barriga e no outro partilharem que estão a fazer um detox a pensar no biquíni. Mulheres reais, para mim, não é fingir que são uma barbie e usar todos os filtros para afinar ou esconder aquilo que não gostam.
Após o parto do Vicente, estava empenhada em recuperar a forma física, no Instagram (lá está) seguia todas as pessoas do fitness, com corpos com os quais eu sonhava, seguia perfis dedicados à nutrição e à alimentação, na maioria eram pessoas como eu, sem qualquer formação específica na área e sabem que mais? Ao fim de um certo tempo, eu vivia frustrada. Frustrada se havia um dia que não conseguia ir ao ginásio, frustrada se ia mas os resultados não apareciam – afinal, eu via transformações brutais em 3 meses, mas que só aconteciam aos outros – frustrada se tinha comido um fatia de pão, ao mesmo tempo que percorria o meu feed e só via fotografias de comidas saudável e proteicas. Ao fim de um certo tempo senti necessidade de fazer um detox digital e afastar-me daquela pressão que, no fundo, era tão ou mais irreal do que eu.
O objectivo estava lá - encontrar o equilíbrio em que cuidar de mim, conseguindo ter a mente e o corpo em sintonia. Mas era preciso libertar-me das amarras do que outros querem mostrar e das histórias (irreais) que criam. Era preciso fazer as coisas por mim, sem a minha censura e a minha autocrítica.
Mulheres reais, para mim, são aquelas que dão voltas e mais voltas para conseguirem cuidar de si ao mesmo tempo que lidam com todas as outras tarefas e obrigações. São aqueles para quem a sua imagem é importante. Actualmente, vou ao ginásio sempre que posso – se posso todos os dias, são todos os dias, se são apenas dois ou três, são essas as vezes que eu treino – e admiro quando vejo um grupinho de senhoras que encontro nas aulas de Pilates, todos os dias a treinar. Acho que devem ter perto dos 50 anos, porque a idade está lá, mas percebe-se que são pessoas que se cuidam e com uma boa auto estima. Estão ali porque procuram o melhor de si, independentemente da idade, olhar-se no espelho e gostar daquilo que vêm.
E, afinal, que mal tem isso? Porque é que as magras são anoréticas e aquelas que vão ao ginásio, só o fazem porque não têm mais nada para fazer? Ou porque é que a mulher que acabou de ser mãe tem que justificar a sua “falta de forma física”? Vivemos em democracia e só não vale desleixarmo-nos e culparmos os outros que conseguiram aquilo que nós não temos a coragem de sequer tentar.
Mulheres reais é um não assunto, tal como as mães reais e mais ainda toda esta necessidade de justificar a normalidade. É normal! Somos todas normais e todas nós, mulheres normais, encontramos sempre defeitos, vamos sempre querer mais, vamos sempre sentirmo-nos insatisfeitas. É a natureza do ser humano! Mas o pior, o pior, para mim, é a crítica vem de dentro de nós, acabando por se espelhar na mulher que está ao nosso lado. A questão é só uma: se ela consegue nós também conseguimos!
Se é mais confortável não fazer, comer aquilo que nos apetece - porque é só daquela vez - tudo isso é valido! É uma escolha pessoal, com consequências para nós mesmas. O que ele não percebe é esta constante necessidade de justificação e de modas. Ainda há pouco tempo, era moda de parir e ir a correr para o ginásio e fotografia a barriga quase negativa em poucos meses. Depois, seguiu-se a moda assumir essa mesma barriguinha, sem pressões. E agora queremos ser todas reais, quando isso é uma verdade válida apenas para as redes sociais. Porque lá bem no fundo, continuamos (e continuaremos) a querer ser melhor.
Já viram a pressão, que apenas por nossa culpa, somos obrigadas a viver? Vivam a vossa melhor vida! Façam o melhor por vocês, porque merecem isso. Comam bem porque sabem que isso é a melhor forma de cuidarem do vosso corpo e de serem pessoas saudáveis; ensinem os vossos filhos a fazer o mesmo e não será preciso pensar em dietas ou lidar com problemas de auto estima no futuro; façam o exercício que gostam, porque isso transforma o vosso corpo, mas liberta endorfinas e o vosso humor transforma-se e, no final, ficam com aquela sensação boa de que fizerem algo por vocês.
Não se acomodem aquilo que não gostam, não adiem, porque quanto mais tarde pior, mas também não se escondam, aprendam a valorizar-se, a moda somos nós que a fazemos. Ninguém nos obriga a andar vestidas de igual, escolham a roupa que melhor vos favorece e sejam mulheres confiantes! Partilhem as fotografias em que mais gostem de ser ver, usem os filtros que quiserem para, por exemplo, dar mais luz ou acentuar as cores, mas não se transformem em barbies irreais, porque, no fundo, só vocês sofrem com isso. Sofrem por não conseguir atingir um ideal que não existem.
Vamos parar com este assunto e por na cabeça que está nas nossas mãos fazer o melhor por nós, não esquecendo que somos todas diferentes, mas que, na nossa medida, procuramos o melhor.Vejo muita autocrítica nas redes sociais, pessoas que se culpam por terem engordado, por não conseguirem fazer exercício. Pessoas que sentem necessidade de aprovação dos outros. Sabem?
O difícil é encontrar a paz interior e era precisamente disso que deveríamos andar todas à procura. E não, ela não se encontra nas Redes Sociais. Eu levei cinco anos a encontrar a minha, a estar de pazes feitas com o meu corpo e sentir-me bem na minha pele. O meu corpo é o meu templo e, por isso, cabe-me a mim cuidar dele. Quando o comecei a tratar bem, ele respondeu. Estou em paz e vivo a vida de bem com aquilo que sou, sabendo, todavia, que este trabalho (de autocuidado e de amor próprio) é diário e é feito longe dos holofotes.