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As viagens dos Vs

Mulheres nutridas, famílias felizes

As viagens dos Vs

Fiz 37 anos e tive zero de vontade para os festejar!

17.02.20 | Vera Dias Pinheiro

sem vontade para festejar o aniversário

 

Fevereiro até é um mês querido, mais curto que todos os outros e, de certa forma, é o mês do amor e isso traz sempre boas energias e é o mês do meu aniversário. Tinha tudo para ser um mês querido, mesmo com o frio e a chuva que, a maioria das vezes, assinala esse dia, o 16 de fevereiro. Mas não é e nunca foi um mês que me trouxesse particular alegria.

 

Talvez por ter demasiadas expectativas intrínsecas em cima dele e das datas que nesse mês se assinalam e, no final, os planos saírem todos furados e as expectativas todas ao lado. Este ano não foi de todo a excepção à regra. E, a partir de agora, será para sempre um mês triste, aquele em que vi a minha mãe partir.  Contudo, e se eu acredito que nada acontece por acaso, a minha mãe partiu no mês do aniversario das duas filhas – não fosse correr o risco de ser esquecida por nós, como se isso fosse possível. Mas com a “dependência” dela em relação a nós e a forma como sempre viveu para as filhas toda a sua vida, não deixa de ser curioso.

 

Acima de tudo, quero deixar registado que tenho o meu coração em paz e que se tudo isto aconteceu desta maneira, é para nos ensinar algo e, consequentemente, trazer algo de bom à minha vida. Mas aquilo que eu sinto é uma incapacidade enorme de expressar alegria genuína, de ter vontade para tirar prazer das coisas como antes… fiz 37 anos e tive zero vontade de festejar e se o fiz foi pelos meus filhos.

 

Mas não só… fi-lo também porque durante muito tempo da minha vida e da relação com a minha mãe, eu ficava furiosa com ela quando a via incapaz de tirar partido dos momentos e de ver o lado bom das coisas, independentemente da tristeza e dos momentos difíceis que pudesse estar a passar. Pedia-lhe muitas vezes para olhar para as filhas e para os netos e perceber quão sortuda ela era por ser tão amada e tão requisitada por nós.

 

A minha mãe perdeu a sua mãe ainda mais cedo do que eu, aliás, eu não tenho qualquer memória dos meus avós maternos. E sei que a morte da minha avó nunca foi um assunto resolvida para ela e que nos momentos de suposta alegria, como o natal, os aniversários, etc… era quando ela se sentia precisamente mais triste. Mas eu, ingénua nestas coisas das dores, insistia com ela para ultrapassar essa tristeza e olhar para a família que ela (e o meu pai) tinha construído e que estava ali para ela.

 

E agora, que me sinto desprovida dessa alegria interior, debato-me com a vozinha interna da minha cabeça que me lembra todas as vezes em que tive que ajudar a minha mãe a erguer-se para a vida. E neste processo, sei, com toda a certeza, que não quero acabar nesse lugar e não quero que os meus filhos sintam a mesma pressão (e responsabilidade) que eu senti em relação à minha mãe.

 

Porque, afinal, a vida é feita de ciclos e enquanto são os ciclos naturais a acontecer, então, quer dizer que ainda está tudo bem. É certo que, para mim, este ciclo que fechou, aconteceu demasiado cedo e repentinamente. As coisas foram sucedendo-se, umas atrás das outras, e nós só tivemos tempo de reagir e tentar adaptar. Mas não deixo de me sentir numa espécie de encruzilhada entre o que está para trás, os meus pais, e o futuro, os meus filhos. E independentemente da minha incapacidade em gerir o que sinto, sei que tenho que ter os olhos postos no futuro.

 

Com isto, sinto que se fechou um ciclo e que agora, a minha mãe, onde quer que ela esteja, está munida de tudo o que antes lhe poderia faltar para me poder ajudar no meu caminho. Agora sinto como se não existissem impossíveis para ela. E eu sinto que, para mim, as coisas também mudaram e é bom que eu aceite e encaixa uma nova mudança na minha vida, mesmo que esta de Bruxelas ainda nem esteja completamente ultrapassada.

 

Mas a vida tem-me ensinado que as mudanças são boas, mesmo aquelas que fazemos completamente às cegas, sem qualquer noção do que nos espera. Portanto, posso ter tido zero vontade de assinalar o meu aniversário, posso não ter feito uma mega festa ou jantar, posso ter estado de semblante mais triste e fechado e até “recusado” chamadas só para continuar nesta espécie de bolha em que estou, mas isso não significa que não abrace os meus 37 anos com esperança e muita fé. Não significa que seja um ano deitado fora, nada disso! A vida é para ser celebrada todos os dias.

 

Posso não ligar a datas comemorativas, mas comemoro a vida com a consciência do valor que ela tem e o quão frágil ela pode ser. Estou triste, mas esse é o meu estado, contudo estou grata por tantas coisas boas que tenho à minha volta e, acima de tudo, por ter a capacidade de as reconhecer diariamente e de as agradecer.

 

A vida não se resolve da forma como idealizamos, porém acredito que se confiarmos, mesmo sem entendermos o porquê de certas coisas, no final, tudo fica bem.

E eu ainda não perdi a minha fé!

 

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