Falamos de tudo mesmo | Encontro Barrigas de Amor
17.10.16 | Vera Dias Pinheiro
Deste fim-de-semana queria apenas falar-vos um pouco do Encontro Barrigas de Amor que aconteceu no domingo, na Fnac do Oeiras Parque. Em primeiro lugar, queria agradecer o convite do Barrigas de Amor, pois para além de ser muito gratificante fazer parte desta grande família, ter oportunidades como a de ontem - de falar e de ouvir falar sobre a maternidade tal é como ela é - são momentos que para mim têm um enorme significado. E, em segundo lugar, agradecer a todos os que estiveram presentes. Foi muito bom!
Já praticamente todos conhecem um pouco da nossa história, sabem como foi traumatizante a minha experiência do primeiro parto e com a amamentação e sabem também como tudo isso me transformou, especialmente tendo eu dedicado dois anos da minha vida em total e absoluta dedicação à maternidade e ao Vicente. Levou tempo a entender - acho que o click só aconteceu verdadeiramente com a preparação para o parto da Laura e com o desfecho que tudo acabou por ter - que ser boa mãe está muito para além do tipo de parto, do facto de amamentar ou não, entre muitas outras coisas, porém ouvimos poucas histórias menos felizes e, a verdade é que, elas acontecem e acontecem muito. Durante muito tempo, quando me pediam para falar sobre a minha experiência na maternidade, eu achava que não tinha nada de interessante para dizer e achava que as pessoas iriam ficar a olhar para mim e a pensar "qual é o grande problema de tudo isso, quando tens um bebé saudável nos braços" ou, então, pelo contrário, achava que iria assustar as futuras mamãs.
Porém, aprendi - muito também com a preparação para esta segunda gravidez - que quanto mais informação tivermos, quanto mais conhecermos a nós e ao nosso corpo e tivermos certeza do que queremos, mais empoderadas ficaremos num momento ÚNICO que é o nascimento. O parto não é do médico, do anestesista, das enfermeiras, nem do hospital.. o parto é da mulher-mãe, é ela que terá a última palavra e que dará ou não o consentimento para se tomarem as decisões. E digo-vos que, quando chegamos até esta fase, sentimos autênticas super-mulheres, donas do nosso corpo e daquele momento. O parto da Laura foi a personificação de tudo isto e foi maravilhoso.
Mas há mais! Na gravidez e no pós-parto, são muitas as alterações e cada uma de nós vive-as da forma única e, em bom rigor, não de uma forma assim tão distante de outra mãe. Há as transformações do corpo; as crises existenciais e de choro; as "crises" conjugais"; as expectativas que inevitavelmente surgem, especialmente com o primeiro filho, e que quando não são correspondidas deixam-nos destroçadas; a privação do sono; o cansaço; as crises de humor; a recuperação após o parto; e a "luta" que travamos com o espelho após o bebé nascer... e esta lista poderá ser interminável.
Mas sabem o que é fantástico no meio disto tudo? É que nós, mulheres, estamos mais unidas do que podemos pensar, temos muitos mais motivos para nos entre ajudar do que para nos criticar como tão mais facilmente acabamos por fazer. Ninguém melhor do que nós entende aquilo porque estamos a passar, as alegrias, as tristezas, os sentimentos contraditórios... enfim... E era esta a mensagem que vos queria passar para quem não pode estar presente no encontro de ontem.
A maternidade não se resume a uma só coisa, nem há o fazer bem e o fazer mal... Todas nós procuramos o mesmo: o melhor para os nossos bebés, mas não nos podemos esquecer da enorme pressão que isso é, numa altura em que também estamos frágeis emocionalmente e fisicamente. A mulheres também precisam de tempo, tempo para fazer a descompressão de tudo aquilo que passarem; tempo para parar; tempo para dizer "eu não consigo"; tempo se ajustarem aquela nova fase quando têm o bebé nos braços. As mulheres precisam de tempo para desfrutar da gravidez, do bebé... sem tanta pressão, sem tantos comentários à sua volta, tempo para ouvir o seu bebé e para se ouvir a si. A maternidade é uma fase única nas nossas vidas, mas que passa demasiado rápido!