Escuta-te Mas Te Demores Na Tua Solidão... Eu Falo-Vos Da Minha!
Dei por mim, nestes últimos dias, a pensar na quantidade de tempo que passo sozinho e, por conseguinte, em silêncio. Tudo começou num dia em que estava em casa e, de repente, foi como se tivesse tido uma tomada de consciência do presente: era só e unicamente silêncio à minha volta, nem na minha cabeça ecoavam outros pensamentos. Eu não ouvia rigorosamente nada. Nem da rua, nem dentro de casa, nem um vizinho.
Olhei à minha volta e intencionalmente continuei assim mais uns instantes, apenas contemplativa do silêncio. E foi bom, foi especialmente bom porque eu não fiquei inquieta, nada, foi como se naqueles instantes eu tivesse conseguido dar-me um abraço, ter passado a mão pela minha cabeça – como faço tantas e tantas vezes com os outros – num gesto de quem diz “está tudo bem!”, “vai ficar tudo bem, confia!”.
No entanto, não se iludam, pois nem sempre foi assim tão “fácil” abraçar o silêncio que anda, lado a lado, com um lado tão solitário, de quem passa muito tempo sozinha. Uma solidão que eu não conhecia antes de ser mãe, ou, então, simplesmente passava despercebida. É esta mesma solidão que faz com que todos os dias eu me debata com várias conversas sobre vários assuntos comigo mesma. No início era fácil, pois começou por ser as conversas vagas de quem pergunta a si mesma as coisas que perguntaria se estivesse com alguém ao lado. Porém, com o tempo, as coisas foram assumindo outras proporções e passaram a ser autênticas divagações sobre nós mesmos – o tipo de assunto que nós passamos a vida a tentar chutar para canta, fingindo que não existe, estão a ver, não estão?
No dia-a-dia, no meio da confusão e do ritmo acelerado das rotinas familiares, o barulho e confusão do trânsito, as conversas e o ruído no local de trabalho e por aí a fora. Vivemos constantemente rodeados de distrações da nossa mente. Temos pouco tempo para prestar atenção aos detalhes, para reflectir sobre determinadas atitudes connosco e com os outros, temos pouco tempo para nos conhecermos a nós mesmos e, a partir daí, relacionarmo-nos com o mundo à nossa volta.
Na maternidade, esta solidão é bastante sofrida e cheia de altos e baixos. Tanto estamos cheias de adrenalina, esbanjamos amor e alegria, como a seguir podemos estar a chorar que nem uma perdida, podemos descarregar em que está mais ao nosso lado, podemos sentir-nos em baixo com todas as mazelas físicas que ficam após o parto, etc, etc, etc… O nosso interlocutor, um bebé recém-nascido, que só se faz comunicar através do choro - e uns choram muito e mais alto do que outros - não ajuda propriamente a mantermos a serenidade. Está tudo amplificado muito graças às (malditas) hormonas.
No meu caso, essa solidão – e, atenção, que quando falo em solidão não é com conotação negativa, não estou sozinha no sentido literal da palavra - foi-se prolongando no tempo. Os filhos acabaram por ir para a escola, mas não existem colegas de trabalho e nem a confusão de fora.
À instabilidade hormonal, seguiu-se uma certa paz, mas só consigo dizer isso agora, depois de ter feito as pazes comigo mesma e de me aceitar. Era importante perceber - findo o pós-parto - quem é, afinal, a Vera. Porque não é a mesma pessoa, embora com os mesmos traços de personalidade, a Vera mudou e eu própria comecei a olhar-me no espelho e a ver, lá no fundo dos meus olhos, uma outra pessoa. Mais serena e mais segura de si mesma. Mais assertiva em dizer aos outros o que não quer e a saber identificar aquilo que é realmente um problema e aquilo a que nem sequer vale a pena dar importância.
Talvez tenha envelhecido ou amadurecido. Eu acho que acabei por ser forçada a conversar demasiado tempo comigo mesma e a escutar demasiado os meus pensamentos. Consigo entregar me mais facilmente a quem eu sou, consigo, pelo menos, perceber a fronteira entre aquilo que eu faço e acrescenta valor a minha vida e o vice-versa.
Ainda assim, é preciso perceber quando é que esta solidão passa de algo saudável a algo que nos faz mal. Não é fácil, por vezes, resvalamos nas depressões e ansiedade e é preciso ser teimosa para encontrar as ferramentas para trazer algum “barulho” para dentro da nossa cabeça e só nos perdermos por lá o tempo estritamente necessário.
Tenho vindo a descobrir o gosto pelos podcasts e desenvolvido o interesse pelo tal mindfulness - pelos princípios do aqui e agora. Sem pressões, mas com força suficiente para colocar a mão na minha auto-consciência. Agora que fiz todo o caminho solitário do auto-conhecimento, está na hora de ter amor por mim e de ter a capacidade de olhar para mim com um ser humano como todos os outros a quem eu presto atenção, ajuda e carinho.
Não devemos ter medo da solidão, porque ela é importante, mas é preciso aprender a saber o que fazer com ela, tirar as coisas boas e afastar as outras. Entendem? 😊