Envolver as crianças no processo de mudança: Sim ou Não?
A ideia inicial era manter o Vicente a Laura longe do processo da mudança, portanto, mantê-los o mais longe possível da confusão, quer na casa antiga, quer na nova. Pois, embora a nossa decisão tenha sido sempre a de manter o diálogo aberto com eles sobre esta mudança na vida de todos, a cabecinha deles não arruma as coisas da mesma forma que a nossa e vamo-nos apercebendo disso com o passar do tempo.
A casa que era a deles, deixar de ser, as coisas que vão progressivamente desaparecendo do lugar, porque vão sendo empacotadas. Compreender que as coisas deles não vão desaparecer e que há toda uma logística um bocadinho mais complexa associada a esta mudança. Adaptar-nos a viver com o mínimo possível e sem a arrumação e o conforto ao qual eles sempre estiveram habituados.
E eu fui tomando consciência de que talvez a decisão de os ter connosco nesta fase, tivesse sido apenas pelo conforto emocional de os ter por perto, porém, as perguntas e as dúvidas e a sensação de ir embora, tornaram tudo muito difícil no final.
Eles perguntam tudo, reclamam mais a nossa companhia e atenção e nós, estamos desdobramo-nos em mil para dar conta do recado e do que é fechar um capítulo numa cidade e num país e abrir um novo num outro local completamente diferente.
Esperamos - egoisticamente - que eles tenham alguma capacidade de auto-gestão, o que acarreta consigo um grande sentimento de culpa e deixa-nos completamente divididos. O que, por sua vez, também é uma janela aberta para que pensamentos menos positivos assombrem as nossas decisões. Enfim…
Na cabeça do Vicente e da Laura está claro que temos uma casa nova e que essa casa é em Bruxelas. Contudo - e o Vicente agora já não tanto - não têm consciência do que isso implica na prática. Por exemplo, porque é que a avó não vem a nossa casa ou porque é que não estão a ir à escola. Isto na Laura.
Com o Vicente, as coisas já mudam de figura e a saudade é algo que ele sente muito. Fazem-lhe falta os amigos e a consciência de que vai ter uma escola cá e de que não irá a Lisboa com regularidade, é algo que ainda é preciso arrumar melhor naquela cabecinha.
Numa primeira fase, achava que tudo isto era apenas umas férias longas, depois encaixou o facto de viver aqui e das consequências. E aí, as lágrimas saem-lhe com facilidade – ou não fosse ele, filho da sua mãezinha.
A forma que encontramos para colmatar isso, foi mostrar-lhe que não estará sozinho por cá e começamos logo a marcar encontros com os nossos amigos com filhos, os meninos dos quais já lhe tínhamos falado muitas vezes. Intregra-se facilmente e é verdade quando dizem que um miúdo com uma bola de futebol, nunca estará sozinha. Portanto, ainda bem que ele adora futebol.
Porém, uma instalação é um processo longo e profundo. É preciso meter as coisas no lugar, arrumar, limpar, desencaixotar, lavar roupa, ir ao supermercado… muitas tarefas que, para eles, são apenas uma seca!
E daí ,também, a minha pressa em arrumar tudo o mais rápido possível. Essa ordem, que nós adultos aceitamos que possa levar algum tempo, para eles é essencial. É importante que eles percebam que a casa deles está igual e que as coisas deles não desapareceram – apenas fizeram uma longa viagem dentro de um camião.
E eu guardo para mim as inseguranças para lhes passar a eles a segurança de que está tudo bem. Arrumo as coisas depois deles se deitarem para que, durante o dia, haja tempo de qualidade com eles. Porque o tempo possível para que eles aguentassem a mudança já passou. Agora é preciso dar-lhes a tranquilidade de um lar, mostrar-lhes que terão as mesmas rotinas, um parque para brincar, os passeios em família e tudo resto. Temos também que ajudá-los a ultrapassar a estranheza da língua. Como? Relativizando e falando sempre francês na rua, explicando o que nos dizem e o que nos respondemos. Repetimos com eles as palavras básicas, às quais eles até se acostumaram com facilidade.
Sinto-os à procura do seu lugar, cada um deles, mas eu também estou à procura do meu, na verdade. Não se carrega num botão e, pronto, já está. Levamos tempo a mudar o chip e tornar as coisas mais banais do dia-a-dia normais neste novo contexto.
O tempo tudo traz tanto aqui, como aliás, em tudo o resto na nossa vida. É um cliché, é verdade, mas daqueles bem verdadeiros!