Em Bruxelas | E vocês regressam aos lugares onde foram (muito) felizes?
Sair da zona de conforto é difícil, ainda assim, a sensação com que fico a seguir é a de ter conseguido conquistar sempre mais qualquer coisa. Como se qualquer coisa fosse ganhando uma consistência diferente, como se eu ficasse mais forte. É na luta connosco próprias, os dilemas com os quais nos debatemos interiormente, com o debate e o duelo entre a “voz a favor e a voz contra”, que vamos progredindo mais um pouco e percebendo que, afinal, conseguimos controlar as situações de uma forma que até nem suspeitávamos.
Vai ser uma semana intensa. Não só porque deixei os meninos com a avó, porque arrisquei tudo e, em vez de terem ido para a escola no dia da partida, eu quis que ficassem em casa para poder passar um pouco mais de tempo com eles. Arrisquei porque o Vicente, emocional como é, não conteve as lágrimas várias vezes como ainda repetiu várias vezes que ia ter muitas saudades nossas. A Laura, à noite já ao telefone, perguntava-me “mãe tu não vens para casa? Já não está sol, mãe, tens de vir.”
Adapto-me facilmente às mudanças e até achava (e ainda acho) que sou uma mãe com alguma capacidade de relativizar, mas a minha fraqueza está aqui. A minha fraqueza está quando tenho que passar tantos dias sem eles, porque simplesmente eu preferia que não fosse assim. Mas, calma, eu sei que faz bem a todos, pais e filhos. Todavia, o facto de ser tão presente e de ser eu sempre a assegurar 99% das suas necessidades nos 365 dias do ano, faz com que eu prefira sempre o contrário: viajar com eles para todo o lado!
Talvez, nesta viagem em particular, o grau emocional não esteja a facilitar. Eu não voltei a Bruxelas a seguir à nossa saída – que fará cinco anos em agosto – e vivi aqui os dois anos da “viagem” mais importante da minha vida. Foi aqui que a minha nova vida, a vida que tenho actualmente, a vida tão mais feliz, realizada e tantas outras coisas que é difícil colocar em palavras foi passada.
E como esquecer todos aqueles dias vividos com o Vicente comigo, as descobertas, os choros, as frustrações…. Impossível esquecer ou deixar de sentir uma tensão na garganta a conter a emoção e todos os sentimentos arrebatadores.
Foi uma escolha minha a de não ter voltado, na minha cabeça ia ser difícil olhar para esta cidade como um mero destino de férias. É verdade que também não voltei a Trieste, a cidade italiana onde fiz Erasmus e da qual, na altura, também não queria ter ido embora. Adapto-me facilmente às mudanças e há qualquer coisa na vida de expatriado que me seduz, que me faz amar o meu país, mas, ao mesmo tempo, sem que isso me roube a vontade de viver num outro lugar.
É igualmente verdade que estas experiências são muito intensas, são vividas com grande entrega e as relações entre as pessoas ganham uma força que, em situação normais, levariam meses para acontecer. A disponibilidade, a entreajuda e o convívio são alguns dos adjectivos que encontro para as descrever.
Nestes dias, tenho uma lista mental de sítios aos quais quero ir, ruas pelas quais quero passar, mas quero também ver o que mudou nestes últimos anos, quero perceber se sinto – agora que estou aqui de novo – aquilo que eu sentia quando vivemos cá e que guardei neste período, tão forte que a nostalgia e a saudade estiveram sempre presentes.
Mas isto não são férias, porque voltar a casa nunca é ir de férias. A isto chama-se... voltar a casa!