E esta última semana de agosto que nunca mais acaba, ou é impressão minha?
Acredito que não seja a única, mas eu estou a contar os dias – bem baixinho, como se tivesse receio de me sentir culpada por isso - para o regresso às rotinas da nossa família. Pois, se por um lado, a minha família é a minha razão de viver e é graças a nós que eu fiz todas estas boas mudanças a nível pessoal, ao mesmo tempo, que foram eles (os filhos) os responsáveis por me ensinarem a separar o realmente importante do acessório. Por outro, todos nós precisamos de escapes, de momentos só nossos, precisamos de espaço para sermos quem somos sem estar a desempenhar nenhum papel.
E se analisar bem a minha/nossa evolução, quer individual, quer em conjunto, os momentos “a sós” foram igualmente importantes para a nossa união, como os momentos que passamos intensamente juntos 24h por dia 365 dias por ano. A individualidade não é sinónimo de egoísmo, é, pelo contrário, sinal de evoluímos saudavelmente na nossa existência e que garantimos que as convivências e as relações também evoluem de forma saudável e duradoura.
Contudo, não mudava nada até aqui, não retirava um segundo sequer ao tempo que dedico à família, a energia que ela me retira e a forma como ela depende de mim. Mas são ciclos que precisam de renovação. No dia-a-dia, o meu escape são as idas ao ginásio, que me fazem um bem danado e que ajudam a colocar tudo no devido lugar (por dentro e por fora). Mas, às vezes, é preciso mais do um escape, é preciso mais de um par de horas fora de casa, é preciso realmente tempo para reciclar e renovar quem somos, para nos alimentarmos e podermos alimentar quem está ao nosso redor.
E, para além, da viagem a Estocolmo que fizemos à relativamente pouco tempo, sem filhos – e, já agora, relembro as dicas daquela cidade que vale mesmo a pena conhecer – temos tido alguns jantares fora, umas idas ao supermercado sem filhos (esse luxo, embora parece uma coisa banal) e um (um único) fim-de-semana fora – no maravilhoso Douro, ter no horizonte próximo a possibilidade de recuperar o meu tempo durante o dia, confesso, é algo que me agrada muito e pelo qual anseio muito! Sentir que posso deixar de andar pela metade em tudo o que faço, que posso até passar a andar menos nervosa e apressada, que tentar separar melhor o tempo e conseguir gerir melhor cada coisa, é algo que me deixa feliz.
Já vos falei por aqui do que representa, para mim, a barreira dos dois anos de idade num filho, na diferença que faz em tudo passar de um para dois filhos e de como ser trabalhadora por conta própria e um desafio permanente e que, com o tempo, vai exigindo cada vez mais de mim e do meu tempo, assim como também já vos falei do que representam as férias para eles e para mim.
Ter filhos é mais um trabalho, sendo o mais franca possível. Claro que é um trabalho compensado com um amor inexplicável e para toda a vida e que a sua presença nas nossas vidas compensa largamente os aspectos menos bons. Mas… é mais responsabilidade, é mais rotinas e mais tarefas que temos. É estar ligado 24 horas por dia e ouvir chamar por nós constantemente. E isso tens consequências que se acabam por reflectir na acumulação dos dias e na relação com o nosso parceiro.
Ora, então, como é que se gere tudo isto?! Com o tempo. Aquele safado que anda sempre a correr, que desparece sem darmos conta e que é essencial para todos nós. Gerimos com tempo para sermos indivíduos, para sermos casal, para sermos profissionais e para sermos pais. Tempo! Tempo! Tempo!
Eu preciso dele! Precisamos todos! E só com uma grande racionalidade é que não nos afundamos numa só coisa. Às vezes, na lida de casa, digo para mim, basta! “Agora vais parar e fazer outra coisa”. Porque quando dou mim, estou completamente embrenhada num rol de tarefas urgentes e que se surgem em catadupa.
E por falar nisso, lembrei-me que ainda tenho máquinas com roupa das férias para fazer e a que estendi já deve estar seca… Depois de terminar este texto é isso que irei fazer e de caminho tiro já alguma coisa para descongelar para o jantar.
E é desta forma que se resumem os nossos dias: sempre a fazer coisas, umas atrás das outras, mas depois falta o tempo de qualidade para nós. Por exemplo, para me dar ao luxo de me sentar no sofá ou de ler um livro do início ao fim ou de me deitar cedo ou, então, porque não para simplesmente não fazer nada?
Por isso, e ingénua ou não, conto os dias para que chegue segunda-feira, mesmo que daí a dias o tempo já me falte novamente – porque esse é a lei da vida. Contudo, eu sou assim. Sou uma pessoa que precisa de novos ciclos a acontecer de quando em quando, como este novo que se avizinha com a ida a Laura para a cresce e que me permitirá de novo dedicar-me apenas a mim uma boa parte do tempo.
Eu ainda me lembro de quando deixei pela primeira vez o Vicente na creche, de como foi estranho não ter ninguém no banco de trás do carro, nem companhia para ir o supermercado, nem as obrigações ao longo do dia com os horários e as suas rotinas. Foi estranho, mas soube-me bem logo de imediato, tal como foi bom ter o friozinho na barriga, à tarde, quando o fui buscar.
Enfim... não é que me canse das rotinas - ou talvez até sim - mas preciso de novidade e de liberdade para que os outros recebem o melhor de mim e quem realmente sou.
Antes do verão, fiquei mesmo cansada, optei por estar mais presente em casa e com eles porque era uma fase muito exigente, respeitava os compromissos de trabalhos, mas só isso. Mas a longo prazo esse bocadinho a mais, faz me falta porque lá está, traz-me a novidade, o elemento diferente aos meus dias e até essencial à minha inspiração.
Não sei se me faço entender.... faço?!
Boa noite!