Dos 5 para os 6 anos: quem eu sou importa! | Por Patrícia Fernandes, Psicóloga Clínica
Aos cinco anos a criança passa por um desenvolvimento tremendo. Existe um confronto com a realidade e a tomada de consciência que o mundo não funciona como os contos de fadas. A criança torna-se consciente de que as suas ações afetam não só as reações dos outros como também os seus sentimentos. Têm maior consciência do certo e do errado, começando a compreender melhor estes conceitos, mas ainda muita dificuldade em controlar os seus impulsos.
Podemos observar a construção da personalidade e o brincar tem aqui um papel primordial. As brincadeiras têm diversos objetivos – fazem experimentar sonhos e desejos, ajudam a aprender sobre os papéis de cada um, ajudam a criança a controlar-se e a ser amigo de alguém. É nesta fase também que se desenvolve a empatia e um aumento de autonomia; é por isso fundamental que as crianças brinquem em conjunto, experimentando as diversas emoções. Por outro lado, o tempo passado com as novas tecnologias limita um pouco este desenvolvimento: o tablet sabe perdoar; com ele a criança demora o tempo que precisa e pode sempre reiniciar o jogo.
Nesta idade, as crianças expressam uma mistura entre fantasia e medo ao brincarem com várias figuras e personagens. Os rapazes de cinco anos, por exemplo, necessitam muitas vezes de ser agressivos nas suas brincadeiras (e por isso escolhem também jogos de lutas como o agora tão famoso fortnite) mas também de se sentirem protegidos deles próprios. Precisam de alguém que os ajude a que as brincadeiras não excedam os limites, mas é ao brincarem uns com os outros, ao experimentarem-se mutuamente, que aprendem sobre o seu controlo interior, sobre a valorização do outro, sobre si próprios. Brincar é também uma forma de aprender regras.
Vejamos o exemplo de um rapaz nesta faixa etária, como é o caso do Vicente.
Nesta fase há a descoberta que consegue influenciar os seus pais, professores e os seus pares através do seu comportamento. Toma agora consciência do seu “eu” o que faz com que modifique a sua posição no mundo e aja de maneira diferente nos diferentes contextos.
Com os pares, procura que gostem de si e já têm noção quando não gostam. Quer ser aceite e até liderar. Gosta de ter os que os outros têm, partilhar as mesmas brincadeiras – se não for capaz de se adaptar, tem agora noção disso. Por isso lá em casa poderão pedir jogos que os pais não conhecem ou quererem figuras e personagens que os pais sabem que eles nunca viram em casa.
Como agir nesta fase? Com bom senso. Não entrando no consumismo desmesurado ao dar tudo o que possam pedir só porque o amiguinho tem, mas ouvindo as suas preferências lembrando-nos que estão a desenvolver o seu “eu”.
Aos cinco anos estão a tornar-se conscientes e orgulhosos de que são. Por isso também dizem mais “não gosto disto” e “não quero aquilo”. Estabelecerem as suas preferências é uma forma de se definirem a si próprios e construírem a sua personalidade.
Cabe aqui aos pais alguma paciência, aprendendo a não se precipitarem: “experimenta os bróculos só desta vez” ou “experimenta hoje vestir a camisola vermelha”. Passar por cima deste ímpeto em direção à autonomia é ignorar que estas preferências resultam de uma forma de autodefinição, um esforço enorme de desenvolvimento. Os pais devem assim perceber quando afrouxar a pressão e aprender também a dar algum espaço à crescente autonomia da criança.
Não é necessário controlar todas as escolhas de uma criança de cinco, seis anos; não vamos ignorar os esforços dela para ser autónoma, mas antes tirar vantagem das oportunidades para respeitar as suas preferências.
Informação para workshop com base no livro "O Monstro das Cores", as emoções explicadas através das cores: