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As viagens dos Vs

Mulheres nutridas, famílias felizes

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Dão-se bem ou são irmãos? A cumplicidade fruto do tempo juntos

16.07.19 | Vera Dias Pinheiro

dão-se bem ou são irmãos

 

Há muito tempo que não voltava a esta rubrica. E, a verdade é que, nada de anormal se passa entre os irmãos, em que basicamente se resume a: tudo ou nada! Ora são os melhores amigos ora são os melhores inimigos.

Contudo, a relação entre irmãos é uma relação como tantas outras. É preciso trabalhar essa relação, aprender a conhecer o outro, os defeitos e as qualidades e para tudo isso é preciso tempo! Tempo de qualidade entre os dois. E se até aqui, vivíamos na rotina – se bem que privilegiados pelo tempo que têm em casa e em família para além da escola - era nas férias e durante os fins-de-semana que aprendiam a brincar um com o outro, que aprendiam a resolver os conflitos, a ceder, a partilhar e também a vincar uma posição quando é preciso afirmar-se, nomeadamente quando têm razão (é mais o Vicentinho, que a Laura tem afirmação que chegue e sobre para ela e mais dez).

 

Portanto, como mãe, a minha postura é um pouco a de ficar na retaguarda e quando decido intervir tento fazê-lo num papel de moderadora, na esperança que, cada um, veja o que está certo e o que está errado para que, no final, resolvam os problemas entre eles. Porque é preciso saber pedir desculpa ou explicar porque estamos aborrecidos ou porque queremos uma coisa de uma determinada maneira.

 

E se para os adultos isto é complicado, praticamente impossível, nas crianças este trabalho é mágico porque resulta e elas têm uma capacidade de perdoar e de esquecer incrível que acontece em segundos. E, nesta matéria, deveriam ser as crianças o exemplo para os adultos e, infelizmente, por vezes, o exemplo que lhes é passado é precisamente o oposto.

 

Entretanto, este processo de mudança tem sido uma aprendizagem grande para o Vicente e para a Laura que estão a amadurecer de uma maneira incrível, cada um individualmente e muito em conjunto. E se eu já sabia que não queria um filho único, hoje digo-vos que não hesitem no segundo filho. É uma dádiva o que lhe estamos a dar.

 

Nestes dias, estranhos para eles, com pessoas que lhes falam e eles pouco ou nada percebem (ainda), as saudades misturadas com as novidades, eles têm-se apoiado muito um no outro. E existe até uma linguagem muito própria entre eles e, no caso do Vicente, é como o tradutor da linguagem dos adultos (nossa, em particular) para a irmã. É com ele que ela se acalma e, muitas vezes, é o elemento crucial para se acabar com uma birra.

 

Talvez seja uma grande sorte, porque o Vicente tem o skill para ser irmão mais velho, se bem que nunca quis passar para ele aquela pressão de ter que cuidar da irmã, por ser o mais velho. É uma criança e cuidar de alguém é somente uma responsabilidade demasiado grande. Dizemos na brincadeira, mas na cabeça dele é tudo processado de uma outra forma.

 

Estamos em Bruxelas há três semanas. Eles estão em casa comigo, porque é demasiado cedo para inscrevê-los em actividades de férias. Se a língua é algo que, para a Laura, se mostra pouco importante, com o Vicente já é diferente e existe nele, de facto, a preocupação de não compreender o que lhe dizem.

 

Como tal, os dias são passados a três 24 horas, todos os dias, e eu tenho que me desdobrar em mil, entre as tarefas de casa, o meu trabalho e eles. Ao passo que o Vicente e a Laura só querem brincar e entreter-se. Normal, não é? Mas seria mais triste para o Vicente senão tivesse a irmã e, ao mesmo tempo, ainda mais exigente para mim. Pois se, por um lado, eles chamam por mim a toda a hora, por outro entretém-se a brincar apenas dois também muito tempo numa relação que tem evoluído bastante em termos de comportamento e de cumplicidade um com o outro.

Por exemplo, as brigas e as chatices acontecem, todavia, noto uma melhoria na forma como resolvem entre eles e a forma como se explicam. A Laura, especialmente, está muito mais amiga do irmão, cedendo mais e pedindo mais vezes desculpas. E o Vicente, por sua vez, está a aprender a não fazer as vontades todas à irmã e, quando se aborrece, já se controla muito mais fisicamente.

 

Isso não invalida a minha presença - tomara eu eheheh para conseguir ter um tempinho para mim - mas consigo estar um pouco mais liberta do peso de estar constantemente a brincar com eles, a pensar em actividades e etc…  Ou acabaria por ter que recorrer a bengalas tecnológicas para o conseguir.

 

Neste sentido, por cada vez que os vejo a brincar no parque e a Laura que já acompanha tão bem o irmão em brincadeiras “mais crescidas” agradeço por este par de filhos queridos. Por cada vez, como agora, em que tiro uns minutos para acabar de escrever este texto e, ao mesmo tempo, ouço os diálogos entre eles enquanto brincam, agradeço este par de filhos queridos.

 

O Vicente e a Laura têm sido o grande apoio um do outro nesta aventura e, a par com as saudades que apertam, sinto-os bem e sinal disso é que, desde que dormem nesta casa, não houve uma noite em que viessem para a nossa cama, como aconteciam sempre em Lisboa.

parque ten bosch bruxelas

 

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