Conseguimos! Sobrevivemos E Chegamos Ao Fim Do Primeiro Período De Aulas!
E assim, de repente, o nosso primeiro semestre em Bruxelas chega ao fim e o primeiro período de aulas também e, caramba, mesmo que tenha passado a correr, digo-vos que foram meses tão intensos, tão preenchidos e tão ricos emocionalmente para todos. E, só por isso, o balanço já seria bom, pois fomos (todos) postos à prova, miúdos incluindo. Mas, para além disso, crescemos todos um pouco mais, ficamos mais maduros, mais estruturados, mais seguros, mais vividos e, com isso, mais ricos.
Os nossos dias não foram simplesmente mais do mesmo, nada disso! Foram dias de desafios, de decepções, mas também de muitas conquistas pessoais acima de tudo.
Lembro-me do nosso primeiro dia em Bruxelas; lembro-me do dia em que o Vicente e a Laura conheceram esta casa pela primeira vez; lembro-me do dia em que a minha mãe me ligou, acabada de sair do consultório médico, a dar-me a notícia que eu jamais imaginaria ouvir, especialmente da minha mãe; lembro-me do primeiro dia em que deixei a Laura na escola e o dia em que entreguei o Vicente sozinho numa escola com milhares de alunos. Tive que ver, um e o outro, choraram, cobrarem-me tudo aquilo, pedirem-me para não ser em francês, verbalizarem as saudades de Portugal, dos amigos e das escolas – que ainda sentem, pois falam muitas vezes naquelas pessoas - lembro-me do dia em que tive que recusar o primeiro trabalho por estar em Bruxelas e em que me deparei com a nuvem cinzenta em relação a esta mudança e a minha vida profissional; lembro-me quando comecei a sentir-me angustiada por me sentir engolida pela exigência familiar e sem tempo para mais nada.
Vivi dias intensos e de lutas interiores, de questionamento e de dúvidas sérias sobre as nossas decisões. Todavia, este estrangulamento era algo também muito imposto de fora. Imposto pela pressão de sentir que tinha que provar algo, por sentir que tinha que mostrar a realidade de uma determinada maneira; por sentir que deixaria de ser relevante no meu trabalho; por deixar de fazer parte de um grupo; por deixar de andar em massas, nos eventos e nos locais onde todas as outras pessoas andam. E enquanto foi assim houve dias muito difíceis e em que quase deixei de acreditar em mim e nas minhas convicções, mas depois, deu-se um clique e eu despertei.
Nesse momento, percebi que eu não sou uma pessoa de massas e, afinal, até estava feliz assim. Percebi que eu gosto de viver aqui e que eu tenho capacidade para continuar a fazer coisas e a crescer profissionalmente, apenas era necessário mudar o meu mindset – e não o dos outros. Tive que parar de agir como se ainda vivesse em Lisboa, como se a minha vida ainda estivesse toda aí e, dessa forma, continuasse a ser regida pelos mesmos princípios.
Após esse o clique, começaram a surgir os primeiros contactos e os primeiros trabalhos aqui, deixei de me preocupar com o facto de estar (ou não estar) presente tão nas redes sociais e a ser livre de fazer as coisas de forma mais natural, espontânea e que realmente me dão prazer; deixei de me preocupar se seguia as tendências e tive mesmo que alterar a geografia dentro na minha cabeça.
Enquanto mãe… bom, enquanto mãe, deixem-me ver se consigo colocar o que quero exprimir nas palavras certas. Pois, no fundo, o que dizer desta experiência de ser mãe expatriada? De muitas vezes fingir a segurança que não tinha e de esconder as lágrimas que teimavam em querer sair juntamente com as deles? Ou do que me custou sentir os meus filhos totalmente perdidos e o que senti eu, mais tarde, quando comecei a ver a integração deles a começar a fluir e a ser cada vez mais rápida? É difícil exprimir estes sentimentos, sabem? E a sensação com que eu fico é a de, inevitavelmente, sentir-me uma pessoa mais velha e nem me refiro tanto à aparência, mas cá dentro, entendem?
E com isto, 2019 foi um ano de treta, para evitar escrever aqui uma palavra feia! Recebi muitas notícias más, vivi momentos que nunca imaginei viver e senti-me profundamente triste, desesperada e desamparada. Mas sabem? Isso não torna o balanço deste ano igualmente mau. O balanço é positivo! Consegui dar-me prioridade, travar ciclos viciosos que não eram bons, consegui chegar mais perto daqueles que sempre foram os meus sonhos, voltei para o lugar onde sinto-me realmente eu e longe estou eu de estar em equilíbrio. Dei-me espaço para ouvir os meus sentimentos, lidar com eles e transformá-los em algo que me permite viver para além dos problemas.
A logística é pesada, ainda existe muita incerteza, o nosso natal está a ser uma confusão, ter que lidar com uma doença horrorosa e explicar, pela primeira vez, aos meus filhos a morte de uma pessoa “das nossas”. Posto isto, é verdade que vos escrevo esgotada e a tentar arranjar forças e estado de espírito para preparada uma consoada e um natal sozinha, porque a família, às vezes, tem que gerir prioridades e dar apoio em diferentes lugares e nem sempre é possível fazê-lo juntos. Mas se chegamos até aqui e se me focar no "copo meio cheio", o balanço é positivo!
Os meus filhos estão complemente integrados, entendem e falam a língua deste seu novo país, têm amigos e são acarinhados por tantas pessoas. Eu fiz novas amizades – já vos disse que é bom fazer amigos em idade adulta? – deixei ir outras. Contudo, aquilo que é bom, mas realmente bom, é que quando eu preciso de carinho, de força e de apoio, eu recebo mesmo sem ter pedido. Há pessoas fantásticas desse lado, genuínas e boas. Há pessoas que se preocupam com o outro, que partilham, que falam e que abraçam mesmo que à distância.
Cheguei aqui, ao último dia de escola do primeiro período, quase na véspera da noite de consoada e a ver já o finalzinho de 2019 e eu estou de parabéns. É que estou mesmo e tenho que o dizer a mim mesma as vezes que forem precisas.
É ok dizer que não estamos bem, mostrar que a vida não é o que vem nos livros, o que idealizamos em miúdas, mas a vida não é perfeita para ninguém. Todos, repito to-dos, nós lidamos com problemas! O importante é sair deles de alguma forma e, por vezes, sair deles não é sinónimo de os ter resolvido, é simplesmente dar a volta e seguir em frente! Percebem? E, talvez, ter a capacidade de priorizar os problemas, separando aquilo que é e aquilo que não é um problema… 😊
Nós chegamos até aqui. Nós sobrevivemos ao final do primeiro período de escola, vamos brindar!!!!! <3