Como foi partilhar a mudança (para Bruxelas) com o Vicente e a Laura?
Em primeiro lugar, tenho a dizer que tenho uma abordagem muito aberta com os meus filhos. Conversamos sobre tudo e, desde muito cedo, que eu lhes explico as coisas sem histórias ou outros disfarces apenas porque são muito novos.
Claro que não são conversas de adulto e que a informação é doseada em função daquilo que a idade deles lhes permite absorver e até entender.
E, em segundo lugar, o assunto Bruxelas nunca foi um tabu cá em casa, pelo contrário, foi sempre algo que quis manter presente no Vicente. E mesmo tendo regressado a Portugal com cerca de dois anos, ele próprio sempre fez muitas perguntas e tinha muita curiosidade sobre a casa em que viveu, por exemplo.
Neste sentido, quando Bruxelas se tornou uma certeza na vida de todos, a primeira coisa que decidimos fazer foi falar com o Vicente - com a Laura também, mas é muito pequena ainda para perceber. E a primeira abordagem foi uma espécie de sondagem, meio insegura da nossa parte, é certo, a tentar medir a reação do Vicente, que logicamente não foi a melhor. Mostrou-se de imediato muito emotivo e choroso.
Foi nesse momento, que eu e o meu marido, sem experiência neste assunto, conversamos sobre esta mudança nas nossas vidas e que para acontecer, ambos teríamos que falar do tema como a melhor coisa que pode acontecer na nossa família e, consequentemente, na vida deles também.
E esta passou, então, a nossa segunda abordagem. Mais confiante, assertiva e positiva. Pois, se eles sentirem a nossa segurança, sentir-se-ão igualmente seguros e se eles sentirem o nosso entusiasmo e felicidades, serão igualmente contagiados por esses sentimentos.
Ora, não havendo fórmulas certas ou erradas, a melhor opção pareceu-me ser seguir o meu instinto de mãe e aquilo que eu conheço dos meus filhos. E este é um assunto longe de estar fechado. Eles ainda não conhecem a cidade ou a casa e, depois, em setembro teremos toda a adaptação à nova escola, ambiente, língua, etc… de ambos.
Não vou mentir dizendo que não se trata de um assunto delicado, porque é, contudo, tem igualmente vindo a ganhar consistência à medida que o tempo vai passando, que nós nos deslocados até Bruxelas para ir tratando da burocracia à medida que ia sendo necessário e que se se aproxima a data e eles estão acompanhar tudo desde o inicio, desde o mais stressante até finalmente estarmos todos instalados.
A minha escolha foi fazermos tudo em conjunto e inclui-los nesta fase da mudança, dando-lhes a possibilidade de escolherem as coisas que querem levar (e não) e lá, as novas coisas que farão parte do seu quarto e dos espaços.
Nas nossas viagens a Bruxelas, enviávamos fotografias, contávamos coisas sobre as escolas e sobre os futuros amigos que terão lá e a procura das casas. Sempre sorridentes e optimista de quem está a procura do melhor para ambos. Afinal, é disso mesmo que se tratar, dar-lhes uma experiência de vida que irá torna-los miúdos com horizontes mais alargados, com conhecimento de, pelo menos, mais uma língua estrangeira e tudo mais.
Como mãe essa é a minha motivação maior e sei que as crianças têm uma capacidade de adaptação enorme, especialmente sendo tão novos. Mas não deixo de estar atenta a alguns sinais que, como mãe, me deixam inquieta.
Aos seis anos, sinto que o Vicente entrou precisamente na fase de se ligar aos amigos e a um grupo, muito coeso por sinal. E vê-lo lidar com o medo da perda desses amigos é o que custa mais, admito. Custa-me tirá-lo do seu grupo de amigos de infância.
Para além disso, na cabecinha dele, o tempo é relativo e ele acha que lá para janeiro regressa para junto dos amigos a tempo da festa de Aniversário.
São estes os momentos em que o meu coração fica um pouco mais apertado.
Portanto, há coisas que só ao tempo dizem respeito. Por agora, temos conversado sobre tudo o que os espera, temos visto fotografias e lido livros.
O que temos cá, temos fortalecido laços e aprendido que os amigos do coração vão connosco para todo o lado, porque no coração não existem fronteiras.
E, como tal, passar tempo com os nossos amigos e família e com os amigos deles tem sido uma prioridade. E temos aproveitado muito e eles também, para que, sobretudo o Vicente perceba que os amigos não se resumem à escola, pois quando são amigos de verdade, não faltam oportunidades para estarem juntos e passar tempo em brincadeiras.
Mas como disse, há coisas que só ao tempo dizem respeito e prefiro deixar fluir. Vou doseando a informação à medida que é preciso, minimizando a ansiedade e fazendo com que, enquanto estamos cá, aproveitemos ao máximo.
P.s: E para quem perguntou se o Vicente e a Laura falam francês, não, ainda não falam, embora digam umas palavras a soltas aqui e ali.
Boa noite!