Como a pandemia afecta as crianças e como as podemos ajudar?
Dicas Para Gerir A Pandemia Junto Das Crianças
Em relação às crianças, o impacto real desta pandemia é um pouco mais dificil de avaliar. É certo que o porte de máscaras dificulta as interações socias, sobretudo em bébes e crianças pequenas, que ainda possuem uma utilizaçao limitada da linguagem e baseiam grandemente a sua comunicaçao nas expressões faciais e linguagem corporal. Da mesma maneira, os contactos sociais restritos podem representar um empobrecimento do mundo social da criança e do adolescente, numa idade em que os pares representam um elemento central na construção da identidade, na socialização e no desenvolvimento da autonomia e da empatia.
É preciso lembrar que, pela primeira vez, estamos a viver num mundo em que, de uma forma massiva, « o outro » - mesmo quando esse outro costumava ser alguém próximo – é visto como potencialmente perigoso e em que nós (incluindo as crianças) também podemos ser considerados como uma ameaça para e por aqueles a quem queremos bem. Isto é altamente destabilizador para uma criança que precisa de se sentir segura para ter a confiança, a força e a vontade de partir à descoberta do mundo que a rodeia.
É então normal e esperado que as crianças possam ter reacções de stress, medo e incompreensão similares às expressas pelos adultos. Sobretudo quando elas assistem às mesmas mudanças drásticas de contexto que os mais velhos e que elas sao espectadores (muitas vezes de primeira linha) do stress e da incompreensão dos pais.
Assim, vamos assistir a crianças que se mostram mais inibidas face aos « estranhos », que podem apresentar medos, dificuldades de comportamento ou mesmo períodos de oposição mais acentudados. Enquanto pais, devemos sobretudo estar atentos a tudo o que sejam mudanças importantes de comportamento que podem ser um sinal indicador de stress da criança : alterações do comportamento, do humor, do sono, da alimentação… Agressividade, medos, comportamentos ritualizados, regressão no que diz respeito a competências ja adquiridas anteriormente como, por exemplo, utilizaçao da chupeta/chuchar no dedo quando este comportamento ja tinha cessado ou os « acidentes » nocturnos.
Assim, é importante ajudar a criança a nomear e expressar as suas emoções e acompanhá-la, validando a sua experiência emocional. Enquanto pais, podemos não só exprimir e partilhar as nossas próprias emoções, medos e angústias com os nossos filhos (de forma apropriada e com uma linguagem adaptada à idade da criança !) mas também servir de modelos para a regulação emocional, mostrando exemplos de como gerimos situações e sentimentos desagradáveis.
E sim, na maioria das vezes, e mesmo quando o tentamos esconder, os nossos filhos percebem que não estamos bem. Mais vale então falar, nomear e explicar à criança que uma reacção de medo face a uma situação nova e desconhecida é uma resposta normal, esperada e que tem uma função adaptativa.
Algumas pistas para gerir a situação com crianças :
- A primeira coisa a fazer quando se quer abordar um assunto delicado com uma criança é tentar perceber o que é que ela já sabe sobre o assunto!
É muito fácil projectarmos os nossos próprios medos e preocupações numa criança. Perguntar e, sobretudo, ouvir atentivamente as respostas que ela nos dá, é essencial para responder da melhor maneira possivel e não alarmar mais do que é preciso.
- Da mesma maneira, não devemos minimizar as reacções de medo e de insegurança de uma criança.
Devemos validar ao máximo os seus sentimentos, mesmo que eles não correspondam aos nossos. Validar não significa concordar mas sim dizer-lhe que ela tem o direito de sentir o que está a sentir.
- Utilizar sempre uma linguagem adaptada à idade e capacidade de compreensão da criança.
- Enquadrar e falar de um eventual confinamento ou fecho das escolas como medidas positivas e de protecção facilita a aceitação destas mudanças pela criança.
Utilize um discurso de esperança e de optimismo realista, mas sem fazer falsas promessas. As crianças sabem que não temos todas as respostas. Elas não estão à espera que lhes demos certezas, tudo o que elas querem é, como nós adultos, ser ouvidas e compreendidas.
- Criar novos rituais em família em que salientamos o positivo.
Insistir nas rotinas (flexiveis!) e na recriação de uma vida tao normal quanto possível.
- Quando as coisas se tornarem mais complicadas utilise o humor, a imaginação, exemplos tirados de filmes ou livros que a criança aprecie. Desdramatize!
Adapte sempre estas e outras sugestões à personalidade e forma de funcionar dos seus filhos e, em caso de dúvida, não hesite a contactar o seu pediatra ou um psicólogo para pedir conselho. Para as crianças como para os adultos, quanto mais precoce for a intervenção, maior será a probabilidade que ela seja eficaz e implementada com sucesso.
Sobre a Dra. Andreia Santos...
É psicóloga clínica e psicoterapeuta, especializada no acompanhamento de crianças e jovens, assim como, em terapia familiar. É formadora no campo da educação positiva, organizando com frequência ateliers para grupos de crianças. nos quais são trabalhadas competências sociais, a empatia, a auto-estima e onde se aprendem técnicas de regulação emocional.
É uma apaixonada pela psicologia positiva e pelo potencial humano e, acredita mesmo, na importância da promoção da saúde mental desde a mais pequena infância. Neste momento, tem o seu consultório próprio - L'Officine des Petits Bonheurs - onde recebe crianças, jovens, adultos e famílias, em Montgomey (Bruxelas). Paralelamente, e para chegar ainda mais longe, propõe sessões online.
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