As férias deles e as minhas férias...
Deixamos que o tempo entrasse devagar nestas férias. Permitimos ao corpo descansar sem andar sempre a correr de um lado para o outro. E é desta maneira que temos vivido este mês de agosto, a única altura do ano em que realmente conseguimos tirar férias os quatro.
Começamos mais a Norte do país, e bem, nas Casas do Lupo. Descansamos muito, o suficiente para que a correria dos filhos até passasse despercebida. Regressamos a casa e, depois de cancelar a nossa ida para Monchique, pelas razões óbvias, voltamos agora a quebrar a rotina, desta vez para sul.
E imaginem que sem andar à pressa, conseguimos sair de casa à hora planeada de véspera, sem atrasos e sem birras ou discussões. Foi uma grande vitória. Durante toda a viagem ouvimos os miúdos a perguntar se faltava muito, a combinar brincadeiras e cheios de entusiasmo. São as férias grandes e temos conseguido cumprir o nosso objectivo: o de passarmos tempo de qualidade a quatro.
Não andamos a correr. Não ficamos presos em filas. Não estivemos no meio de multidões. E tivemos muito tempo para dedicar aos nossos. Sim, o (querido) mês de agosto é sinónimo de matar saudades das nossas pessoas que vivem longe (geograficamente) ou, então, que até moram mais ou menos próximas de nós, mas que as rotinas e exigências diferentes do dia-a-dia acabam por nos afastar. Enfim, acho que não vale muito a pena tentar contrariar algo a que, mais cedo ou mais tarde, todos nos sucumbimos.
Contudo, desde que sou mãe, algo mudou. Há duas pessoas que são uma extensão de mim e que depositam tudo aquilo são e que têm na figura da mãe. É incrível e, ao mesmo tempo, assustador. Eles esperam, de mim, as respostas, a iniciativa, as soluções, a companhia, o abraço, o colo, a paciência e tudo mais que, na sua existência, seja necessário. Às vezes, acho que devem pensar que sou uma máquina. Carregam no botão e sai água, noutro botão têm acesso directo ao pequeno-almoço mal acordam e por aí em diante. Todos os dias, 24 horas por dia.
E é nas férias que me esforço ao máximo para manter a serenidade e a capacidade de lhes praticamente tudo o que eles precisam e desejam na medida em que pedem. São as férias grandes, a única altura em que a mãe e o pai não chegam tarde do trabalho ou, então, que não têm que passar muitas horas longe dos pais. Respiro fundo tantas vezes quanto possível e conto muitas vezes até mil e sabem porquê? Porque enquanto o pai ou a mãe perdem facilmente a paciência e cedem ao comportamento mais óbvio e também mais errado, são eles que nos surpreendem sempre.
O Vicente não precisa que lhe diga quando eu estou mesmo cansada e parte dele a iniciativa para dizer a todos que precisam ajudar a mãe na hora de fazer as malas. Ele já sabe que “há uma condição para...”. Já percebeu que a mãe não é de ferro, que fica exausta e que, embora a culpa não seja deles, eu preciso deles para dar a volta.
Contudo, se fechar os olhos e tentar imaginar a minha vida antes disto, não sei se serei capaz ou se, sequer, eu quero fazer isso. Este presente que eu vivo condiciona-me a mim. Porém, por outro lado, na forma como eu encaro ser mãe e nas escolhas que fizemos, em primeiro lugar está a minha presença junto deles. Está a minha companhia e presença no seu dia-a-dia e permitir-lhes criar memórias felizes nestes anos da infância e, se possível, pela vida fora. Mas especialmente agora que eles dependem de mim e depositam todas as suas expectativas em mim.
São praticamente dois meses com os dois em casa. Houve tempo para aulas de skate, para idas a parques diferentes, para brincadeiras comigo quando lhes apeteceu, foram passeios e foi, acima de tudo, reviver os amigos. E essencialmente foi importante para a convivência dos irmãos.
Eu não tenho férias e foi difícil conciliar tudo. Foi difícil não pensar que estava a deixar-me para trás e que estaria a abrir mão da minha profissão, que já de si é tão particular. Contudo, foi precisamente desta pressão que eu quis fugir há um tempo atrás. Foi desta pressão que sociedade nos impõe para esconder que a mãe que queremos ser que eu quis fugir. A mãe que eu quero ser é a mãe capaz de parar tudo para os acompanhar e que dá o litro nesses entretantos para que o resto não fique para trás sem peso na consciência. As habilidades de multitasking aprumam-se é verdade....
A mãe que sou decorre da mulher em que me estou a tornar todos os dias. Depois da fase complicada, renasce uma Vera plena e segura de si e das suas escolhas. Continuo a ter tanto para melhorar e esforço-me todos os dias para ser uma pessoa melhor. Mas são precisamente os meus pontos fracos que estão a tornar-me mais forte.
Aceitar que tenho que parar quando é preciso. Aceitar que posso dormir e permitir-me fazer diariamente as escolhas com base no que é mais importante para mim e não para dar o “jeitinho” aos outros. Continuo sem medo de olhar bem para dentro de mim porque é isso que me diz onde está aminha felicidade.
Vamos a isto Algarve! Estamos prontos para aproveitar tudo aquilo que tens para nos dar.
Boa noite.