Ácido Hialurónico e Botox: amigos ou inimigos? | Entrevista Dra. Ana Silva Guerra
- Ácido Hialurónico e Toxina Botulínica. O que são?
Dra. ASG: A toxina botulínica, mais conhecida por botox, é uma proteína purificada e altamente compatível connosco que, usada na dose certa, serve para relaxar (eu não gosto de dizer paralisar os músculos). Eu gosto de usar a toxina botulínica como um preventivo do envelhecimento e não tanto como um tratamento. Desta forma, vai evitar que as rugas se instalem de uma maneira tão intensa no rosto.
E não devemos ter receio, pois a dose é segura, o procedimento é bastante simples e os resultados são temporários. Aliás, nada do que fazemos na face deve ser permanente. O que eu recomendo, inclusivamente numa primeira vez, é usar uma dose reduzida para a pessoa se habituar, vermos como o organismo reage e depois então passar a dose plena, mas já sabendo com o que contamos.
Convém referir que a metabolização dessa proteína nos organismos pode acontecer de forma diferente nos indivíduos. Vai depender da toma de fármacos, do estilo de vida, da própria mímica da pessoa, etc. isso tudo vai fazer com que exista alguma variabilidade.
O ácido hialurónico é uma substância que já existe no nosso corpo. Existe na pele, nos tendões, no olho, nos nossos órgãos e sistemas, existe tanto no reino animal como vegetal, portanto não é nada de estranho ao nosso organismo. Contudo, vamos perdendo na pele o ácido hialurónico com a idade. Logo, injectar ácido hialurónico no nosso rosto só vai permitir atrasar de novo esse processo de envelhecimento, recuperando um pouco a hidratação e a luminosidade que vamos inevitavelmente perdendo.
A minha ligação ao meu hospital de S. José acho que muda radicalmente a minha maneira de agir. Faz toda a diferença, pois uma coisa é ver pessoas doentes mesmo e depois tenho esta parte. E acho que consigo fazer um equilíbrio. Aliás, sou eu mesma que peço para algumas pacientes terem calma. Os resultados chegam com o tempo, não estamos a lidar com algo que seja demasiado grave para a nossa saúde, por isso, vamos com calma.
- É possível, através destas técnicas, melhorar sem transformar? Porque não devemos ter medo deste tipo de tratamentos?
Dra. ASG: Eu não sou nada a favor da transformação. Acho que melhorar sempre, prevenir sempre, recuperar uma ou outra zona do rosto que, entretanto, se perdeu à medida que o tempo foi passando, mas não transformar. Devemos manter a nossa identidade acima de tudo. E isso é totalmente possível.
- Quais são os principais mitos em torno destes tratamentos?
Dra. ASG: A toxina botulínica, se for usada com rigor e moderação, não nos vai dar um ar estranho na testa nem fazer a pálpebra cair. E preciso analisar o rosto e perceber qual o tratamento mais adequado a cada pessoa. Mas, por exemplo, sabe onde é que usamos muito a toxina botulínica? Nas pessoas que sofrem de hiperidrose, naquelas pessoas que transpiram muito das mais e dos pés, isso não e nada estético e perturba muito a qualidade de vida. E é mais do que seguro utilizar.
A mesma coisa para o ácido, a preocupação com o vou injectar, vou reagir, o meu corpo não vai aceitar, totalmente compatível com o nosso organismo. Não ter nenhum tipo de reacção adversa. E mais uma vez repito, não devemos usar nada permanente no rosto. Se fizermos desta forma, vamos estar sempre a fazer bem.
Uma das coisas que mais assusta as minhas pacientes, por exemplo, é o preenchimento de lábios. Têm sempre muito receio de que fique demasiado ou exagerado. Nós conseguimos controlar perfeitamente a dose que usamos. É importante esclarecer que uma coisa é certa, no dia seguinte, vão estar inchadas. É um dia diferente, mas, daí em diante, as coisas melhoram. São as inerências do processo. O que importa ter conta, peso, medida e bom senso.
- Qual a duração média (4 meses, 6 meses, 1 ano…)? É obrigatório repetir? E a nossa pele retrocede completamente após os componentes serem absorvidos?
Dra. ASG: Toxina Botulínica
Nós fazemos a toxina e o nosso músculo, por um período - que serão os 4, 5 meses - vai ficar clamo. As nossas rugas de repente vão deixar de ter um estímulo. As rugas não vão progredir. Passado esse período, eu não digo que voltemos à estaca zero. Mas voltamos um passo atrás aquilo que estávamos quando fizemos a toxina a primeira vez. Agora, se voltamos a fazer daí a 4 , 6 meses ou um ano, o importante é que só iremos estar a beneficiar com isso. O efeito cumulativo da toxina, a sua repercussão na pele vai ser sempre positiva.
Mas é natural que à medida que vamos fazendo, aumentemos o espaçamento entre os tratamentos. Só vamos travar o músculo em zonas muito específicas.
Ácido Hialurónico
Quem faz vai perceber que a sua pele, passado um ano imaginemos, tem uma consistência completamente diferente de uma pele que nunca levou ácido hialurónico. Porquê? Porque o ácido hialurónico vai funcionar como um potente hidratante das nossas células. Vai ser um estímulo para a nossa produção de colagénio, de fibroblastos. E isto é de facto o que acontece. Logo, fazermos ácido hialurónico, a medida que se vai degradando, aquela pele já recebeu mais colagénio, a pele está mais firme, mais luminosa e mais hidratada.
- A partir de quando é recomendado começar a pensar neste tipo de tratamentos?
Dra. ASG: Nós podemos fazer este tipo de tratamento não só no âmbito estético. Nós podemos fazê-lo também no âmbito reconstrutivo e aqui nós podemos não olhar tanto para a idade. Imaginemos, por exemplo, uma cicatriz, uma mordidela de um cão (como aconteceu comigo), um traumatismo na face que deixou uma depressão, entre outros casos, numa pessoa com 18 anos ou mesmo mais nova, se for o ácido hialurónico, não me choca nada a sua utilização.
Agora no âmbito da estética sim, faz sentido, que seja a partir dos 18 dos 21 anos, talvez, em que, à partida, temos um pouco mais de maturidade. Podemos trazer os pais, perceber o que se está a passar. Imaginemos uma jovem com cicatrizes de acne, nós podemos ajudar com ácido hialurónico. Não é preciso chegar aos 30 anos para resolver isso. Aliás, as exigências sociais são agora muito mais recentes e começam muito mais cedo. Existe é um certo receio e, sobretudo, desconhecimento.
Agora, o importante a reter é que, na utilização do botox e do ácido hialurónico, a intenção é sempre prevenir e melhorar. É evitar degradação, não tanto causar algum tipo de transformação.
Mas o que é que acontece, é que quanto mais envelhecemos, maior será depois a dose necessária a injectar e daí ver-se muitos casos de rostos completamente alterados. E cabe aos profissionais saber dosear e ter igualmente a capacidade de dizer chega.
- Uso da cânula versus agulha:
Dra. ASG: As duas têm lugar no rejuvenescimento facial. O que acontece é o seguinte: em zona profundas e em zonas mais sensíveis, nós trabalhamos muito bem com a cânula. E qual é a diferença? A cânula e romba não pica, podemos caminhar pelos nossos tecidos abaixo da pele, podemos espalhar o nosso produto com muito mais tranquilidade e sem dor. E sem tanto risco de hematomas.
A agulha nós usamos para as rugas mais finas, pois é muito mais prático. Assim como o contorno do lábio, nós podemos conciliar as duas.
- São tratamentos estéticos exclusivos (ou não) a uma determinada classe sócio-económica?
Dra. ASG: De todo. Existe forma de tornar estes tratamentos mais acessíveis e porquê? Sabemos que, muitas mulheres decidem e gastam, algum dinheiro em cremes que considerem que são úteis e são bons, mas que não passam de uma camada mais superficial da nossa pele. De facto, os cremes são úteis e é necessário hidratar a pele, contudo, acho que com uma gestão de recursos e de orçamento diferente. Ou seja, poupar um pouco nos cremes e juntar para realizar este tipo de tratamentos. Não tem que ser tudo de uma vez, mas não há que ter pressa. Não se trata de uma corrida contra o tempo. Mas vamos investindo na nossa pele de maneira diferente e com a garantia de que o resultado vai ser sempre bom.
A quem interessar, a minha experiência com o preenchimento de lábios na Clínica Ana Silva Guerra para ler (ou reler) em: Corrigir o rosto sem o transformar | O meu antes e depois.
E, desta forma, espero ter contribuído para desmistificar um pouco o assunto. A minha experiência tem sido bastante positiva. Mas, tal como a Dra. Ana Silva Guerra referiu nesta entrevista, tudo com peso e medida e, acima de tudo, sem pressas. Contudo, são, sem dúvida, dois aliados na minha prevenção do envelhecimento.
Por fim, quero, obviamente, agradecer a disponibilidade da Dra. Ana - e de toda a equipa - em dispor do seu tempo para poder responder a estas questões.
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