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As viagens dos Vs

Mulheres nutridas, famílias felizes

As viagens dos Vs

Acabaram-se as manhas e os mimimis!!!!

27.09.18 | Vera Dias Pinheiro

separação dos filhos

 

As crianças testam e apanham o nosso ponto fraco. São bem mais astutas a fazerem o diagnóstico aos pais do que o contrário. E sim, têm (muitas) manhas e uma mente bem engenhosa para nos darem a volta. O assunto é, o “the same old story”, separação das crianças dos pais! Esse sofrimento que se lhes é infligido quando os temos que deixar ao cuidado de outra pessoa que não o pai, a mãe, a avó/avô ou qualquer outra pessoa com quem a criança esteja habituada a ficar.

 

E conto-vos uma história da qual só me relembrei há poucos dias, enquanto andava remoída e sofrida com as manhãs penosas, com a resistência da Laura à escola e com tudo o que ela já verbaliza.

 

Quando mudei para Bruxelas e à medida que eu ia criando as minhas próprias rotinas, custava-me cada vez mais ter que parar tudo de cada vez que o meu marido viajava – e que eram muitas praticamente todo os meses. Não queria ter que interromper o meu curso de francês ou deixar de ir ao ginásio, por exemplo. Aliás, era precisamente nos momentos em que estava sozinha que precisa de arejar a cabeça.

 

E assim, fui ganhando mais confiança em mim para arranjar uma babysitter e ultrapassar todos os receios que pudesse ter. E lá encontrei uma pessoa que eu adorava e que claramente tinha um dom especial para cuidar de crianças. O passo seguinte era deixar o Vicente com ela, sentir que ele ficava bem e que, com a habituação, não se sentisse entregue a uma estranha. E, nesses momentos, comecei a viver o tal drama da separação que os miúdos nos infligem.

 

Os instantes, entre a chegada dela e a minha saída, aquela passagem de testemunho, eram um tormento que me faziam repensar se valeria assim tanto a pena. Mas claro que valia e aquilo tinha que resultar. Aliás, eu recebia várias fotografias do Vicente ora a comer, ora a rir e a brincar ora a dormir descansado.

 

Todavia, da vez seguinte, o caos instalava-se, os braços abriam-se em desespero e eu fazia o caminho até a Alliance Française a sentir-me a pior mãe do mundo! Até ao dia em que, na minha cabeça, se fez luz. Afinal, ele ficava bem, brincava, comia, adormecia tranquilo, a babysitter era super carinhosa e era brasileira, portanto, qualquer tipo de barreira linguística não era hipótese. E foi nesse momento, que eu disse para mim que a chantagem emocional iria acabar e que eu iria passar a ser determinada, segura e rápida nas despedidas.

 

E assim foi e sucessivamente as coisas foram normalizando. Ele continuava bem e eu estava muito mais em paz comigo mesma e, ao mesmo tempo, feliz por não estar a abdicar de uma coisa que, para mim, era importante.

 

Contudo, isto tudo é para vos contar que, há poucos dias, tive o mesmo momento de “luz” na minha cabeça com a Laura. Nesta paragem, com a gastroenterite viral, que foi das fortes e, por isso, a melhor decisão foi tê-la em casa - esta menina que de parva não tem nada – e ainda bem – percebeu que ter uma dor fazia com que ficasse em casa. Deste modo, desde que se apercebeu que ia voltar à escola que me tenta enganar todas as manhãs.

 

E como já percebeu que a barriga já não resulta – até já fomos ao hospital e já está medicada - há sempre uma dor num pé ou num braço. Se não der saída, lá vem a história de que não gosta da escola e, depois de muita conversa, o que ela não gosta mesmo é de não ter a mãe lá com ela. Nada de novo, certo?

 

Certo! Mas então o que aconteceu de diferente?! Aconteceu que eu sinto que já lhe dei o tempo necessário para se aperceber que os dias agora são passados na escola. Como tal, as transições não podem ser feitas com grandes confianças nem com margem para ela vir com todos os seus mimimis. E nisto, tenho tido a ajuda de uma auxiliar, que tem sido despachada a levar a Laura e que, entre uma conversa e outra, ela própria se despede de mim sem se dar conta. Um dia foi ver os bebés, no outro foi arrumar as fraldas dos bebés e assim tem ficado.

 

Desde o momento em que acorda até entrar na sala, a lengalenga dela é a mesma, mas a minha também é! É assertivamente sempre a mesma! Eu estava a sofrer muito, começava os meus dias de rastos e emocionalmente em baixo. Houve um dia que eu quase cedi e quase trouxe a Laura de volta para casa.  Sentia-me culpada por ela e por mim, que há tanto que desejava ter este tempo para mim e que agora passava o tempo, sem ela fisicamente, mas a controlar da mesma forma os meus dias!

 

Desde segunda-feira que deixei de ceder às manhas e aos mimimis matinais! Sou tão rápida a despachar a mim e a eles, que quando dá por ela já está na escola sem tempo para chorar ou pedir-me para ficar com ela.

 

A adaptação dos filhos a qualquer coisa, não só a escola, passa também por esta adaptação dos pais às situações, pelo momento da sua maturação e da certeza das suas decisões. Se está tudo bem, se estamos seguros quanto à escola e à forma como cuidam dos nossos filhos, o caminho é este! E sinto-me muito mais aliviada, talvez menos se ela retroceder, mas cá dentro já amadureci esta fase de transição e de adaptação e não há volta a dar!  

 

É assim, acabaram-se os mimimis! 😊

 

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