Parabéns, minha querida mãe!
Para a melhor mãe que podia ter tido.
Em primeiro lugar, queria dizer o quanto isto é tudo ainda muito novo – e, ao mesmo tempo, estranho - para mim. Falar da minha mãe sem a sua presença física junto de mim. As cartas que lhe escrevia, as mensagens e até os posts aqui no blog, agora assumem uma espécie de homenagem para alguém que jamais iremos esquecer e que marcou a nossa vida das coisas mais simples do dia-a-dia às mais grandiosas.
Hoje é o dia do seu aniversário, o primeiro que passamos nesta mistura de sentimentos angustiantes e numa luta interna para travar o impulso que existe em pegar no telefone para lhe falar. Nestes meses que se passaram desde que nos deixou fisicamente, aquilo que existe é um enorme vazio, um vazio que ainda não consegui perceber de que forma será preenchido. Olho para trás e é como se mesmo atrás de mim estivesse um abismo. A força física e mental para seguir em frente sem me deixar cair é sobre humana. Aposto que é divina, pois só assim conseguimos superar a perda de uma mãe.
Mas hoje é o seu dia e sempre será. O dia de uma mulher que se achava frágil, mas que era forte. Uma mulher que vivia atormentada com as perdas do seu passado, mas que transformou isso em amor e em cuidado comigo e com os netos. Uma mulher que tinha a força de um gigante, as suas mãos transformavam tudo: fatos para as festas da escola, para o carnaval, os arranjos que fazia em casa, a delicadeza com que cuidava da nossa roupa, as massagens que me fazia, as únicas que alivavam a minha má circulação, as mãos com que fazia festinhas e com que apertava a minha – andávamos muitas vezes de mãos dadas, é verdade, e sabem porquê? Porque eu gostava de sentir a força com que me agarrava, era uma espécie de porto seguro e de paz. Era a personificação de que não era preciso ter medo, porque, no final, tudo acabaria por correr sempre bem.
As suas mãos… algo que ficará para sempre na minha memória. Fortes e robustas, capazes de tudo. As mãos que herdei, que podem não ser as mais bonitas e delicadas para usar anéis, contudo, olho para elas e continuo a acreditar que não existem impossíveis e que a força que preciso para tudo na vida, eu tenho-a comigo. Pelo menos, é dessa forma que eu escrevo a tua/ nossa história. Porque no final, minha querida mãe, acabará por ficar tudo bem!
Não era um dia que gostasse de festejar, porém todos os aniversários que passou connosco, em nossa casa, foi “obrigada” a soprar as velas e a abrir um presente, ou não, pois isso não era o mais importante para ela. Porque cada dia podia ser o último – mesmo antes de sequer imaginar o que o cancro batesse à nossa porta.
Todavia, a lei da vida – se tudo correr bem – é que os nossos pais partam à nossa frente e, independentemente das circunstâncias, dos motivos ou da idade, quando nascemos é algo que vem registado no nosso ADN. Eu sabia que um dia tu seguirias o teu caminho numa outra dimensão e, nos últimos três/quatro anos, tudo o que me movia era isso. Viver-te, dar-te, ter-te, beber-te em todos os minutos que me fossem possíveis. Mas acima de tudo, os teus netos que, mesmo pequenos e com medo de te esquecer, viveram a sua avó com uma intensidade maravilhosa. Cada um à sua maneira, tem a sua avó vincada na personalidade, nos hábitos, nos gostos e até na maneira de fazer as coisas mais banais.
Foi pouco, mas foi abundante. Foi pouco, mas foi rico. Foi pouco, mas foi em amor. Foi pouco, mas foi sem palavras por dizer, gestos por fazer ou momentos por viver. Tivemos tudo, querida mãe, nós tivemos-te a ti e tu a nós. E hoje o céu e a terra estão em festa, uma festa em tua honra, querida mãe. A sorte de quem te recebeu aí e eu, embora triste, frágil e incompleta, escolhi a aceitar a tua partida. E se no meu dia-a-dia não choro mais é porque estou em paz comigo e connosco.
Tivemos tudo! Eu disse-te tudo, abracei-te sempre que foi possível, dei-te carinho até ao último dia, o dia em que voltei a sussurrar o quanto te amo, um amor intemporal, que vive em mim todos os dias, tal como tu!
Muitos parabéns, minha querida mãe! Será sempre um orgulho ser a tua filha casula.
Amo-te!