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As viagens dos Vs

Mulheres nutridas, famílias felizes

As viagens dos Vs

#throwbacktime | Aconteceu isto tudo na minha vida em 12 meses!!!

Foi Isto Que Mudou Na Minha Vida Nos Últimos 12 Meses

04.06.20 | Vera Dias Pinheiro

#throwbacktime, o último ano da minha vida

 

Estamos em junho e, por esta altura, há um ano atrás, a nossa vida estava a entrar novamente na adrenalina da mudança. Parece que foi ontem, mas não foi…

 

Há um ano, um pouco mais vá, em março, eu voltava a Bruxelas pela primeira vez após o nosso regresso em 2015, e novamente para preparar um novo regresso. E, nessa altura, a cidade não nos recebia com este sol que tenho partilhado. Estava muito frio, mas os arrepios que senti era de quem via a sua coragem abalada com a nova conjuntura da mudança: duas crianças, com 3 e 6 anos, completamente integradas e enraizadas na escola e amigos. E afastá-los da avó que tinha sido, nos últimos anos, a mais que tudo na vida deles!

 

Pouco tempo depois, em maio, voltamos para as visitas às casas. As preocupações, as questões a gerir e aspectos a ponderar e, perceber, que a casa ideal é praticamente impossível de encontrar. A nossa primeira opção, foi privilegiar a localização. Todavia, rapidamente percebemos que nunca íamos encontrar uma casa naquela zona que não tivesse um problema ou uma obra por fazer ou simplesmente que nos desse alguma alegria ao entrar.

 

Foi aí que mudamos os planos, pois talvez, para nós, a casa em si fosse mais importante do que a localização e foi aí que encontramos a casa dos nossos sonhos - e digo assim, porque a casa tem a nossa energia, a casa estava vazia e já havia ali qualquer coisa de nosso, algo inexplicável. E com todas as certezas, avançamos com a nossa proposta, regressando a Lisboa já com a certeza de que a casa seria nossa!

 

Por esta altura, em junho, já havia muita caixa na nossa casa, muita desarrumação. Enfim… Entretanto, também por esta altura, a minha mãe andava já muito doente. Já estava em exames e muita suspeitas em cima da mesa. Mas… até a termos a certeza, acreditamos sempre não, que não vai acontecer connosco! Não é verdade?

 

No meio de caixas e caixotes, fui ainda operada de urgência a uma apendicite em estado grave. Sai do hospital em menos de 24 horas e fui directa para a festa de finalistas do Vicente, o pai viajou de urgência para Portugal e estivemos todos juntos, entre lágrimas, dores e amor.

 

Duas semanas após ter-me instalado em Bruxelas, a minha liga-me e anuncia-me o seu diagnóstico. Nunca irei esquecer o seu tom de voz e a forma crua com que partilhou comigo aquela notícia, sem nunca ter sabido que, naquele mesmo dia, tinha-se accionado a dura e sofrida contagem decrescente da sua vida. O murro no estômago que levei foi tão forte, quanto a força que fiz para não alterar o meu tom de voz e para aguentar as lágrimas, por ela e pelos meus filhos que estavam ao meu lado. A garganta secou e foi como se a minha vida, a nossa, tivesse acabado.

 

E, de repente, o nosso sonho de regressar a Bruxelas, de trazer a minha mãe… nada daquilo fazia mais sentido. Eu não percebia como poderia viver a partir dali. Pensei, muitas vezes, com que direito estou eu a fazer a minha vida… A juntar a isso, vivia a pressão da adapção de duas crianças – e a minha, claro, não sejamos hipócritas e omitir que para nós também e difícil.

 

E agora, estamos novamente em junho, e as coisas boas é que as crianças se adaptam realmente com facilidade. Fizeram amigos, aprendem a língua com facilidade e gostam de cá estar. Crescerem imenso neste ano, quer física como mentalmente e são dois seres humanos totalmente diferentes, mas ambos com uma força enorme dentro deles e muita coragem também.

 

E eu… eu continuo a aprender a ser melhor pessoa por eles, mas, acima de tudo, por mim. No meio de tudo isto, tivemos ainda uma pandemia e um confinamento e eu tive que acionar o seu eu solitário. Tive que o despertar e dar-lhe as ferramentas para eu conseguir estar aqui hoje de cabeça erguida e sem lágrimas enquanto vos escrevo. Porque a maior lição da minha vida neste ano é que eu preciso ser suficientemente capaz de me ajudar, eu preciso de ser capaz me adaptar ao mundo, aos problemas, mas ultrapassando-os, dando a volta, compreendendo. Dando-me o direito de dizer não, de exigir que respeitem o meu espaço, de estabelecer prioridades, de não me comparar e de ser simplesmente … eu!

 

Porque eu perdi uma parte significativa do meu ser, foi como se deixasse de ter abrigo, encosto e, como tal, tenho que ser capaz de andar (sempre para a frente) sozinha.

A minha mãe era a pessoa que estava sempre lá, a quem eu ligava no regresso a casa, com quem partilhava as coisas na hora. Era a pessoa que estava sempre ali para mim, com toda a sua atenção e compreensão de mãe. Sem julgamentos, sem nada! Era a única pessoa que me compreendia tal como eu sou e que me nunca perdia de vista a minha essência, mesmo com as minhas fúrias, o meu mau feito por vezes, as minhas inconstâncias e vontades de estar sozinha ou de não querer falar.

 

Não descobri a força agora.  Agora descobri que eu sou importante e que preciso ouvir-me mais e dar-me mais. Descobri outra coisa importante, depois de tantas dúvidas e incertezas, o meu lugar é aqui, com esta família, mesmo com todos os problemas e dificuldades que temos enfrentado. É aqui, por agora, é aqui que quero estar e onde me entrego a 100%.

 

E, por fim, quando conseguimos aprender a olhar para a nossa vida desta perspectivas, o universo é bondoso e dá um jeito para a nossa vida não parar. O trabalho tem surgido, os imprevistos têm sido ultrapassados e, o mais importante de tudo, a família pequenina que tenho, está mais unida do que nunca.

 

E, ao final do dia, ser capaz de fazer este balanço (positivo) é mais do que suficiente para eu agradecer!

 

 

 

 

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Os comportamentos que se perpetuam nos exemplos que (lhes) damos.

O Racismo: A Outra Pandemia Que Aflige A Humanidade

02.06.20 | Vera Dias Pinheiro

racismo, black lives matter

 

Hoje é um daqueles dias em que, face ao que se passa no mundo – na minha opinião, outra pandemia, a do racismo e das suas vítimas - qualquer assunto que se aborde parece inoportuno e desapropriado.

 

Contudo, quando soube o que se tinha acontecido nos EUA, a morte por asfixia de George Floyd, quando vi os vídeos e todas as imagens aterradores de quem está a assistir ao vivo a uma morte – seja de um branco ou negro – de forma silenciosa e impotente, é já incompreensível, quanto mais sequer pensarmos na agravante de ser um acto racista. E, naquele momento, foi automático a forma como revi na minha mente, um episódio da série da Netflix, Orange is the new black.  

 

Foi, sem dúvida, uma das melhores séries que vi. Para quem não viu, e muito resumidamente, é uma série cuja história se desenrola num estabelecimento prisional feminino para pequenos delitos, nos EUA. E houve um episódio marcante e de viragem no motim que estava a acontecer: a morte de uma presidiária negra precisamente da mesma forma e ouvindo-se os gemidos constantes de quem não conseguir gritar “I can´t breathe!”.  

 

Na altura fiquei chocada e incrédula, mas era ficção. Porém, quando nos apercebemos que o mesmo pode acontecer, em pleno século XXI, em plena rua… é um murro no estômago.  E eu penso: “em que raio de mundo estou eu a educar os meus filhos?” Fala-se tanto de progressos e de evoluções… e, afinal, que mundo é este em que vivemos? Em que a estas mortes, se juntam tantas outras sem motivo ou justificação, sem idade ou género ou raça?

 

Acabamos de sair de uma pandemia, que nos obrigou a todos a ficar fechados em casa. Durante esta pandemia conseguiu-se travar o consumo exagerado, atingimos os níveis mais baixos de poluição, recuperamos tradições e o “shop local”, apoiamos os pequenos produtores, fomos obrigados a separar o supérfluo do essencial, tal era a privação a que fomos sujeitos, seja da companhia de pessoas que amamos, seja de  coisas tão básicas como assistir ao pôr do sol. E se no meio da desgraça que foi, estes valores que emergiram não seriam um bom indicador da uma mudança geral da Humanidade? Afinal, falamos de uma pandemia mundial, em que o factor “poder económico” não teve qualquer impacto nas consequências da Covid-19.   

 

Se calhar, foi mais uma tempestade, um pouco mais forte das que tínhamos vivido até aqui e que, a partir de agora, seguimos a nossa vida, focado no nosso umbigo e no nosso egoísmo. Será? Será vamos meter prega a fundo novamente e esquecer a lição que alguém muito acima de nós deu? Uma espécie de abre olhos para um futuro melhor?

 

Há quem me ache branda e tolerante de mais, que me insurgo pouco sobre as coisas que estão mal. Contudo, eu olho para este mundo assustadoramente cruel e frio que a única forma de me sentir “activa” no combate a isso é com a minha tolerância. Com o facto de não me insurgir por cada coisa que ouço e com a qual não concordo, com as asneiras que se cometem no trânsito, por evitar os confortos cara-a-cara. Porque, no final do dia, quando me deitar, é a paz que quero ter comigo e essa tal tolerância me ajuda a viver em paz comigo e com os outros que estão à minha volta, então, que seja assim. E que seja assim com os meus filhos!

 

Mas desenganem-se se pensam que tolerância é sinónimo de silêncio e de compactuar com atitudes ou pensamentos racistas sejam eles de que natureza forem. Todavia, não tenho dúvidas que continuamos a ter comportamentos em sociedade que continuam a perpetuar esse tipo de actos e para que, em pleno século XXI, ainda se discutam os direitos das mulheres, os direitos das crianças e o racismo. As cores, os tabus, as reacções, ainda que não verbais, mas físicas, os desconfortos, os padrões sociais nunca desfeitos… coisas “sem importância” que continuamos a passar às gerações mais jovens e a perpetuar diferenças e assimetrias.

 

Ser tolerante é para mim algo tão simples quanto dar a mão a qualquer pessoa que precise de ajuda, a olhar para trás antes de fechar a porta para ver se vem alguém, a respeitar o meu espaço, sem interferir no do outro, a aceitar que somos todos diferentes, mas todos temos os mesmos direitos.

 

Ainda assim, é incrível como ainda é tão difícil perceber que nada disto implica ter que conviver ou gostar, não! Tolerância é respeitar e deixar estar com a mesma liberdade que eu tenho para aqui andar! Só isso!

 

 

 

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