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As viagens dos Vs

Mulheres nutridas, famílias felizes

As viagens dos Vs

Também é preciso saber aceitar os dias assim...

Por Mais Compaixão E Amor Próprio.

18.06.20 | Vera Dias Pinheiro

aceitar os dias menos bons

 

Lentamente, à medida que algumas coisas regressam ao seu lugar, há uma certa tranquilidade se instala, o que torna mais assustador pensar na hipótese de reviver o que foi o confinamento, com o medo e o sentir, de certa forma, que vivemos uma espécie de guerra dos tempos modernos e sem que qualquer evolução ou desenvolvimento pudesse proteger os mais vulneráveis à Covid-19.

 

Acredito que a grande maioria de nós ainda sofre os danos colaterias da pandemia e do isolamento. Acredito que muitos casais e famílias se deparem com dificuldades que julgavam não ter ou que tenham descoberto fragilidades ou sentirem-se com os nervos constantemente oclocados à prova. Vamos falar da teleescola?!... É melhor não, não é? 😊

 

Eu mesma ainda me sinto a viver uma realidade paralela, como se tudo o que aconteceu na minha vida nos últimos meses tivesse sido afinal com outra pessoa qualquer que não eu! Agarro-me ao que de normal vamos conquistando e ao meu optimismo de que “após a tempestade, virá a bonança”. Agarro-me ao nosso trabalho que, felizmente, foi sempre estando activo, ao regresso dos miúdos à escola, ao marido que regressa à sua rotina e ao funcionamento normal das coisas e, depois, é como se os últimos três meses fossem arrumados numa lembrança distante. Não acham? Talvez seja a vontade de não voltar lá que é tão grande que nos faz esquecer do impacto psicologico que o confinamento e a pandemina tiverem em todos nós.

 

Enquanto mãe, os meus filhos acabaram por ver lados de mim que eu conseguia controlar na rotina normal. Com o meu marido tive discussões e impliquei com coisas que, em condicções normais, nem daria conta. Comigo mesma, que não sou diferente de ti, percebi que a minha caminhada interior ainda está longe de terminar, se é que algum dia virá a terminar. A acrescentar a isso, surguem as questões e as dúvidas! Argggh!

 

Porém, comecei esta semana com aquela sensação de contagem decrescente. O fim do ano lectivo aproxima-se e o passo seguinte é preparar a viagem para Portugal. Não são as condições ideiais, todavia o plano B, ou seja, o que conseguimos organizar dentros das circunstâncias saiu melhor que tínhamos imaginado. Só há uma coisa da qual eu não sinto saudades: é saber que vão ser dias tão corridos e sem descanso, tal é a pressão de quem vive expatriado e volta ao seu país para o verão.

 

As férias são para correr de um lado para o outro e sempre com aquele sentimento ingrato de não ter visto toda a gente e inevitavelmente ouvir “então, estiveram cá e não disseram nada!”. Como não lido muito bem com cobranças, confesso, que fico um tanto ou quanto desconfortável!

 

Por outro lado, não sei o que me espera, em termos de sentimentos, quando chegar a Portugal. É como se tivesse que voltar a encarar de frente a perda da minha mãe e gerir todos estes sentimentos que, de certa forma, sofreram uma espécie de anestesia ao ter “fugido” logo para este meu refúgio em Bruxelas. E como se o bicinho da revolta acordasse, deixando-me agitada, inquieta e … insuportável!

 

Preciso de um lugar para descansar mais a alma do que o corpo e ,sinceramente, não sei onde me pousar! A minha casa era o meu refúgio, depois, foi invadida pela pandemia e, mesmo agora, continuo a ter poucos momentos para estar efectiva com a mente em paz. Entretanto, vou para Portugal e assusta-me o que poderei sentir quando lá chegar e saber que, ao mesmo tempo, vou estar sempre rodeada de pessoas.

 

De certa forma, tenho que dar um passo de aceitação de ausência da minha mãe. Contudo, é como se ao fazê-lo eu estivesse a colocá-la num patamar de menor importância, percebem? Tirá-la do presente e passar a ser lembrança…

 

E é por isso que há e-mails que recebi e que ainda estão por responder, assim como mensagens. Acredita, não é por falta de educação! Mas é como se, no final, eu ainda não tenha chegado o meu momento de olhar para a minha mãe dessa forma. Entendem?

 

Há dias suaves, vários! Há dias em que acho mesmo que o pior já passou. Todavia, rapidamente acordo com uma angústia e uma inquietação, ao mesmo tempo, que tento contrariar a necessidade atroz de falar e de ligar. É quase como se fosse um toxicodependente em recuperação quando está a passar pela abstinência. Assim ando eu, com dias em que pouco ou nada me concentro e em que pareço uma barata tonta a tentar distrair as mãos e os pensamentos.

 

Também há dias assim…

 

 

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