Regressar à escola em tempos de Covid-19 | Como não ter medo?
Tentativa De Explicar Como Foi O Nosso Processo De Decisão
Vivemos tempos estranhos. Tempos em que tomar as decisões mais simples acarretam um peso e uma responsabilidade gigantes. Hoje em dia, ir ou não almoçar fora exige ponderação. Trazer os amigos para dentro da nossa casa ou ir a casa deles, coloca-nos uma série de dúvidas e hesitações. Voltar a proporcionar momentos de convívio para os nossos filhos, regressar à escola, ao trabalho, ao ginásio, pensar em férias e o momento em que reencontramos os nossos familiares, tudo isso causa-me algum desconforto. Estaria a mentir se dissesse o contrário.
Ainda assim, por diversas vezes, manifestei-vos que a minha escolha, face à realidade que vivemos actualmente, é a de seguir as regras, cumpri-las ao máximo, mas entrar na vida normal à medida que o desconfinamento foi sendo implementado e eu própria vou sentindo-me mais confiante.
Sendo que, para mim, a minha visão de normalidade é tão somente a possibilidade de sair de casa, de ir ao ginásio, ter os filhos na escola, sem importar-me de suprimir aqueles que podem ser riscos acrescidos e desnecessários. Considero inclusivamente que fazemos uma vida ainda uma vida regrada, quer em convívios pós-confinamento, quer em saídas cuja exposição e contacto social saia fora do nosso controlo.
E, nesse sentido, perante a mudança de posição do Governo belga, permitindo a abertura das creches e escolas primárias, eu fiquei muito feliz pela oportunidade que o Vicente e a Laura teriam em voltar a estar com os amigos e no próprio ambiente escolar que lhes permite serem livres sem as interferências de pai e mãe.
Mas é uma felicidade racional, pois eu tenho bem presente que não houve uma irradicação do vírus e nem estamos assim tão próximos de ter uma vacina ou qualquer outro tratamento.
Ainda assim, a transformação da Laura após os primeiros dias de escola, foram o suficiente para eu ter a certeza que ela estava no melhor sítio para ela e tem sido em crescente. Passou a estar muito mais bem-humorada, sente-se valorizada porque tem lá as “actividades dela”, as suas “madames” e os amigos, sem falar que passou a adormecer muito mais rápido, claro. Atrevo-me até a dizer que ela teve um novo pulo de desenvolvimento neste segundo regresso à escola, incluindo no francês e ainda nem fez um mês.
Semanas mais tarde, foi a vez do Vicente regressar. E, contra todas as expectativas mais optimistas, o Vicente conseguiu quatro manhãs na escola. E, se na manhã do primeiro dia, havia apreensão e medo por parte dele, horas depois, chegava a casa dizendo que era o dia mais feliz da vida dele. E, mais uma vez, o meu coração de mãe teve a certeza de que era o certo para os meus filhos.
Convém referir que o nosso núcleo familiar somos apenas nós, não temos rede de apoio e, a partir do momento, em que flexibilizamos a nossa vida pós confinamento, em que o pai regressa fisicamente ao trabalho, em que temos os primeiros convívios sociais, recusar a ida para a escola, na minha opinião, não protege os meus filhos e nem nós contra um eventual contágio. Especialmente quando os benefícios são enormes para estas duas crianças e, consequentemente, para nós e ambiente familiar.
Agora, quando me perguntam “como não ter medo?” … O medo está cá e a apreensão também, atenção. Mas não deixo que seja o sentimento predominante e, por isso, faço por confiar no sistema, nas medidas tomadas – e que podem ser diferentes das escolas em Portugal ou não, mas é em Bruxelas que eu vivo – e sou optimista no sentido em que acredito que é possível viver com normalidade se cumprirmos as indicações de segurança.
Todavia, não deixa de colocar à prova os nossos nervos! Como devem imaginar, nos dias que correm, ao mínimo sintoma que uma criança manifeste e que seja igualmente um possível sintoma COVID-19 são, de imediato, accionados todos os alertas e medidas de segurança. Hoje em dia, uma dor de cabeça, uma febre, dores… no primeiro instante, assume-se pode ser COVID-19. E o que é que acontece nas escolas com muita frequência? Haver crianças com febre, ranhos, tosses e viroses… verdade? Verdade! Portanto, aguenta coração, porque até haver vacina vamos andar num rebuliço de emoções à conta deste vírus.
Posto isto, e esclarecendo algumas perguntas que me têm feito através do Instagram: sim, há medo! Sim, o coração acelera quando recebo um e-mail da escola e a primeira leitura é de imediato para ver se está lá a palavra COVID-19 e só depois é que leio tudo com atenção.
Da minha parte, faço por desinfectar os dois quando saem da escola, não há grandes afectos ali, chegam a casa voltam a lavar as mãos e trocam de roupa. Se isso nos protege de facto?... Pois... vale o que vale!
Mas fico ansiosa quando sinto que o desconfinamento possa perder o controlo e deixar de ter regras. Fiquei muito ansiosa, por exemplo, quando vi as esplanadas ontem cheias de pessoas – na sua é certo – mas as mesas sem o devido distanciamento social. Fico ansioso quando projecto as férias e a viagem para Portugal.
Sinto o mesmo que a maioria de vós, quero acreditar, simplesmente enfrento da melhor forma possível e que me permita manter a sanidade mental que a normalidade nos traz. Portanto, na minha filosofia de vida, por assim dizer, eu prefiro estar bem e feliz, ainda que com medo, do que acrescentar ao medo, a tristeza, apatia ou frustração.