Confinamento Versus Desconfinamento | O que mudou e o que não mudou.
Conjunto de pensamentos aleatórios pós-confinamento, pós-quarentena.
Saímos de casa, mas pouco e não é todos os dias e nem o suficiente para derrotar a energia deles. Têm escola, mas sou eu (e o pai) os responsáveis. Têm actividades, mas, mais uma vez, sou eu (e o pai) os responsáveis. Têm fome, a toda a hora, e, por isso, a toda a hora eu estou a caminhar para a cozinha para preparar alguma coisa e, outra parte do tempo, a pensar o que vou fazer para as refeições.
Por sua vez, às refeições as conversas são lideradas por ambos e, no escasso tempo que tenho para mim, o que implica deixá-los abusar do primeiro dispositivo eletrónico que tiver à mão, eles optam por discutir uma com o outro e, como tal, passam esse tempo a vir ter comigo para fazerem as suas queixas. Para além disso, choram muito alto, falam muito alto, correm em vez de andar ou, então, sou apenas eu que já vejo a realidade de forma deturpada.
Eles entraram no terceiro período escolar quase ao mesmo tempo que muitos países entraram em desconfinamento. Contudo, a verdade é que, à nossa pequena escola, a realidade e o dia-a-dia continua igual. Todos juntos, a fazer o melhor, porém a ressacar já por aquele pedaço de tempo que já tínhamos conquistado em tempos.
De repente, parece já tudo tão longínquo: as idas e vindas da escola; os passeios; os programas em família; as viagens mais curtas ou longas; as idas ao parque; os encontros com os conhecidos, assim como, os jantares que fazíamos com amigos. Entre tantas outras coisas banais. Não sentem o mesmo?
Neste momento, as saídas são pensadas e ainda poucas em família. Opta-se pelos dias da semana, em detrimento dos fim-de-semana. Acena-se à janela de um vizinho ou amigo. Conversa-se entre varandas. E celebram-se conquistas como a primeira vez que voltamos a beber um café na rua – café em copo de papel que apanhamos e bebemos na rua.
Ainda assim, até as coisas mais simples deixarem de fluir como antes, porque estamos com mil cuidados e a ver o local com menos pessoas e a fazer a nova brincadeira em família: fugir para o passeio que tem menos pessoas. Uma espécie de brincadeira para ver se a distância social funciona numa criança de quatro anos.
Olha-se para o calendário, vazio há semanas, que só é actualizaddo com alguma data especial. E verdade que tínhamos uma vida bastante agitada, como é verdade que abrandamos e isso tem o seu lado bom. Todavia, confinamento e crianças é daquelas coisas que é difícil explicar e ainda mais difícil de conviver durante tanto tempo.
A escola não tem sabor a escola, as brincadeiras aborrecem passado pouco tempo, eles não se suportam e fazem guerras pelo espaço e 99% do tempo por nada - mas unem-se contra nós…. óbvio.
O desconfinamento começou e eu ando aqui a pensar no que é que a nossa vida poderá mudar para conseguirmos ter algo de normal a que nos agarrar. É certo que já nos marcaram novamente as consultas dos miúdos no dentista; é certo que as lojas vão reabrir na próxima segunda-feira.
Contudo, vamos lá a saber: quem é que vai ter paciência para ficar na fila para entrar numa loja para a seguir ter meia hora e sair a correr? Para além do stress para não tocar em nada, tendo que inevitavelmente que tocar; tendo que se afastar quando inevitavelmente podemos tropeçar em alguém?
Acho que vou continuar a preferir as compras online, ainda que tenha comprado um par de ténis para cada um, Vicente e Laura, e não tenha acertado no tamanho.
As vossas crianças também estão a crescem desalmadamente? Aparentemente, em quase 8 semanas, cada um deles aumentou, pelo menos, três números no calçado. Agora é todo o trabalho de devolver e tudo isso, mais a conjuntura COVID-19.
Entretanto, parece que acordei esta semana com um fusível desligado ou avariado. Não tenho vontade para treinar, estou aborrecida com rotina e sem espaço para ter a cabeça concentrada para ser criativa, embora tenha projectos em mãos bastante desafiantes e interessantes.
Porém, é como se fizesse tudo à pressa e cheia de ruído por todo o lado. Pergunto várias vezes ao meu marido quando é que ele pensa regressar ao escritório, sabendo à priori a resposta e que, na eventualidade dele ir, vai pesar ainda mais para mim, pois vou deixar de ter aquela ajuda em alguns momentos do dia.
Olho para a frente e tenho uma grande dificuldade em perceber o que nos espera. Por um lado, preciso ir a Portugal terminar o meu tratamento Invisalign, pois, neste momento, já estou a atrasar. E, por outro, o verão. Ora, para uma família expatriada o verão é sinónimo de regressar a casa para matar saudades da família e dos amigos.
Enfim, é um pouco assim que estamos a esta altura do confinamento versus desconfinamento por aqui. Porém, com a consciência de que é preciso não ir abaixo, mantendo o pensamento positivo. Como? No meu caso, se não me tem apetecido treino, capricho no banho e no que visto e assim manter a auto-estima para cima. E lembrar que: se não puder fazer tudo, faço o puder.
Há quem já tenha ido ao cabeleireiro, à esteticista, que tenha regressado aos tratamentos estéticos e às massagens. Por aqui, ainda se aguarda que essa parte volte ao activo, portanto também não é por aí. O que já pensei foi pegar no carro – não conduzo desde que entramos em quarentena, portanto, há praticamente dois meses – e dar uma volta.
Pergunta: Se simular que vou deixar os miúdos à escola e voltar para casa, acham que terá o efeito psicológico de não sentir logo a presença deles quando voltar a casa? Será?!
Boa noite.