A quarentena pelos olhos de uma mãe...
Como sobreviver/viver uma pandemia e uma quarentena com crianças?
Tenho pensado muito na minha mãe, na segurança que ela me traria, nas suas palavras para mim, mas também para os meus filhos. O que sinto é que me falta aquele pilar, onde nós, mulheres, mães, pessoa adulta, podemos encontrarmos para ganhar forças nos momentos mais difíceis. Agora vou buscar as forças que preciso quando olho para a Laura e para o Vicente e sinto a responsabilidade de os proteger como nunca senti antes.
As precauções iniciais são agora uma certeza, que não sabemos quando terminarão. E, para mim, são as crianças que mais estão a sentir este isolamento em casa a que somos forçados. Por mais que se explique, existem limites face aquilo que elas compreendem e, por aqui, conversa-se bastante sobre as coisas, sempre tendo em conta as idades de cada um e focado naquilo que é essencial ao seu conhecimento.
Porém, de um dia para o outro deixaram de ir à escola, de estar com os amigos, de ter os programas de fim-de-semana, de fazer os passeios e até de ir ao supermercado e, por aqui, aconteceu precisamente no momento em que todas as mudanças pelas quais tínhamos vindo a passar estavam a ficar consolidadas. Um novo recomeço? Um desbravar novamente do desconhecido? Tudo outra vez, como assim?
Por outro lado, nós como pais estamos completamente sozinhos a lidar com a pandemia, com a quarentena e com a necessidade de dar aos nossos filhos todas as condições para que a vida deles seja o menos afectada possível. A escola e a educação depende de nós, as actividades e apetências, algo que é importante que continuem a desenvolver, lidar com as saudades que começam a sentir de uma série de coisas, a dificuldade que é mantê-los em casa e a energia a mais, também ela mais reprimida, que resvala muitas vezes para as birras, os gritos e os conflitos. Tudo isto ao nosso cargo e a resposta tem que ser sensata, equilibrada. Não se trata de uma semana intensa de férias, trata-se de uma nova realidade!
E, no meio de tudo isto, quando olho para eles, a única coisa que me vem à cabeça é: reinventa-te, Vera! Esquecer tudo o que está para trás e concentrar-me no que pode ser feito agora e com os recursos que temos.
Para quem não está habituada à vida de casa e a ter uma série de rotinas dentro de casa, o ambiente caótico vai criar dificuldades acrescidas! As rotinas levam tempo e aceitem esse tempo. Contudo, a única forma é tudo isto dar certo, é recriar em casa uma rotina que traga alguma normalidade à nossa vida, que nos dê segurança de saber o que fazemos e que “horas”.
- Vou dar-vos o nosso exemplo:
7h20: O despertador toca!
Os miúdos já estão acordados e vestem-se sozinhos. Enquanto isso, eu despacho-me também. Como estava na minha rotina fazer exercício de manhã, mantenho. Eles tomam o pequeno-almoço e eu começo o meu treino.
9h00: As actividades escolares começam!
A escola do Vicente tem uma plataforma e-learning que tem funcionado muito bem. Permite alguma interactividade e manter uma relação de proximidade com os professores e colegas.
Entre as 10h15 e as 10h45: Pausa!
10h45 - 12h15/30: Finalizar as actividades escolares do dia!
Para mim, as horas da manhã são as mais importantes. É quando consigo captar mais atenção dos dois e ter um ambiente menos caótico – também - entre os dois. Contudo, face às idades, não é algo compatível com outra coisa em paralelo. Eles requerem a minha presença e atenção em full-time.
12h30 – 14h00: Pausa de Almoço!
14h00 – 14h30: Actividades da segunda língua (Francês) com o pai!
Alguns dos momentos dos nossos últimos dias partilhados no Instastories:
Outro aspecto que, para mim, é igualmente relevante é manter os mais possível as regras “basilares” das semanas normais de escola, nomeadamente: as regras da televisão, as horas do banho, das refeições e do deitar. A expressão “quarentena não são férias” deve ser mesmo levada em consideração por todos nós, incluindo as crianças.
No tempo que resta, é preciso reinventar muito! É particularmente importante variar actividades. Porém, não é mais do que dar-lhes acesso a mais materiais, papéis, livros, etc… É natural que se aborreçam com tudo e mais rapidamente.
Por outro lado, mantê-los envolvidos nas tarefas de casa, dar-lhes autonomia e responsabilidades é importante, porque é aí que vamos conseguir ter momentos para respirar e seguir com a nossa vida, o possível claro.
Exemplos de tarefas partilhadas cá em casa: pôr a mesa; fazer as camas; arrumar a loiça da máquina de lavar; arrumar os brinquedos; ajudar a pôr roupa a lavar; no fundo, vão ajudando em tudo o que podem, sobretudo no que toca às suas coisas.
E cresci nesse ambiente, embora a minha mãe tivesse ajudas em casa, desde sempre que me lembro de ajudarmos em várias coisas. No fundo, é contribuir para que percebam a importância e as vantagens de trabalhar em equipa e de partilhar tarefas.
E dar-lhes espaço, não se esqueçam! São seres humanos comos nós, com qualidades e defeitos, com necessidades especiais e particulares e que acumulam muita coisa por estes dias.
E pelo meio desta confusão, não esquecer as coisas boas que continuam a acontecer: a quaresma, para os católicos; o início da primavera, a Páscoa, o Dia Do Pai e da Mãe. E, por fim, abrir a mente e os braços às coisas boas que têm surgido por causa da pandemia: a disponibilização de concertos para crianças online, hora do conto ao vivo no Youtube ou aulas das actividades dos nossos filhos em vídeo são apenas alguns exemplos do que está ao nosso dispor gratuitamente.