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As viagens dos Vs

Mulheres nutridas, famílias felizes

As viagens dos Vs

Como se organiza uma semana atípica sem a nossa rede de apoio?

08.11.19 | Vera Dias Pinheiro

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Eu achava que iria terminar esta semana em bom, pronta para o fim-de-semana em família e com os quatro juntos. Porém, a verdade é que termino a semana rendida ao facto de que preciso de cama e de “drogas” mais fortes para curar uma valente gripe. Talvez acentuada pelo facto de ter sido uma semana atípica e sem a nossa rede de apoio para dar aquele suporto, por vezes mais emocional que outra coisa.

 

As mudanças de temperatura e também o ritmo de vida tão acelerado, foram mais fortes de que os meus cuidados para que a coisa não escalasse. Aguentei-me desde que regressamos de Portugal, porém na quinta-feira e hoje, tive que ceder e dar o descanso ao corpo que ele necessita, tomar medicamentos mais fortes, fazendo um esforço para ignorar tudo o que não é urgente.

Contudo, quando se vive sem rede de apoio por perto, seja expatriado ou não, quando há alguma coisa fora da rotina, por mais pequena que seja, é o suficiente para destabilizar logo toda a semana. Porque temos que reorganizar todo um modelo de rotinas que, de si, já de bastante frágil, pois só funciona se tudo correr dentro da normalidade.

 

E o que aconteceu desta vez? Ora, bastou saber no domingo à noite por sorte, que o Vicente, afinal, não tinha escola na segunda-feira, por conta das reuniões de pais. Bastou que, daí a poucos dias, ontem, na escola da Laura – como em outras escolas públicas belgas – houvesse uma greve e, por conta disso, o horário da escola foi alterado, podendo ficar apenas por um período mais curto que nos restantes dias. E naturalmente bastou que nesta roda vida e as condições do tempo bastante invernais, a minha constipação de fosse agravando. Ainda conseguir ir duas vezes ao ginásio, na esperança que transpirando o vírus fosse embora.

Porém, o que este corpo pediu foi cama para equilibrar o stress e a correria. Não vos disse que o meu marido também viajou esta semana, pois não?

 

É nestas alturas que me treme as pernas, não pela doença, mas pelo facto de eu poder não estar ok para todas as situações do dia a dia, isso poder coincidir com as ausências do meu marido – que não é comissario de bordo, mas deve viajar tanto quanto um. As pernas tremem-me, porque é preciso haver um plano B, um recurso, uma ajuda quando é simplesmente impossível estar em dois sítios ao mesmo tempo e a verdade é que é nestas situações que nós sentimos que não sabemos muito bem com quem contar e se é que temos pessoas à nossa volta com condições para o fazer. Não é uma combinação para um café, um almoço ou uma ida ao parque, é preciso disponibilidade para um pouco mais. É preciso arranjar alternativas fiáveis à tal rede de apoio.

Eu sei que ajudaria ter os dois filhos na mesma escola, porém e por tudo o que já desabafei sobre a escola do Vicente e a da Laura, não tenho vontade alguma de a mudar no próximo ano e sim, manter este esforço.

 

O meu recurso é ter um anjo que me ajuda em casa algumas horas, os meninos gostarem imenso dela e ela ter conseguido trocar os nossos dias e os nossos horários para, além de tudo aquilo que já faz, dar uma ajuda com os meninos. Ficou na segunda-feira com o Vicente para eu poder levar a Laura e, mais tarde, ir à reunião na escola do Vicente e, na quinta-feira, veio à tarde e aí já para me ajudar com os banhos e dar-lhes alguma atenção, porque ontem foi mesmo o pior dia para mim.

 

Valeu-me igualmente a proximidade com a mãe de um amigo de turma do Vicente, valeu-me que ela viva perto da escola da Laura e, assim, em vez de me desdobrar em duas no dia da greve, só tive que ir deixar o Vicente a casa do amigo e assim ninguém se atrasou e ninguém faltou. E eu não tive uma crise de ansiedade – porque é isso que acontece quando sinto em tudo o que se refere ao Vicente e a Laura, sobretudo com as horas das escolas em dias de semana e o trânsito.

 

Hoje o pai chegou e com ele chega sempre uma repentina normalidade, mesmo que eu sinta, em certas alturas, ter sido atropelada por um camião. Passamos o fim-de-semana da melhor forma que sabemos, juntos e com muitos passeios.

 

Aquilo que eu sinto, desde 2013, na verdade, é este grande compromisso com a família. Uma dedicação quase “anormal” face aos nossos padrões, mas super normal para “quem é de cá”. A família pode e deve ser uma prioridade sem prejuízo daquilo que somos enquanto indivíduo. E a verdade é que eu vim para Bruxelas, desta vez, com um enorme stress e andamento, achava que com os filhos na escola isto fazia-se com uma “perna às costas”. Passaram-se cerca de cinco meses e eu tive me adaptar – como própria condição para tirar algum partido da vida e desfrutar. Nunca foi o meu objectivo, após tantas mudanças, de andar a correr fosse para onde fosse.

 

Desacelerei e vou praticando o exercício de pedir ajuda e de delegar um pouco desta pressão. Ninguém irá medir o meu mérito no final desta experiência, ninguém irá dar-me um diploma ou coisa que o valha. E esta experiência também é minha, é de todos!

 

Bom fim-de-semana.

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A Primeira Vez A Viajar Sozinha De Avião Com Crianças

06.11.19 | Vera Dias Pinheiro

viajar sozinha de avião com crianças

 

Assim de repente, acho que viajar sozinha de avião com crianças, neste caso, o Vicente e a Laura, era das poucas coisas que me faltava fazer. E assim foi, numa viagem de última hora a Portugal e na impossibilidade de o fazermos os quatro, fomos e regressamos apenas os três.

 

A parte mais difícil de todas foi, sem dúvida alguma, as despedidas. As despedidas do pai, pois embora estejam muito habituados às viagens do pai, esta foi a primeira vez que estiveram no papel de serem eles viajar e o pai a ficar. Foram longos minutos junto ao controlo de segurança no aeroporto de Bruxelas com os dois a chorar sem parar. Foi um DRA-MA e não estou a exagerar! Levou tempo até que se adaptassem a este novo registo, o que só mudou praticamente no dia seguinte, quando acordaram já em casa da avó. E o mesmo no regresso, desta vez não no aeroporto, mas em casa da avó.

“Mãe tinhas razão, as despedidas custam muito. Estou sem coração.”, palavras ditas pelo Vicente.

 

Efectivamente, esta foi a parte mais difícil para eles e para mim, que tive que falar com eles sobre todos estes sentimentos saudosos, uma certa tristeza e uma grande nostalgia de quem passa vir apenas de visita ao seu país. E sobretudo não perder a calma, não deixando transparecer a minha própria vulnerabilidade.

 

Invariavelmente, é quando está a ficar bom que temos que vir embora. Além disso, o tempo é muito curto e a gestão que fazemos dele parece sempre ingrata porque não se trata de preferir uns a outros ou de fazer umas coisas ao invés de outras. É uma questão de oportunidade, urgência e até de prioridades. Desta vez e das próximas, a prioridade é a avó que vive em Santarém, a outra avó e depois vai-se gerindo.

 

Entretanto, entre os desafios de viajar sozinha de avião com crianças está a questão de ter que desmultiplicar os olhos, os braços, a atenção, ao mesmo tempo que estamos mais dispersas com uma série de coisas. Se o voo for à noite e se os dois adormecerem o grau de dificuldade aumenta. Mas o truque é simples: descomplicar e não ceder à “galinhice” de mãe de que temos que os poupar a tudo e mais alguma coisa. Ajudam e são responsáveis, cada um em função da idade que têm.

 

E (viajar sozinha de avião com crianças) de um modo geral, correu bem, tirando o cansaço normal. Com os meus filhos resulta muito bem comprar uma revista/livros de autocolantes, desenhar, etc… no aeroporto, a novidade faz com que se entretenham um bom tempo e, de seguida, têm os jogos no IPad e alguns episódios de desenhos animados. Contudo, à medida que crescem, os motivos de divergências entre ambos vão sendo maiores também. Ou seja, o que um quer ou outro não gosta; o que um faz, o outro desfaz a seguir…

 

A viagem Bruxelas-Lisboa (e vice-versa) tem uma duração de certa de 2h30, umas vezes um pouco mais, para mim, o ideal para este tipo de viagens. Portanto, não existem propriamente tempo para entrarem em saturação. E eu gosto de ir com calma e não me aborreço nada nos aeroportos, onde acho sempre que o tempo passa a correr.

 

O importante é dosear a quantidade de bagagem que levamos connosco para o avião. As mochilas são os nossos melhores amigos e simplificar as quantidades de roupa e outros itens que levamos nas malas que, embora sejam de cabine, eu opto por despachar para o porão se possível. Comida é outras das coisas que não pode faltar, incluindo uma refeição mais composta, pois nem um nem outro gosta da refeição do avião se houver.

 

Viajar sozinha de avião com crianças foi, então, mais uma missão concluída com sucesso e eles, por sua vez, experienciaram mais uma novidade. Estão a amadurecer, nesta nossa nova vida, a olhos vistos e nas mais pequenas coisas. E eu vou crescendo também, não se enganem, a única coisa que asseguro é a segurança e a confiança para mim e para eles, tudo resto aprendo na hora e de acordo com as situações.

 

Agora, que já vamos a meio de mais uma semana, já estamos de novo evolvidos nas nossas rotinas e a verdade é que o sentimento de casa-lar, neste momento, já está aqui.

E é bom regressar ao nosso lugar e às nossas coisas!

 

  • Registo Fotográfico da nossa viagem - Imagens Em Galeria - 

 

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Viver Expatriado É Viver Em Constante Nostalgia. Porquê?

04.11.19 | Vera Dias Pinheiro

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nostalgia | s. f. nos·tal·gi·a

(francêsnostalgiedo gregonóstos-ouregresso a casaviagem + gregoálgos-ousdor)substantivo feminino 

1. Tristeza profunda causada por saudades do afastamento da pátria ou da terra natal

2. Estado melancólico causado pela falta de algo ou de alguém.

"[nostalgia", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, https://dicionario.priberam.org/[nostalgia [consultado em 04-11-2019].

 

Este ir e vir à nossa terra natal, às nossas origens é passar a viver sempre com uma certa nostalgia dentro de nós. A nostalgia de quem volta às origens, à sua vida, às suas rotinas e, acima de tudo, às suas pessoas. Nostalgia de quem – quando está - gostava que o tempo parasse e pudesse fazer sempre mais: estar mais, ver mais esta e aquela pessoa, ir a mais algum sítio. No fundo, não se sentir um visitante na sua própria terra.  

 

No entanto, estes (poucos) dias em Portugal tiveram duas grandes prioridades: estar com a minha mãe, a prioridade de todas as prioridades - e levar até ela um pouco da nossa fé e esperança, sobretudo com a presença dos netos, pois as crianças que são um “boost” de vida. E depois, dar seguimento a alguns trabalhos e estar com algumas pessoas com as quais tive que cancelar as “despedidas” fosse pela operação repentina nas vésperas da mudança – quem ainda se lembra da minha apendicite sem pré-aviso? - fosse pela repentina mudança de planos na vinda em agosto com prioridades que tiveram que se sobrepor a tudo o resto. Tinha estas portas por fechar e precisei de o fazer.

 

Ainda assim, é importante agradecer (de coração) aos amigos e a todas as pessoas que compreendem, que nos apoiam, que nos ajudam logisticamente, que estão do nosso lado “no matter what”. Assim fica mais fácil e mais leve, este ir e vir, sempre a correr por mais tempo que tenhamos. Assim, temos a certeza que continuamos uma fase diferente da nossa vida e que não deixamos nada/ninguém para trás.

 

E agora em casa novamente, estes dias são invariavelmente envoltos nessa tal nostalgia. Aos poucos, com o regresso às rotinas, voltamos a sentir-nos em casa, voltamos à nossa vida cá, às videochamadas, aos grupos do WhatsApp e nas insistências para que nos venham visitar.

 

A vida segue feliz e preenchida, é verdade, mas sempre com essa tal nostalgia. Existem mais birras, mais choros que não são mais do que manifestações das saudades, para os miúdos é bem mais complicado do que para nós. E a verdade é que embora exista toda esta nostalgia, não estamos cá de forma egoísta, estamos a pensar sempre num futuro melhor para nós, para os nossos filhos, mas também para aqueles que estão à nossa volta e que podem vir a precisar de nós. Nem sempre é fácil colocarem-se do nosso lado e pensar que nos momentos complicados, sentimos uma grande solidão por falta da nossa rede de apoio, uma saudade imensa porque é nesses momentos que esse sentimento sai cá para fora em todo o seu vigor.

 

Mas é preciso estabelecer prioridades, por muito egoísta que isso seja, porque a nossa vontade é de estar com toda a gente. Mas é preciso fazer escolhas e aceitar as consequências delas mesmas, é o preço a pagar por sermos adultos, creio eu! Mas o preço a pagar é também ganhar a confiança para expressar aquilo que nos é possível (ou não) fazer, não criar expectativas e… aceitar as consequências das nossas atitudes.

 

Cresci muito quando fiz Erasmus. Cresci mais ainda quando vim para Bruxelas, em 2013, com um bebé de 3 meses e uma licença sem vencimento. E, acreditem, ainda tenho mais para crescer aqui, nesta nova experiência, passados praticamente cinco anos. Regressei e os desafios são outros, os “issues” que me prendem a Portugal são igualmente outros e muito presentes no meu dia-a-dia.

 

Perante isto, não há outra forma de lidar se não ACEITAR! Mas aceitar com muito amor por mim, muita condescendência pela pessoa que eu sou e pelos meus limites. A autocritica em excesso acaba por prejudicar a nossa confiança, acaba por nos deprimir e pouco ou nada incentivar a seguir em frente. Por isso, o primeiro passo é continuar este caminho de aceitação comigo e, por consequência, com os outros.

 

Foram dias muitos importantes aqueles que passamos em Portugal. A quem vi, foi de coração e, a quem não vi, acredite que continua no nosso coração e nos nossos pensamentos.

 

Até breve Portugal.

 

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