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As viagens dos Vs

Mulheres nutridas, famílias felizes

As viagens dos Vs

Último Dia Do Mês De Setembro: Permitem Que Se Fale De Balanços?

30.09.19 | Vera Dias Pinheiro

ultimo-dia-mes-de-setembro-balancos

 

Quando chega o último dia do mês de setembro sinto-me imediatamente mais próxima do fim do ano. Num misto de nostalgia, de recapitular o que vivi, o que fiz, de onde parti e o momento que vivo hoje. Porque setembro é potencialmente o mês de organização, de planeamento e de mudança, se houve algo para mudar.

 

E efectivamente é isso eu sinto hoje, no último dia do mês de setembro, em que dou por mim a fazer o balanço desta nova gestão familiar e de vida que temos. As novas rotinas e as novas obrigações que advêm com a entrada de um filho no ensino obrigatório. Foi um padrão que mudou radicalmente, seja de horários, seja de deslocações e, a verdade é que, os filhos tornam-se o ponto central da nossa vida e é função deles que depois eu organizo a minha própria vida e nunca num balanço equilibrado para o meu lado – que tenhamos sempre isso em mente, é um bom ponto de partida.

No último dia do mês de setembro e depois de muitos dias, uns em que tudo correu super bem e outros nem por isso; uns que foram a prova e a certeza das nossas decisões e outros que me trouxeram dúvidas e incertezas, a nossa vida ficou mais sólida em Bruxelas.

Ser um ser humano e ser adulto não é fácil, é verdade, e o pior é virmos formatados já com o complexo de culpa dentro de nós. Lutar contra isso no dia-a-dia é difícil. Sinto mesmo que temos que ir ao mais profundo de nós e resolver algo bem mais profundo do que um “mero” traço da nossa personalidade.

 

Contudo, colocando tudo isso de lado, há uma parte da nossa vida – a da vida das crianças e da casa – que está (bem) organizada – que funciona, digamos - por exemplo:

 

  • Percebi que, de manhã, o que resulta melhor é acordar mais cedo que o Vicente e a Laura. Há dias em que acordo ainda mais cedo e tomo banho, mas, regra geral, é vestir o “fato de treino” sem mais coisas e depois concentrar-me apenas nos dois.
  • Já conheço os caminhos e mesmo que o trânsito em Bruxelas seja também uma questão de sorte, já tenho a minha rota mais ou menos definida e consigo prever, mais ou menos, o tempo que levo entre uma escola e outra e a nossa casa. E sei igualmente qual o nosso limite de horas para sair – e aqui… bom…. não consigo evitar dizer um ou vários “Despachem-se!”, “Estamos atrasados!”, “Temos que sair!”, “sorry”!
  • Anotei na agenda e na minha cabeça que as quartas-feiras são dias para os filhos, almoçamos juntos e aproveitamos para recuperar algum tempo de qualidade, visto que a escola termina às 12h.
  • Para libertar um pouco mais de tempo ao final do dia, ajuda ter um frigorifico organizado com refeições pré-preparadas para a semana.
  • Consegui começar a fazer as grandes compras ao mês e isso tira-me literalmente um peso de cima de mim e ter um planeamento que faz com que frutas e legumes sejam comprados semanalmente. Para além disso, poupa-se igualmente algum dinheiro.
  • Aos fins-de-semana, o sábado pode ser de passeio e de aventuras, mas ao domingo é importante que seja feito um planeamento da semana, sobretudo no que toca à lavandaria e aos cozinhados.
  • Gerir as coisas dia-a-dia e evitar o acumular: o acumular de roupa desarrumada; de brinquedos fora do lugar; de camas por fazer; etc.. por isso há um conjunto de tarefas que me obrigo a que sejam diárias e feitas na hora certa.

 

Setembro foi um mês muito longo para mim e muito exigente. Foi o mês em que tive que me adaptar “à bruta” a todas as mudanças e em que tive que fazer frente a uma mentalidade diferente, a uma sociedade com formas de fazer as coisas totalmente diferentes da minha/nossa e basicamente em que tudo foi novidade! Foi também o mês em que o meu marido viajou praticamente o mês inteiro e, por isso, ser necessário esta gestão mais organizada, da minha parte, de alguns aspectos da nossa vida - prefiro optar pelo seguro e o certo ao invés do improviso.

 

Ainda assim e de forma a conseguir gerir tudo isto, também é verdade que foi um mês em que de alguma forma senti-me um pouco em segundo plano, pois, para além de tudo, era o momento de agarrar com unhas e dentes o meu trabalho e não ficar somente à espera que as coisas viessem ter comigo. Como tal, não fui exemplar nas idas ao ginásio, nas minhas rotinas de cuidados e nem nas minhas horas de sono…

 

Andamos em constante ajuste e a balança não tem uma medida certa para o equilíbrio. Mas levo os meus dias com alguma serenidade a de quem não quer travar todas as lutas ao mesmo tempo, a de quem se disciplinou a ser mais flexível e tolerante consigo mesma, estabelecendo prioridades e resolvendo as urgências.

 

Chego ao último dia do mês de setembro e, noutra altura da minha vida, diria que esperava mais de mim, esperava ter tido mais tempo para isto ou aquilo. Porém, eu fiz tudo aquilo que eu podia e, acima de tudo, dei tudo aquilo que tinha e não tinha todos os dias. Assim, parece-me justo e merecedor para mim sentir-me grata por chegar aqui desta forma.

O meu desejo: que sejamos capazes de fazer mais vezes as pazes connosco próprios. Agradecer mais pelo que fizemos e culpar menos pelo que ficou por fazer.

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Tenho Muito Orgulho Nos Meus Filhos e Faço Questão Em Lhes Dizer!

26.09.19 | Vera Dias Pinheiro

orgulho no nossos filhos, mudar de país e adaptar a uma nova língua

 

Ser mãe (e pai) é talvez pecar (por defeito) em exigir sempre mais e em querer sempre mais. No fundo, queremos o melhor para eles, mas, lá no fundo, desejamos igualmente que eles sejam os melhores. Ao decidir voltar novamente para Bruxelas, o peso maior na balança foram eles, o Vicente e a Laura, e a experiência de vida que podemos proporcionar-lhes. Porque é disso que se trata, dar-lhes algo maior do que apenas a educação que recebem na escola, desenvolver neles outras ferramentas que não apenas a focada para terem as melhores notas.

 

Descobri que aquilo que eu lhes quero dar são asas para poderem voar, seja a que distância for, porque achar que vão viver para sempre connosco é só ingénuo da nossa parte e só tem graça agora que eles são pequenos. Imaginá-los adultos cá em casa, quando eu já preciso é de descanso… não é o desejado nem para os filhos nem para os pais.

 

Gostava que eles ganhassem armas e capacidades para saírem cedo de casa, para estudarem fora, fazerem voluntariado, cursos, o que seja. Gostava pelo menos que eles tivessem lá o bichinho da aventura e do desafio e nem precisa de ser necessariamente num outro país, pode ser bem mais perto. O importante é que eles cresçam com a progressiva autonomia, com a progressiva auto-confiança e até o espírito de auto-sobrevivência.  

 

É sempre mais fácil ficar do lado do confortável. É mais fácil continuar a fazer as pequeninas coisas por eles, do que perder um pouco mais tempo só a incentivar que tentem e que se esforcem. Mas vivo num dilema constante, porque este processo de entregar os nossos filhos ao mundo e de dar aquele empurrãozinho nas costas para seguirem em frente e nós ficarmos cá atrás apenas a observar custa muito. O nosso coração está ali (projectado naquelas pessoas pequeninas) e, afinal, o cordão umbilical passa para lá do físico e mantém-se para sempre, creio eu.

 

Ainda assim, tudo depende deles. Se eles aceitam as mudanças, se se adaptam, se se integram e agarram e dão o salto. E nestas matérias, os meus ricos filhos estão de parabéns, talvez seja sorte e ambos terem herdado o bichinho dos pais e simplesmente deixarem-se ir. Por outro lado, são pequenos e nós estamos todos juntos e nós fazemos questão de lhes mostrar todos os dias o porquê de estarmos aqui e também de lhes mostrar que nada se perdeu do que ficou em Portugal.

 

Tenho um orgulho do tamanho do mundo na facilidade com que aprendem esta língua emprestada e da forma tão à vontade com que já se vão expressando através dela.  Na facilidade com que fazem amigos e com que são maleáveis à mudança. Estava preparada para lidar com as dificuldades na integração na nova vida muito mais tempo, até meses, sei lá. Contava, lá para o natal, ter tudo mais ou menos estabilizado.

 

Porém, setembro ainda nem terminou e sinto-os bem, felizes e integrados – talvez de pazes feitas comigo por tê-los trazidos para estas novas escolas, uma porque não queria a escola em francês e o outro que não queria largar a saia da mãe e ser “obrigado” a fazer uma série de coisas sozinho.

 

Tenho muito orgulho nos meus filhos e tenho que o dizer. Quer dizer, acima de tudo, dizer-lhes a eles, os principais protagonistas desta história toda. Porque grande parte do trabalho é deles e da forma como um e outro absorvem estes eventos e o que fazem a seguir. E ver a alegria deles basta-me, ver os abraços que o Vicente dá aos amigos e os amigos que o receberem como um deles logo no primeiro dia. A Laura que se deixa abraçar pelas auxiliares e que diz com todas as letras que A-DO-RA a escola.

 

E nada disto invalida um certo sentimento de culpa da minha parte. Eu sou mãe e tomo as decisões, mas eles não pediram para estar aqui e mesmo sendo duas crianças pequenas não me sinto na obrigação de lhes exigir o que quer que seja.

 

Dizem que mãe sente as coisas, que mãe tem o tal instinto e talvez por isso tomamos as decisões que acabam por ser boas para eles, mas isso não os protege de tudo. Não lhes tira o medo e toda uma série de sentimentos estranhos que eles sentiram e sentem por estes dias.

 

Não preciso de agradecimentos nem deles nem de ninguém. Preciso sim de senti-los felizes, preciso de senti-los fortes e com a certeza de que o porto seguro deles não fugirá nunca, estejam eles mais perto ou mais longe.

 

Estou a entregar os meus filhos ao caminho deles. Sabia que seria assim e que, em certo momento, sentiria que estaria a alargar as minhas asas para os colocar um pouco mais fora do ninho. Para mim, foi agora e com isso senti aumentar também o meu sentimento de responsabilidade por eles. Agora depende muito deles e das ferramentas que lhes conseguimos ir passando.

 

Que sejam felizes nesta caminhada! Que nunca percam o norte de quem são e dos valores que lhes passamos. Que sejam honestos e respeitadores do próximo.

 

Amo-os por demais e são duas crianças incríveis!  

 

viver fora do país com filhos pequenos

 

viver fora do país com filhos pequenos

 

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Bruxelas: Roteiro 3 Dias “Sem Pressas” com visita à cidade de Bruges

24.09.19 | Vera Dias Pinheiro

roteiro para três dias em bruxelas e visita a Bruges

 

  • Dia 1 | Manhã Schuman Area

Bruxelas é conhecida pelas batatas fritas, pelas gaufres, mas também por ser a capital que acolhe as instituições políticas europeias mais importantes. Portanto, um dos pontos turísticos mais atrativos é, sem dúvida, a zona de Schuman que é basicamente o quarteirão onde as mesmas se localizam.

  • Parlamento Europeu (se o tema lhe interessa, faça uma visita ao Parlamentarium)
  • Comissão Europeia

Perto desta zona encontra dois parques: Parc Leopold e o Parc du Cinquatenaire, mais imponente.

 

  • Dia 1 | Tarde Petit Sablon/ Les Marolles e Grand Sablon

Esta é uma das minhas zonas favoritas para passear pelo ambiente mais “artístico” e menos turístico.

Petit Sablon/ Les Marolles: destaco a Rue Haute, a rua principal que liga Les Marolles ao Grand Sablon, com lojas de decoração, de artigos em segunda mão e vintage completamente diferentes daquilo que é convencional.

Aconselho a concept store L’Atelier en Ville nessa mesma rua para tomar um chá e quem sabe fazer umas comprinhas. No piso 0 encontram decoração e no piso 1 uma loja de roupa.

É também nesta zona que, aos domingos de manhã, tem lugar uma das feiras de velharias mais conhecidas.

Chegado ao Grand Sablon, não pode perder a Livraria Taschen e a Cafetaria no primeiro andar da loja de chocolates da conhecida marca belga Pierre Marcolini.

 

  • Dia 2 | Manhã Brunch no Le Pain Quotidian

Para o segundo dia, pode acordar um pouco mais tarde e começar por repor a sua energia com um brunch no Le Pain Quotidian, é um local de paragem obrigatória! Eu optaria pelo Pain Quotidian precisamente do Grand Sablon para aproveitar, de seguida, descer em direcção ao centro da cidade a partir de Mont des Arts.

É aqui que se localizam alguns dos museus mais importantes, nomeadamente o Museu Magritte, um dos museus constituintes dos Museus Reais de Belas Artes da Bélgica, o Museu dos Instrumentos Musicais, o Museu BELvue e também o Palácio Real.

 

Dia 2 | Tarde no Centro, Grand Palce e Manneken Pis

Descendo o Mont des Arts, sempre em frente, começa a entrar no centro histórico, irá perceber de imediato, pois, o número de turistas aumenta consideravelmente, o que torna aquela zona mais confusa e densa.

A primeira coisa que vai encontrar são as galerias comerciais: Les Galeries Royales Saint-Hubert, inauguradas a 20 de junho de 1847.  Entretanto, se o apetite voltou, aconselho a visitar o Chez Léon e a experimentar os mexilhões - Moules. É turístico, sim senhora, mas tem que se ir lá, pelo menos, uma vez na vida.

De seguida, parta em direcção à Grand Place e, naturalmente, o Manneken Pis.

Aconselho a terminarem o dia entre Porte Namur e Avenue de la Toison d’Or, uma das ruas mais conhecidas de compras para todos os gostos e todo o tipo de carteiras. Também podem não comprar nada e esperar pela hora de jantar para conhecerem o restaurante Les Brassins e provar um outro prato típico belga, as Carbonnades.

Dica extra: no número 48 dessa Rua – Rue Keyenveld – encontram uma pequena homenagem na casa onde a conhecida atriz Audrey Hepburn nasceu.

 

Dia 3 | Passeio em Bruges

Bruges é a capital da província da Flandres Ocidental e dizem ser a Veneza do Norte pelos seus inúmeros canais. Para quem conhece Veneza, sabe que as características da cidade italiana são únicas, mas Bruges tem um encanto próprio, é acolhedora e romântica. Foi uma cidade importante no circuito comercial e, claro, beneficiada por ter este acesso privilegiado através dos seus canais.

um dia em bruges, bélgica

 

um dia em bruges, bélgica

 

Como ir? De comboio, Gare Central, Bruxelas, e a viagem dura mais ou menos uma hora.

Pontos a não perder (para além dos pontos turísticos mais relevantes: a Catedral, as Praças e as ruas em si, tão “rústicas” nesta cidade medieval):

  • Loja de Chocolates Crevin - Com produção própria e na própria loja.
  • Cervejaria De Halve Maan - A mais antiga da cidade e o Bar 2be - Onde encontra um muro com uma exposição de todas as cervejas belgas (e são muitas!).
  • Restaurante Matinée - Se quer fugir do típico turístico e pagar um pouco menos também. É um restaurante acolhedor, de frente para o canal, a carta é variada e a comida bem confeccionada.
  • Passeio de Barco, porque vale mesmo a pena.

 

Nota: Para os apreciadores de cerveja, foi-me dito que Bruges tem alguns bares absolutamente incríveis, nomeadamente: 't Poatersgat, Le Trappiste e o 't Brugs Beertje.

um dia em bruges, bélgica

 

um dia em bruges, bélgica

 

 

Espero que tenha gostado deste roteiro e se visitar Bruxelas, já sabe, conte-me como foi! 😊

 

 

 

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Quando te permites (ou não) viver a plenitude do agora...

22.09.19 | Vera Dias Pinheiro

brugges bélgica

Há um momento na nossa vida em que, por razões que desconheço, deixamos de viver o agora como antes. Diria até, que quando deixamos de ser crianças nos é roubada essa simplicidade de viver a vida.

 

Lembro-me da pressão que foi escolher uma faculdade, uma carreira, uma profissão para a vida ainda eu nem tinha 18 anos. Na altura, eu queria ser muitas coisas: queria ser psicóloga, queria ser professora, queria ser jornalista… depois apercebi-me que queria ser outras coisas, mas que, naquele momento, já não podiam estar no horizonte, pois tinha optado pelas humanidades e não pelas ciências. Quando chegou na altura de concorrer senti muita pressão para conseguir entrar na faculdade logo na primeira fase e que isso seria o passo de arranque para o resto da minha vida.

 

Na prática, eu tentei que fosse assim, mas os sonhos e a continua vontade de fazer tantas outras coisas e de descobrir tantas outras paixões como que foram desviando-me daquela linha recta.

Assim de repente, o primeiro momento que me vem à cabeça e que me terá tirado essa simplicidade e espontaneidade em viver o presente, tenha sido aqui. A partir daí seguiu-se uma procura constante por seguir o que seria esperado e o que serviria de base para a minha vida adulta. E eu tentei muito, batalhei muito por encontrar o trabalho que me permitisse pagar as contas e onde, independentemente de gostar ou não, seria um emprego para vida.

 

Mas nada correu como previsto. Por razões que eu própria desconheço – ou talvez, porque simplesmente tivesse que ser assim – a minha vida foi seguindo rumos completamente alternativos e eu, ainda que perdendo toda a rede se segurança tal como a conhecemos, fui voltando a encontrar-me comigo mesma. Diria que o processo de reconexão comigo mesma começou em 2013, um processo de auto-conhecimento fortíssimo, longe de acabar… porém, de certa forma, levou-me um pouco mais para perto de uma pessoa mais consciente de quem é, do que precisa e nada disso se prende com aquilo que a sociedade espera de nós. E talvez essa seja a dificuldade que temos em sermos felizes: aceitar que isso é algo que devemos trabalho cá dentro, cá bem no fundo de nós. O resto à nossa a volta ajuda, ajuda o trabalho, ajudam a casa, as roupas, as viagens e por aí a fora.

 

Sermos felizes com tão “pouco” é aparentemente uma tarefa muito mais difícil do que aquela que imaginamos. E a pergunta que se impõe é: e se perdesse tudo e tivesse que aprender a ser feliz dessa forma?

 

Foi um pouco assim que me senti, pois embora nunca me tenha faltado nada em família, eu cheguei a uma fase de “estaca zero”: tinha deixado o meu trabalho, não tinha qualquer fonte de rendimento nem poupanças amealhadas; não tinha o meu carro; não tinha a minha casa. A vera – a pessoa – teve que reaprender a ser feliz de outra forma, teve que se reinventar sabe-se lá como – com a confiança e o pensamento positivo sempre presente – teve que se desprender da opinião de terceiros e daquilo a que a sociedade nos formata. Viver como excepção numa sociedade que prima pela regra não é fácil, as vezes é parecermos maluquinhos e ficar felizes simplesmente por estarmos vivos mais um dia e com saúde. Entendem onde quero chegar?

 

Às vezes é preciso repetirmos as mesmas coisas muitas vezes, mas é realmente importante que nos foquemos em nós e que trabalhemos mais a nossa capacidade de desfrutar do momento presente e que tomemos as nossas decisões também baseado no aqui e no agora.

 

Que não deixemos coisas por dizer. Que não adiemos coisas que queremos fazer. Que sejamos mais confiantes de nós mesmos. Que sejamos mais essência e menos matéria. Que não deixamos escapar a nossa capacidade em fazer um pedido de desculpas ou em dizer que gostamos de alguém, em dizer não, mas também de pedir ajuda.

 

E se estiver difícil, lembre-se de que somos todos seres finitos e que a única coisa que podemos dar por garantida é o momento presente, o agora, aquele que raramente damos a importância que merece. Somos ingénuos – ou não – mas projectamos sempre os nossos sonhos lá bem para a frente, regra geral, para quando formos bem velhinhos… mas e se não chegarmos lá, como é que ficamos?...

 

 

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Olá segunda-feira! Rotinas Prontas Para Mais Uma Semana.

16.09.19 | Vera Dias Pinheiro

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Quanto mais rotinados estão os dias, mais fácil se torna gerir o dia-a-dia. Fica mais fácil para mim, contudo também para eles que sabem perfeitamente como os dias decorrem – sobretudo, de segunda a sexta-feira – e deixam de argumentar contra o banho, o jantar ou o dormir – na maioria das vezes, vá! E eu, por minha vez, começo a entrar em modo piloto e a descontrair um pouco mais. Já me habituei aos trajectos, já estou mais à vontade com os caminhos, já entrei nas rotinas e, mesmo que o tempo para mim seja curto, já sei com o que conto sem estar sempre a pensar no que gostava de fazer e não consigo, pois o tempo não estica.

 

Por isso, não posso dizer que os nossos dias fluem ao sabor do vento, porque não é verdade. Nestas coisas da vida familiar, eu prefiro jogar pelo seguro e ter as coisas dentro do meu controlo. Não me entrego ao improviso, sim, é verdade, mas asseguro que evito as birras na hora de dormir, por exemplo, ou de manhã na inevitável correria para sair a horas de casa.

 

Esta semana, a terceira de escola, a Laura começa as actividades e eu ganhei uma hora extra que, porém, ainda não me sabe a nada, uma vez que o Vicente ainda está com o horário normal de saída, às 15h. Para a semana, será a sua vez e aí sim, terei um pouco mais de margem para descomprimir e correr um pouco mais devagar no tempo que tenho sem eles.

 

Entretanto, todos os inícios de escola, eu costumo fazer compras de roupa. Este ano, todavia, tinha para mim que estava tudo mais ou menos preparado para o arranque do ano lectivo. Eis senão quando começam as queixas dos sapatos e ténis apertados; da roupa que, afinal, não é suficiente com a agravante que, por aqui, num único dia somos capazes de ter as quatro estações do ano; sem esquecer os dias em que chove imenso; etc. Ou seja, todos os dias de véspera fazia uma ginástica para ter roupa adequada.

 

E, assim, nesta segunda-feira dediquei-me às compras em quantidade suficiente para estar descansada. Para além disso, as crianças, por estes lados, não vão para a escola demasiado aprumadas, nada disso, muito pelo contrário. As crianças saem da escola imundas do tanto que brincaram – porque encontrar uma escola com espaço ao ar livre é quase é dado adquirido ao contrário de Lisboa. Mesmo com o tempo cinzento e chuvoso a maior parte do ano, os miúdos não vivem propriamente fechados à espera de um dia de sol para sair e brincar. Depois, também não andam de carro, a maioria das pessoas desloca-se de bicicleta e as crianças também, seja com os seus pais ou com a sua própria bicicleta ou trotinete.

 

Aliás, nem eu e nem a maioria das pessoas andam demasiado arranjadas. Esqueçam os saltos altos e as roupas pouco práticas. Fiquem sabendo que foi aqui que comecei a minha colecção de ténis há seis anos atrás, portanto… se visitam Bruxelas, venham confortáveis pois é assim que esta cidade vos vai receber.

 

Para muitos, Bruxelas é apenas uma cidade cinzenta e chuvosa, porém para outros – eu incluída – é um caso sério de amor. E mesmo que use carro todos os dias, o carro é apenas um meio de transporte para levar e ir buscar os miúdos à escola e para fazer passeios para fora da cidade. Os transportes públicos funcionam e servem toda a cidade, o que nos permite dispensar facilmente o carro.

 

Em contrapartida, pode haver coisas que nos tiram do sério, como as encomendas que recebemos e que são atiradas literalmente para o hall de entrada do prédio, assim como as compras de supermercado online com entrega ao domícilio que ficam à porta da rua. O sistema de recolha de lixo é também suis generis, mas em breve teremos um saco apenas para lixo orgânico e já pouco ou nada se vê de plásticos em lojas ou supermercados, sejam eles de que tipo forem. Também é fácil e acessível comprar local, orgânico e bio e, em alturas de saldos, vale a pena dar um pezinho pelas lojas porque se fazem boas compras. Aqui não se brinca aos descontos de 10% ou 15% mesmo nas marcas de “luxo”.

bruxelas, café belga, flagey

 

Hoje o Vicente começou a Língua II na escola, para ele é o Francês – o Inglês continua como extracurricular – uma turma mista com miúdos do primeiro ano dos vários países, disse-me todo contente que entendeu tudo e que não precisou de pedir ajuda a ninguém. Hoje também respondeu a tudo o que lhe perguntaram na escola da Laura sem hesitar ou encolher-se.

 

Nunca duvidei da rapidez de adaptação das crianças e não seriam os meus filhos a própria da excepção, contudo aquilo que eu sei é que quanto mais eles se integram e se misturam nesta sociedade cosmopolita e conseguem compreender e se expressar na língua que é universal por aqui, o francês, mais eu me sinto em casa, mais o meu coração sossega e o meu estado de espírito se liberta para outras coias.

 

Ficaria aqui horas a falar sobre todos os sentimentos que passam por mim nestes últimos tempos, mas por agora não vos vou maçar mais.

 

Desejo-vos apenas uma semana muito feliz!

 

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Duas Semanas Na Escola Primária E Uma "Espécie" De Carta Ao Filho Mais Velho

13.09.19 | Vera Dias Pinheiro

entrada na escola primária

 

Querido Vicente, tu tiveste o privilégio de entrar mais tarde no infantário. Tinhas cerca de dois anos e meio quando te deixei pela primeira vez numa escola. Eu estava devidamente preparada para ser segura e assertiva, para não me demorar nas despedidas e repetir-te que viria buscar-te. Estava preparada, contudo aqueles momentos iniciais, entre a tua chegada e a minha partida, eram angustiantes e desconcertantes. Lembro-me que nos momentos a seguir ficava sempre um pouco desorientada – e, mais tarde, a história repetiu-se com a tua irmã.

Ainda assim, o problema não era estar, pois desde o primeiro dia que te adaptaste bem, não ficavas apático, triste ou introvertido. E a verdade é que nunca recebi uma chamada da parte tua escola para te ir buscar mais cedo.



Não esqueço, em particular, do primeiro dia de todos, com os teus braços enrolados no meu pescoço com uma força de gente crescida. Enquanto tentava separar-te de mim, repetia-te “a mamã ama-te e vem buscar-te!”. Repetia que o “vou buscar-te” mais do que uma vez, mas não me demorava nas despedidas - e este é o grande conselho que vos deixo, serem firmes e não frias, transmitir segurança sem deixar transparecer as nossas emoções, ou tentar.


A partir daqui, mudaste mais uma vez de escola e duas vezes de sala e nunca mais te vi chorar. Foste crescendo com os mesmos amigos, foste criando os teus próprios hábitos e o há vontade de quem vai passando para o grupo dos mais velhos. Voltar a tirar-te do teu mundo, custou-me muito e que nunca penses o contrário.

 

Hoje chegas ao fim da tua segunda semana na tua nova escola. Não tiveste problema em fazer amigos, não fizeste da barreira linguística um problema, estás entusiasmado com tudo o que estás a começar a aprender, adaptas-te à rotina com a tua turma e com a supervisão do teu professor, com quem simpatizaste. Mas voltaste a chorar e eu voltei a sentir aquele aperto no peito, porque mãe sofre porque mãe tem o coração fora do seu peito e, se pudesse, ela jamais colocaria o seu filho em situações que o pudessem fragilizar. Portanto, têm sido duas semanas intensas nas emoções, todas elas muito à flor da pele, as vossas que descarregam em mim e as minhas que descarrego… não sei bem onde.

 

Passaste de uma família-escola pequena para uma escola grande com demasiados alunos e alunos que váo desde o quatro anos até ao 12º ano. E embora esteja tudo organizado, a verdade é que é tudo demasiado grande para ti. Eu sei que subir as escadas da tua antiga escola sozinho em nada se compara ao facto de teres que te despedir de mim ao portão e seguir por um caminho que te parece demasiado longo para fazer sozinho. Eu sei e por mais que queira te proteger e que tente argumentar com os seguranças, eu não posso proteger-te para além daquele portão.

 


Sabia que este dia, numa escola grande, iria eventualmente chegar, mas não imaginava que fosse tão cedo, pois mesmo que sejas uma criança crescida, no meio de tudo aquilo, és ainda demasiado pequeno. São milhares de crianças a passar e tu a tentares manter o teu foco, lembrando-te das coisas que te ensinaram, do ponto de encontro, do que fazer e do que dizer.

Os olhos enchem-se de lágrimas sempre que estás na iminência de ter que fazer o teu caminho sozinho, que não encontras a vigilante ou algum colega. Agarras-te a mim e eu… eu, filho, encorajo-te a seguires em frente sozinho e que se olhares para trás, eu vou lá estar, mas que agora é altura de saíres do meu ninho.

Depois, a magia acontece e tu ficas bem, tens amigos e tens a tua zona segura e as rotinas orientadas e guiadas. Mas a separação custa e eu, ingenuamente, também achava que ir conseguir ter-te debaixo da minha asa por um pouco mais.


Foram duas semanas loucas em termos de emoções, tanto para ti, como para a tua irmã. Contudo, falo para ti, porque a entrada no primeiro ano tem uma simbologia especial, significa a tua entrada na grande escola. E agora, meu filho, tens uma vida pela frente, com oportunidades, valores, aprendizagens, superações e também decepções com as quais terás que lidar. E eu, como tua mãe, passo os dias a pensar em como lidar contigo a partir de agora, como há tantas coisas que eu te quero ensinar e ferramentas que vais precisar para essa pessoa adulta, ainda em formação, que serás.

 

Mas nunca penses que não me custa, porque custa. Porque ajudar um filho a crescer e entregá-lo ao mundo, custa. É como se tivéssemos que arrancar uma parte de nós, do nosso corpo da qual precisamos para viver. Agora vou aprender também eu a ser mãe de um menino crescido, vou aprender a sossegar o meu coração porque tu estás a fazer o teu caminho e é assim que deve ser.

 

 

Se tu soubesses o orgulho que tenho em ti e na tua irmã… é imenso!

 

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É Tudo Uma Questão De Organização... E De Paciência Também!

11.09.19 | Vera Dias Pinheiro

organização nas rotinas do dia-a-dia

 

As crianças começaram a escola. Aos poucos dos horários vão-se definindo e eu, por sua vez, começo a ver uma luzinha lá ao fundo sobre como serão, afinal, os meus dias nesta nova vida. Até aqui, a grande preocupação tem sido eles – o Vicente e a Laura – que estejam integrados na medida do possível nas escolas, que percebam as suas novas rotinas e os novos horários. Contudo, neste processo ainda que meio difuso, foi importante que eu fosse, ao mesmo tempo, tentando não perder o foco em mim e na minha vida.

 

Foram dois meses de férias muito intensos com os dois em casa, depois e até começar a escola, consegui gerir com o meu marido e retomar o ginásio - até aqui o único “me time” que me era possível ter, diga-se sozinha! E a meta seguinte seria coincidiria com o início da escola, retomando alguma normalizada e conseguir ter rotinas ou melhor, encontrar rotinas dentro desta nova realidade.

 

Diga o que disserem, são essas rotinas e essa organização que me permitem conseguir fazer “tudo”, mas, acima de tudo, é o que me permite ter tempo para mim e ter algum controlo no dia a dia. Pode retirar-me alguma espontaneidade, sim, concordo, contudo, de segunda a sexta-feira, eu prefiro mesmo ter esta ordem e não abdico sobretudo no que toca a horários.

 

Por exemplo, foi importante ter estado cá em março e ter percorrido todas as “portas abertas das escolas possíveis para a Laura, pois tivemos tempo para ponderar a nossa decisão. E foi igualmente importante ter vindo em julho, pois nesta fase a questão da mudança e da adaptação à cidade e a língua é agora que está ultrapassado. Já todos nós nos sentimos em casa, já não vivemos entre caixas e até já tivemos tempo para pensar nos últimos detalhes da casa.

No meu “planeamento” setembro seria para ajustar outro tipo de rotinas: a das escolas e da maneira como isso condiciona tudo o resto, nomeadamente a gestão da casa, das compras e da minha própria vida.

 

Em contrapartida, se havia muita expectactiva com a chegada desse dia, também é verdade que ainda estou em fase de testes. Para já, o meu grande objectivo é minimizar o tempo que passo a conduzir e de forma a que eu consiga ter o maior tempo possível para conseguir completar, por exemplo, uma coisa do início ao fim sem interrupções.

Mas a esta altura os horários das escolas ainda não estão completamente fechados, há actividades extracurriculares por começar e, nessa altura, os horários estarão mais homogéneos e eu consigo sacar mais uma ou duas horas “só para mim”.

 

Agora vivo um pouco com aquela sensação de “gastar tempo” sem realmente ter tempo para fazer o que preciso. O relógio condiciona e o trânsito também. Entre ir buscar o Vicente às 15:05 e a Laura às 15:20, imaginam que para que tudo corra bem, tem que estar tudo muito bem controlado.

 

A distância escola-casa e a escola provisória da laura, que ainda não pode juntar-se à do irmão, faz com que este ano lectivo seja um pouco assim, numa versão mais de mãe-uber. É que aqui não temos a nossa avó para dar uma mãozinha – ou várias. Aqui estamos só por nossa conta numa sociedade que nos obriga a viver para os filhos e para a família. Atenção, obriga no bom sentido, porque aquilo a que estamos habituados é a deixar os nossos filhos assim que a escola abre e ir buscar no último instante. Não é desejado, mas antes uma consequência do ritmo de vida. Mas aqui tudo está orientado de forma contrária ou, pelo menos, tem que estar e temos que fazer vários malabarismos e ter muita paciência acima de tudo connosco próprios.

 

Desbravamos o desconhecido literalmente e aos poucos esta fase ficará para trás. E quando se vivem momentos assim, com muita novidade e muita coisa a acontecer ao mesmo tempo, o meu truque é tentar manter o foco nas prioridades e uma delas sou definitivamente EU.  

 

Boa noite!

 

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