Conviver Com Uma Doença Inflamatória Do Intestino | Testemunhos Reais #6
Depois de mais de um ano com coisas esquisitas a acontecer no meu corpo, finalmente soube o que tinha: Colite Ulcerosa, uma forma de Doença Inflamatória do Intestino. Confesso que não percebi exactamente o que me estava a acontecer nem as implicações que teria. Tinha 27 anos, uma vida profissional de vento em popa, uma vida pessoal preenchida e muitos muitos planos para o futuro. Levei a medicação para casa, comecei a tomar sem ter percebido que… era para a vida!
Ser diagnosticado com uma Doença Inflamatória do Intestino tem um sabor agridoce. Por um lado temos uma etiqueta para pôr no bicho e isso dá-nos uma sensação de alivio. Depois… o agreste é aceitar que é para a vida; que os tratamentos demoram meses até começar a ter os efeitos pretendidos e que nem sempre se acerta à primeira; que há marcas que poderão ser permanentes; que haverão momentos que podem ser tão incapacitantes que não conseguimos sair de casa ou temos que permanecer numa cama no hospital.
Eu diria que estes (quase) 12 anos de conviver com este tipo de doenças na primeira pessoa, têm sido uma montanha russa. Umas vezes em cima, outras vezes em baixo ; outras mais depressa, outras mais devagar. Mas sempre (sempre!) a andar! Com o tempo adaptamo-nos à viagem, encontramos o nosso espaço, aprendemos como nos manter em movimento mesmo com limitações que possam existir. E por vezes, é dar 1 passo atrás para poder dar 2 em frente.
Uma vez, ainda nos tempos de faculdade, um amigo disse-me: Tens que chegar a velha e ter que histórias que comecem por: “foda-se! Houve uma vez…!”. Certo é que, ao longo dos anos, tenho acumulado muitas histórias que começam por: “Foda-se! Houve uma vez…!” que se seguem de muitas gargalhadas cada vez que as conto. A rir tudo custa menos, e assim como assim, tristezas não pagam dívidas. Cheguei sempre onde quis, e fui onde sempre quis. Nem sempre no momento em que eu gostaria, é certo. Mas ainda assim, fui, vi e venço todos os dias!
Obviamente não estou sozinha na montanha russa. Há os amigos e a família, aqueles que me são próximos, que já se habituaram à ideia que quando combinamos jantares, sou eu que escolho o lugar para termos a certeza que tudo corre bem. Se querem cozinhar para mim, já sabem que é melhor partilhar antecipadamente o menu e que há coisas proibidas na confecção, como a pimenta.
Se foi fácil aceitar que tenho uma doença para a vida e que pode ter complicações associadas debilitantes? Não, não foi. Acho que não aceitei, e sinceramente, nem tenho que aceitá-la! Tenho sim (e foi o que fiz) adaptar-me. E dei-lhe um propósito: falar sem tabus, educar para este tipo de doenças e lutar para que outros como eu tenham melhores condições de vida em Portugal. Uma comunidade online, um blog, um livro, uma petição e sempre com a ajuda de outros companheiros de luta! Porque juntos somos mais fortes!
Kennedy uma vez disse “uma pessoa pode fazer a diferença e todos deveriamos tentar”. 1 em cada 500 pessoas em Portugal tem uma Doença Inflamatória do Intestino. Abram o vosso Facebook. Procurem essa pessoa que tem Crohn ou Colite e conversem com ela. Escutem sem colocar filtros! Mostrem empatia. É tudo o que essa pessoa quer!
Vera Gomes