O casal para além dos filhos, o tempo e a comunicação a dois! O que falha?
Talvez a maior dificuldade seja comunicar para além dos filhos, sem os filhos. Admiro imenso os casais que, de forma natural ou auto imposta, mantêm o tempo só a dois e que acabam naturalmente por nutrir o amor entre eles tal como ele era antes dos filhos.
Porque amor depois dos filhos é um amor diferente, deixa de ser a dois, deixa de haver a conversa franca e genuína – afinal, há coisas que não se dizem, ou pelo menos tenta-se, na frente dos filhos. Somos ingénuos quando nos estreamos na maternidade pela primeira vez, pois temos a visão romanceada da maternidade e do facto de ambos se tornarem pai e mãe, juntos, pela primeira vez.
Um bebé parece um ser indefeso… e é, mas não o sendo, ao mesmo tempo. O bebé entra nas nossas vidas, pessoal e conjugal, como uma avalanche e os mais distraídos podem acabar por ceder à pressão. Outros vão tentando contornar os obstáculos. E depois há aqueles, inteligentes, que simplesmente “tiram o trunfo da manga”: tiram tempo a dois para conversarem de um para um, para se ouvirem sem interferências e sem tempo cronometrado ou com pequeninas vozes de fundo e manipuladoras. Esses seres adoráveis que são os nossos filhos e que despertam em nós um amor incondicional têm este efeito natural e nós temos, por defeito de programação, ceder em prol dos filhos.
Admiro os casais que enfrentam e batem o pé, reclamando o tempo para si, o tempo a dois. Admiro porque tenho aprendido que esse tempo é essencial para que o casal continue a sentir-se enamorado, para que seja capazes de olhar um para o outro sem ser através do cansaço, das olheiras e do stress da maternidade. Porque, no dia-a-dia, descarregamos, por norma, naqueles que mais gostamos e que estão mais próximos de nós. Por norma, magoamos quem amamos sem querer e se houvesse esse tempo, haveria, na minha opinião mais compreensão e também mais paciência. Havendo esse tempo, teríamos, quem cabe, mais ferramentas para superar as adversidades do dia-a-dia e da vida em si mesma.
A nossa essência vem programada para criarmos laços e uma família, mas a ligação ao outro e a vivência, dia após dia, nos momentos menos bons, é difícil e o caminho é tortuoso. Os gestos mais simples, por vezes, tornam-se os mais difíceis de levar a cabo e o pedido de desculpas, bom, essa é uma capacidade que a maioria de nós perde quando se torna adulto ou será impressão minha?
Queremos ter alguém, mas queremos que seja fácil! Queremos filhos, mas queremos que seja fácil! Queremos uma família, mas queremos que seja fácil! Queremos uma carreira, mas queremos que seja fácil! Queremos realizar sonhos, mas queremos que seja fácil.
- E quando não é?
- E quando dá mais trabalho do que estávamos à espera?
…. Desistimos e partimos para outra? Ficamos e lutamos? E se for para desistir, será que sabemos quando é o momento certo?
Admiro não apenas os casais, mas as pessoas que se esforçam para passar esta barreira, seja ela do desistir ou do lutar. Admiro as pessoas que saem do superficial e que dão "o corpo às balas" para conversar, para se entender, sem medos nem receios de assumir fraquezas, defeitos ou medos… No fundo, somos todos iguais: somos todos seres humanos constituídos por medos, defeitos, medos e também qualidades. Aquilo que nos distingue uns aos outros é essa capacidade que ou se tem ou não se tem de ultrapassar a barreira.
Boa noite.