A viver devagar nestas duas semanas de nova vida em Bruxelas
Fez ontem uma semana que entramos no nosso novo lar e ontem precisamente desfazia a última caixa e arrumava as roupas que ainda estavam espalhadas. Uma coisa que foi amor à primeira vista e não por ser a ideal ou a mais gira de todas. Nada disso! Foi amor à primeira vista talvez por ser realmente a tal, por ser realmente aqui que deveríamos estar e por eu estar desperta isso e ter marcado a visita, mesmo sem o meu marido mostrar qualquer interesse.
Quis o destino que ele, mal entrasse, sentisse o mesmo e quisesse fechar o negócio sem que ainda tivesse visto a casa toda. E acreditem que depois dos dias longos, preenchidos com visitas e nós já bastante desanimados, sem muitas mais opções pela frente, cancelamos todas as visitas assim que saímos da “nossa” futura casa.
São sinais que a vida nos dá e das duas uma: ou captamos e confiamos ou continuamos noutro sentido à procura do ideal, que nós próprios nem sabemos muito bem qual é… - nestas coisas do “abstrato” tenho sempre que dar um empurrãozinho ao meu marido que pouco ou nada está virado para essas coisas. E parece que com o tempo, lá me vai dando alguma credibilidade e sem se arrepender.
E, mais tarde, quando aqui chegamos, a cereja no topo do bolo foi quando começamos a arrumar as nossas coisas em novos lugares. No início, fiquei com a ideia que as coisas não iam ficar bem nesta casa, dois estilos completamente diferentes e já estavam com ideias e listas de coisas que eventualmente teríamos que comprar. Contudo, sabem o mais engraçado? Tivemos uma união perfeita e o essencial que viajou de Lisboa até Bruxelas, vai o suficiente também aqui.
Tive semanas inteiras a destralhar a mudança. Tinha claro na minha cabeça que não iria trazer anda que não usasse ou que não gostasse, o que mesmo assim já é muita coisa. E hoje, uma semana após estarmos cá e com tudo no lugar, transmite-me coisas boas ver armários e gavetas vazias e uma casa ampla onde a energia flui. E é isso que eu quero de uma casa.
Preciso de uma estante para livros, de uma cama para a Laura, porque preciso criar espaços diferentes e uma secretária para acompanhar a nova fase escolar do Vicente. Levei imenso tempo a sentir a nossa anterior casa como nosso, passei imenso tempo a pensar nas coisas que nos faziam falta, passei também muito tempo a destralhar, e estávamos felizes em nossa casa.
E agora sentimos o mesmo, as nossas escolhas não forma em vão e adaptam-se perfeitamente a esta casa com características diferentes. E os dias que aqui passamos contrastam com os anteriores à nossa vinda para cá, que foram de correria e de grande azáfama. OS dias têm sido passados de forma tranquila, sem pressas e, tanto os miúdos como eu, temos aproveitado a cama um pouco mais de manhã.
Sabem?! Falamos tanto do slowliving, eu própria também, sem muitas vezes, o sentirmos realmente. E eu, entretanto, nestas duas semanas consegui atingir esse estado da minha existência e da nossa vida. Hoje sei o que é o slowliving, porque os nossos dias têm sido desfrutados, sem pressas, de manhã à noite, com a rotina gostosa de fazer tudo a pé, voltei a ter o meu troley para ir às compras ao supermercado e observo os meus filhos felizes e soltos pelas ruas, umas vezes de trotinete, outras de skate e outras de bicicleta. São eles que escolhem e o resto deixamos fluir. Levamos mais tempo nos percursos, temos peripécias e conversamos muito.
Não sei se estou a perder alguma coisa ou se deveria estar a correr atrás de alguma coisa, sei, contudo, que preciso disto que estou a viver agora. Sinto que os momentos que passamos de manhã, na nossa varanda, entre as brincadeiras deles, o meu silêncio enquanto termino o meu café, o cheiro da relva e o cantar dos passarinhos, é tudo aquilo, que eu secretamente pedia para ter um dia. Portanto, se esse dia chegou, eu permito-me desfrutar de tudo isso sem qualquer tipo de pressa.
E com isto não confundam o slowliving com o não fazer nada, porque nada tem a ver. Continuo com todas as tarefas, aliás, mais ainda nesta fase e nas próximas, mas faço a um ritmo diferente. Foi como se de alguma forma, eu tivesse abrando o ritmo e não me perguntem nem como nem porquê. Mas se querem um conselho, quando se sentirem próximos de viver um momento assim, experimentem!
Bom fim-de-semana.