Incentivá-los a sair da zona de conforto e a explorarem coisas novas!
- Dar os primeiros passos;
- Incentivar para que consigam comer sozinhos;
- Ganhar autonomia para deixarem as fraldas;
- Levá-los para a rua, saltar nas poças de água sem pudor em sujarem-se;
- Tirar as rodinhas laterais da bicicleta para “ganharem” asas e sentirem o seu próprio equilíbrio;
- Viajar com eles, expô-los a diferentes realidades e estímulos, incluindo os diferentes sons e sotaques;
- Retirá-los do conforto do carro para saberem que existem outros meios de transporte;
- Experimentar gastronomias diferentes para explorarem o seu próprio palato;
- Entrar com eles em museus, levá-los a concertos, pô-los a ouvir os desenhos animados que adoram em línguas diferentes da sua.
Parte do nosso papel de pai e mãe passa, sem dúvida, por estimular cada vez mais os nossos filhos a coisas diferentes das que estão habituados. Passa por retirá-los da sua zona de conforto e chegarem um pouco mais alguém e, quando chegarem lá, aumentar um pouco o nível de dificuldade, e dar-lhes um novo desafio.
Parece tudo natural quando os temas são básicos como, por exemplo, comer, andar e todas as outras necessidades básicas que fazem parte do nosso dia-a-dia. Depois, há tudo o resto, estímulos completamente diferentes que, no entanto, contribuem para que ganhem à vontade perante o desconhecido, situações e pessoas.
Lembro-me, em miúda, de me sentir sempre nervosa com a exposições orais dos trabalhos escolares. Falar em público, para um público desconhecido – e mesmo com o conhecido - deixava-me desconfortável. Falar em voz alta para uma plateia fazia com que o meu coração batesse mais rápido.
Lembro-me bem do dia em que decidi contrariar isso e em que me obriguei a enfrentar os desafios. Estava na minha pós-graduação - em Gestão de Bancos e Seguradoras – e eu completamente a sentir-me um peixe fora de água. Para além de tudo, as matérias representavam um bicho de sete cabeças, contas com letras, letras com números, um sem fim de coisas que, na minha cabeça – formatada em humanidades - não faziam sentido algum.
Nesse ano, nos trabalhos de grupo, mesmo tendo zero confiança no que dizia e com um elevado grau de certeza da minha alta probabilidade de falhar, obrigava-me a falar. Talvez porque nada podia ser pior do que as dificuldades que eu sentia na maior parte das cadeiras.
A partir daí, e sabendo onde estava a minha fraqueza, a minha estratégia foi sempre aceitar os desafios, dizer que sim e até dar-me como voluntárias naquelas situações em que ninguém levanta a mão e em que todos se tentam esconder, uns atrás dos outros.
E a verdade é que me sinto muito melhor agora, que venci esse medo. Sinto-me melhor agora que tenho alcancei o a vontade e que, ao mesmo tempo, me faz sempre mais confiante. Foi, tal e qual, como retirar um peso de cima dos meus ombros.
Todavia, penso que talvez não tivesse sido preciso esperar tantos anos e ter passado por tanta ansiedade na escola, com as apresentações orais, os exames orais, os teatros e “concertos” dos quais fazia parte nas várias festas da escola.
Não, não seria preciso esperar tanto tempo, como eu também acho que é assim que vamos descobrindo os chamados skills, aquelas habilidades que refinam o nosso perfil, enquanto pessoa e determinantes numa carreira profissional.
E os skills são tantos e tão diferentes, quanto a diversidade dos seres humanos. Não precisamos (e não somos) todos iguais!
Talvez por isso, eu, sempre que haja oportunidade, incentive o Vicente (e aos poucos a Laura) a saírem da sua zona de conforto, a porem-se à prova e, quanto mais cedo possível, aprendam a dar a volta ao friozinho na barriga, ao nervoso miudinho perante o desconhecido.
Esta semana, levei o Vicente a experimentar uma coisa diferente. Um convite que surgiu primeiro a mim e depois, como era preciso uma criança, estendeu-se ao Vicente. O objectivo é assinalar o Dia Mundial do Cancro, no próximo dia 4 de fevereiro. Estar por detrás das câmaras, seguir as indicações (várias) do pessoal criativo, as pessoas totalmente estranhas que, durante breves instantes, tinham que parecer os nossos melhores amigos.
Antes de se ouvir o “acção”, ficou nervoso, agarrou-se a mim, numa tentativa de ficar invisível. Ainda hesitei e trouxe-o comigo para um sítio mais tranquilo, conversamos e, de repente, um dos membros da equipa, aproximou-se também numa tentativa de criar empatia. Descobriram ser ambos do FCP, aquele “desbloqueio” que funciona sempre com os miúdos. Foi bom, ele relaxou, voltamos a entrar e correu tudo bem.