Onde é que as mães vão buscar o seu suporte emocional?
Existe na figura da mãe uma qualquer pressão (ou simplesmente a ideia) para que seja ela a solução e o suporte de tudo. Ao seu redor, surge, sem se aperceber, a ideia de que é inquebrável perante as situações mais difíceis e é nela que se depositam as expectativas para segurar todas as pontas. Contudo, ao mesmo tempo, esse é um caminho que é feito (por si) de forma solitária, afinal, ninguém espera que a mãe fraqueje. Existem sentimentos que, alheios aos outros, se desgastam. Afinal, todos ficam mais descansados se for a mãe a estar presente, se for a mãe a fazer/decidir, é com ela que as crianças ficam mais tranquilas e, assim, evitam-se as birras e as chatices.
Todavia, onde é que é suposto a mãe ir buscar suporte? Que mão é suposto estender-se para que ela se sinta segura nos momentos em que se sentir mais frágil? Quem é olha, para além dos filhos, e é capaz de escutar o coração de uma mãe?
Continuo à procura de respostas e, por isso, continuo a ir constantemente ao mais profundo que existe dentro de mim à procura de âncora para não ir ao fundo, mantendo-me rija e forte como se espera.
Ninguém está à espera que a mãe ceda, que a mãe precise de ajude, ninguém coloca a hipótese de como é que ela consegue, sozinha, assegurar a tranquilidade dos filhos ou o que é que ela faz com os seus próprios medos, com as suas próprias inseguranças ou com a sua própria vontade de, de vez em quando, lhe ser permitido sair da sua armadura.
Eu achava que a minha própria mãe era invencível. Ela dava sempre conta do recado e fazia (e faz) tudo parecer tão simples e tão fácil. Mostrou-me que é era possível alguém ter resposta para tudo e ser o meu porto seguro. Eu olhava para ela e tudo parecia ser tão natural, tão natural como o nosso respirar. Foi preciso ser mãe para perceber que as mães também sofrem, sentem-se sozinhas e tristes. Mas o mais incrível é que fazem disso um detalhe perante a necessidade com que os outros precisam dela.
No primeiro ano da cresce do Vicente, chegamos a ter que ficar com ele internado. Um pesadelo que durou uma semana e eu fiquei com ele todos os segundos, dia e noite, daquele internamento. Fui o escudo e fui o filtro e sei que fiz com que tudo parece-se normal, apesar das circunstâncias. Inventei brincadeiras, tinha sempre um sorriso e uma paz, que nem eu sabia que tinha. No dia e no momento em que soube que íamos finalmente ter alta, corri para a casa de banho daquele quarto e chorei, chorei muito. Tudo o que tinha aguentado durante aqueles dias tinha que sair. Senti-me frágil e desprotegida. Senti-me demasiado pequenina.
No primeiro ano da Laura, não dormi uma noite, e não estou a exagerar. E eu não entendia como que os efeitos daquela privação do sono não eram visíveis aos outros. Como é que ser zombie durante um ano não era motivo mais do que suficiente para desculparem alguma falha no meu comportamento ou nas minhas atitudes? Eu só queria dormir, só queria fechar os dois olhos e dormir.
Durante esta semana tivemos toda uma evolução da gastroenterite da Laura. Um quadro clínico, no fundo, natural e previsível quando um vírus destes ataca. Todavia, culminou com uma ida às urgências às duas da manhã. Os gritos de dor dela, o sono e o cansaço e a resistência em aceitar a ajuda das enfermeiras, secava-me por dentro. A voz saia calma, pintei durante trinta minutos, sem parar de forma a conseguir entretê-la. Os meus olhos picavam, mas não cederam.
Não era uma noite agitada nas urgências, mas erámos todas mães, em aparente serenidade que acalmavam o seu bebé. Há, de facto, qualquer coisa dentro de nós que se apodera e que assume o controlo quando é preciso. Porém, no final, deixa-nos infinitamente tristes e sozinhas. Perdidas porque a atenção e a preocupação são com eles, foi assim desde que nasceram. E é esta separação e corte, dos outros, com as mães e com os sentimentos destas que as pode levar à depressão. Há uma certa solidão misturada com a exigência constante e a expectativa da resposta.
Onde é que vão as mães, afinal, encontrar o seu suporte emocional?
Estar com os filhos permanentemente é o mais difícil de tudo e o mais exigente. É toda a dependência e exigência que procuram em nós e, nós, sabermos que eles são apenas crianças e que, no fundo, tudo isto é tão natural… tão natural a partir do momento em que nos tornamos mães.
Boa noite!