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As viagens dos Vs

Mulheres nutridas, famílias felizes

As viagens dos Vs

Férias: Afinal, foi fácil fazer os dias esticarem | Como? |

27.08.18 | Vera Dias Pinheiro

Tiramos uns dias de férias para aproveitar a família e a companhia uns dos outros. Durante estes dias não houve obrigações para nada a não ser de partilhar o que me apetecesse quando tivesse vontade. Alugamos uma “casa-hotel”, como lhe chamou o Vicente, que é como quem diz, um apartamento que pertencia a um hotel. Estacionamos o carro no primeiro dia para não voltar a mexer, trouxemos os bens essenciais para fugir dos supermercados tanto quanto possível e dedicamo-nos a dar o máximo de nós naqueles dias.

 

Tivemos uma grande sorte com o tempo e com a temperatura da água, já que uns dias antes estava gelada, deixamo-nos de cerimónias com as indumentárias para andarmos o mais confortável possível e até conseguimos (mais eu, talvez) deixar os horários rígidos de lado, para que fosse uma semana de férias a sério para todos. De manhã, acordaram mais tarde que o normal, talvez porque todos os dias, na noite anterior, havia passeio nocturno com direito a matraquilhos e carrosséis. Houve praia e piscina para satisfação de todos os membros da família e, na “casa-hotel”, a mãe cozinhou todos os dias, preocupou-se com as arrumações, o suficiente para se viver bem durante aquela semana, e ambos – mãe e pai – esforçaram-se para atender aos pedidos (exigentes) dos mais pequenos, Vicente e Laura.

 

Não foi uma semana de férias para nós, pelo menos não foi uma semana sem as exigências básicas do dia-a-dia de uma família, mas isso não me incomodou. Acho que ficamos todos a ganhar com a convivência em família nestes dias, em que todos temos que fazer algo pelos outros. Porém, era preciso ganhar tempo para poder gozar férias, era preciso poupar em alguma coisa para observar os meus filhos com toda a minha atenção – afinal, eles crescem tão rápido e especialmente no verão – era preciso economizar em tudo o que era acessório para me dar ao luxo de dormir as sestas com eles sempre que tinha vontade, para ficar na varanda a beber um copo de vinho numa pausa de fim do dia antes de todo o ritual familiar. E, já agora, se possível, folhear uma revista daquelas sem grande profundidade e adiantar algumas páginas dos livros que comprei e que ainda não consegui terminar.

 

Contudo, a pergunta que se imponha era: como fazer os dias esticarem? Como fazer com que aquela semana fosse capaz de resumir as nossas férias grandes e fosse o espelho do nosso verão? Como agarrar o tempo com unhas e dentes para poder criar memórias felizes na cabeça e no coração deles e eu poder gozar-me mais um pouco da sua companhia enquanto ainda são tão pintainhos da sua mãe?

 

dias de férias com filhos

 

Talvez… esquecendo-me do computador que foi comigo e tornar o telefone no objecto mais acessório do meu/nosso verão. Contrariamente ao que seria esperado, as redes sociais não foram as primeiras a registar os momentos, os e-mails esperaram mais do que o esperado para serem respondidos, deixei passar alguns aniversários, cujas notificações do Facebook não vi ou vi tarde de mais, assim como, não raras vezes, ficaram likes e comentários por fazer nas partilhas das pessoas que eu gosto. Mas se esta é a condição, que seja, afinal, que receio devemos ter se não estivermos sempre presentes no online, se não respondermos no imediato e se não formos pessoas activas nas redes sociais? Deixam de saber quem eu sou? Desapareço? Deixo de ter trabalho?!

 

Como é que funciona, afinal, a sociedade digital dos dias de hoje? E até que ponto somos escravos da mesma?

 

O verão é a única altura do ano em que efectivamente consigo estar junto de pessoas que são importantes para mim, é a única altura em que consigo dar aos meus filhos o que eles precisam: tempo para estarem um com o outro, para se conhecerem, para aprenderem a brincar um com o outro e para construírem a sua cumplicidade e fortalecerem os laços.

 

| Imagens em carrossel | 

 

 

 

O verão é a única altura em que se desculpa o ritmo mais lento, as férias e o bom tempo servem de pretexto, e em que eu posso reciclar-me, renovar-me e encontrar-me. Posso ter tempo para ver outras coisas, descobrir novidades, reflectir e até não pensar em nada. Todavia, para tal, é preciso recuperar o tempo que a internet me rouba, é preciso ganhar aqueles minutos perdidos da companhia dos nossos para partilharmos o que é nosso com o mundo. Mas, em contrapartida, eu também quero algo que seja só meu, também quero ter uma vida privada, quero saber viver sem o telefone e sem as redes sociais. Quero saber o que fazer com as minhas mãos sem ser percorrer os feeds, deixar comentários e likes, só para estarmos activos e pessoas virtualmente presentes e quero adormecer sem ser na companhia “dos desconhecidos que sigo no Instagram”. Quero saber o que dizer e o que brincar nesses instantes em que não tenho o telemóvel na mão e, sobretudo, quero perceber o tempo que tudo isso representa na minha vida diariamente.

 

A partir de setembro irei recuperar o tão esperado tempo só para mim e o desafio vai ser a gestão do meu tempo, porque não quero ter desculpas ao final do dia para não dar atenção aos meus filhos, para andar stressada a pedir-lhes para esperarem ou, então, fazer várias coisas em simultâneo. Eu não preciso de desculpas para a mãe que eu quero ser da mesma forma que isso não tem que anular o meu lado profissional. E acredito que posso conciliar, contudo para tal é importante saber bem até onde é que posso ir, quer para um lado quer para o outro, e não deixar que as redes sociais decidam que somos mais ou menos influentes.

 

Estou numa fase em que redescobri o encanto da maternidade como se estivesse a ser mãe de novo pela primeira vez. Os meus filhos tão numa fase super apetecível em que não me apetece perder pitada do tempo em que estou com eles. O Vicente é um menino conversador e uma grande companhia. Nestas férias, demonstrou o seu lado protector com a sua preocupação com a irmã, especialmente perante a sua loucura e apetência pela aventura. A Laura, por sua vez, é super expressiva e levou-me novamente aos banhos na praia, sorte a minha que a água estava quente… No fundo, completam-se um ao outro, mesmo quando discutem, mesmo quando nos deixam de rastos e quando passam os dias insatisfeitos com tudo e com todos.

 

Foram uns belos dias de férias tão bons quanto é bom o entusiasmo que sinto com o aproximar do regresso às rotinas, com a entrada numa nova fase para mim e sentir-me expectante com as coisas novas que posso fazer e com uma nova gestão da minha vida, mais organizada e com horários. E aqui está a prova de que o importante não é o número de dias, mas sim a forma como se vivem os dias e a intensidade com que nos dedicamos ao presente a cada dia.

 

Espero que as vossas férias tenham sido boas e que se sintam positivos e cheios de energia perante o recomeço do ano agora em setembro.

 

Boa noite!

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