Os pais ficam loucos mas a culpa não é dos filhos!
A maternidade não é uma ciência exacta, até aqui, não vos estou a dizer novidade alguma. E, na maternidade, também não podemos achar que, quando chegar a nossa vez, irá ser diferente ou até que temos habilidades que as outras mães e pais não têm. Lamento, se futuros pais me estão a ler ou pais de primeira viagem com tudo controladíssimo – eu já estive no vosso lugar - se estou a ferir as vossas suscetibilidades, contudo, esta é a mais pura das verdades! Mas ainda há mais! Sabem quem são os verdadeiros culpados? Não, não os filhos. Os grandes culpados somos nós, as mães e os pais, tal é o nosso nível de insatisfação face ao temos e aquilo que ambicionamos para o cenário perfeito. E mesmo assim, quão ingénuos somos nós e, mais uma vez, insatisfeitos, que mesmo na eventualidade de alcançarmos o suposto cenário perfeito, mesmo assim, esse não é suficiente.
Pela minha experiência falo, dois filhos nunca são iguais. Não sei se é uma tendência que continua no terceiro ou quarto filho. Porém, o facto de não ter dois filhos iguais mostra-me precisamente o quão insatisfeitos os pais conseguem ser.
Por exemplo, eu tenho um filho que não gosta de praia, mas que já se habituou à ideia de que, nas férias de verão, as idas à praia são inevitáveis. Lá se vai entretendo e agora descobriu as raquetes e é uma coisa que gosta de fazer na praia – logicamente que se tiver companhia para uma jogatana de bola, o assunto muda de figura! Nestas férias tem aguentado bem as manhãs na praia porque sabe que, à tarde, tem a “recompensa”, a piscina.
Ora, durante estes últimos anos, cinco mais concretamente, tenho partilhado com vocês que, durante as férias de verão, nós éramos aquela família super enfadada na praia e aborrecida por não existir harmonia naquele programa tal era o “frete” (de alguns). E eu que adoro praia e que acho importante, sentia até alguma tristeza pois não consigo ser indiferente aos sentimentos do Vicente em relação à praia e porque sei que não o posso obrigar e nem vou! Como também evito que ele se sinta mal por não apreciar estar ali, por não gostar das ondas e nem de se aproximar muito da água do mar. É normal! Tão normal como, pelo contrário, não se gostar de piscina. É aqui que aprendemos à força – se por ventura ainda não o tiverem feito que as pessoas são todas diferentes umas das outras e que isso é que nos torna a todos pessoas interessantes e que faz com que ao longo da vida nos vamos identificando ora com uns ora com outros.
Aceitar a diferença do outro, porque nós também gostamos e apreciamos quando aceitam a nossa própria diferença. Certo?
Depois, fui mãe uma segunda vez e, à força, fui dando espaço para o desconhecido e para o facto de eu não conseguir controlar tanto as situações e aprender que há filhos que desafiam a nossa autoridade logo desde que nascem. E, logicamente, que neste aspecto, a Laura tinha que nos surpreender a todos com a sua ousadia natural para enfrentar o mar; com a sua atracção pela adrenalina das ondas e pelas brincadeiras à beira mar.
Bom, e, neste momento, diriam vocês: “Então, queres dizer que agora estão felizes da vida porque têm um filho que adora estar na praia?” e que a Laura seria uma espécie de recompensa para nós. E teriam toda a razão caso os pais não fosse “obrigados” a viver nos extremos comportamentais.
Os pais vivem entre o tudo e o nada, entre o oito e o oitenta. Se por um lado, um filho faz birra por estar na praia, o outro, por sua vez, faz birra por ter que sair. Os pais têm uma certa tendência para padecerem de uma certa loucura, sabem? Afinal, quem é que entende isto? Não podiam ser mais diferentes. Mais contrastantes. E nós, que em vez de um equilíbrio, damos por nós a andar completamente esmifrados entre dois pólos opostos.
A Laura adora andar na rua, o Vicente prefere estar em casa. A Laura, por ela, passava horas nos carrosséis, o Vicente quanto mais longe deles estiver, melhor. Porém, como se isto não fosse suficiente. Quando nós tentamos tirar uma lição de uma situação ou comportamento, eles unem-se e voltam a trocar-nos as voltas.
Digam-me como é que isto fica a partir do segundo filho? É que eu não consigo imaginar mais um elemento, nesta casa, com exigências e personalidade próprias.
Às vezes - muitas vezes - entro numa bolha e lá fico, à espera que a tempestade à minha volta passe. Espero que resolvam os seus conflitos e que se apercebam dos conflitos que criam connosco. E que, sem nos darmos conta, entramos numa espiral em que tentamos dar-lhes tudo e em que o tudo não é suficiente, em que nos esforçamos para que estejam felizes, mas nunca nada é suficiente. Falta sempre algo ou, então, criam-se desejos e vontades ainda maiores e mais inatingíveis. E os pais, padecendo da sua loucura, privados de sono não raras vezes e com os seus interesses em segundo plano, ficam muitas vezes baralhados e hesitantes quanto ao melhor caminho.
Eu adoro os meus filhos, mas, no verão, permito-me um copo de vinho para aguentar aquele finalzinho do dia que é sempre tão intenso qual seja o local onde estejamos e, já agora, um café a mais porque acordar cedo durante as férias parece que custa sempre um bocadinho mais. Não é? É nas férias e aos domingos…. 😉
Boa noite!