A noção da importância de mim e do meu corpo
Não vivemos na era das máquinas e só temos este corpo e esta vida para viver. Demasiado dramático para começar este post? Realisticamente, acho que não. Sinto (na pele) a pressão da vida adulta, os múltiplos papéis que temos que desempenhar, a exigência da maternidade e a exigência dos filhos, que são coisas bastantes diferentes, as nossas próprias exigências connosco e ainda, aquilo que os outros esperam de nós.
Contudo, vivemos bem com tudo isto até um dia em que o nosso corpo, a nossa máquina, começa a acusar pressão. E se não ligarmos a essa pressão, o corpo vai obrigarmos a tomar atenção e vai obrigar-nos a parar. E tenho a certeza que eu fui obrigada a parar quando “apenas fui arrancar um dente do siso”. Desde aí que a minha vida mudou. Era suposto ser só um dente, mas foi muito mais do que isso, foi muito mais abrangente e levou-me à descoberta de outras coisas.
Mas convém abrir um parenteses. Acreditem que tem sido muito bom encontrar as respostas, ou melhor, as fontes dos meus problemas. É que faltava já muito pouco para me passar um atestado de “loucura”. Porque o emocional é muito assim, manifesta-se das mais variadas formas, mas sabe disfarçar-se quando é preciso encontrar uma causa. Portanto, progredi muito nos últimos tempos e estou aliviada por finalmente ter chegado até aqui.
Não adiante saltar etapas, não adianta disfarçar as coisas ou procurar alternativas fáceis. Só damos efectivamente o passo seguinte quando descobrimos aquilo que a nos está a perturbar. No fim do ano, senti-me no pico da minha exaustão e sei que eu não me permito falhas, como ainda, exijo-me a dar 150% em tudo. E isto de trabalhar o digital não é o mundo cor-de-rosa que muitas pessoas imaginam. É de uma exigência a todos os segundos da nossa vida, sem férias e sem fins-de-semana.
A pressão do conteúdo diário é grande, mas esse conteúdo é algo que vem de dentro de nós, é algo que exige entrega emocional, exige capacidade de fluidez na escrita e nos sentimentos e ideias que queremos passar. E a verdade é que a nossa cabeça anda, muitas vezes, por tantos outros lugares, menos por onde devia. A disciplina chega a ser cruel. Depois, são as redes sociais, cuja tendência é para acharmos que devemos ser constantes e assíduas. E, por fim, a falta de horários que leva a perda de noção que os dias tem momentos, das horas de dormir, de comer e dos próprios dias da semana.
Porém, com tudo isto há igualmente uma vida pessoal e uma vida banalíssima que se pauta por obrigações, problemas, contratempos, cansaço e muito por não querer ser a maluquinha do telefone quando estou a passar tempo com as minhas pessoas. Tenho dois filhos, um marido, os meus hobbies e as coisas que gosto de ver e onde gosto de estar e a verdade é que nem tudo na nossa vida tem que ser “instagramável” ou “insta-diário” ou “insta-momentâneo”. E, neste sentido, sem que eu tenha feito por isso, os momentos em família são vividos cada vez mais em família. São nossos, não são para ser apressados, muito pelo contrário. Quero desfrutar destes tempos que não vão voltar. Também quero sentir que não ando a correr para todo o lado, que tenho uma agenda com mil eventos - que, muitas vezes, apenas acrescem mais trânsito, dinheiro gasto em parques e tempo que vou retirar ao trabalho que realmente me paga as contas e que exige a minha disponibilidade, não só de tempo, mas também emocional e psíquica para criar as histórias que gosto de partilhar. Porque é nesse papel que eu melhor me revejo e para fazê-lo bem não posso andar à pressa. Portanto, naturalmente pode acontecer deixar passar um dia ou dois sem publicar nada no blog.
E assim volto ao início deste texto: não vivemos na era das máquinas e só temos este corpo e esta vida. É que aqui não há ninguém, para além de mim, para fazer a contabilidade, para responder aos e-mails, para tirar as fotografias (e editar), para ser proactiva, para me inspirar, para escrever e para ir a eventos. Há dias em que tudo ao mesmo tempo, não resulta. Ou melhor, resultou até que o meu corpo quis parar e obrigou-me a tal.
Eu percebi que preciso de fins-de-semana fora de tudo, que preciso de me sentar à noite a ver um pouco de televisão, que a rotina do ginásio é sinónimo de saúde para mim e que, por isso, não posso abdicar dela, que tenho que ter um dia para organizar a minha semana, que tenho que colocar os meus interesses à frente do dos outros (lamento, mas temos que ficar todos a ganhar), não me posso esquecer de quem sou e de quem vocês são e que houve um dia na minha vida que fiz a escolha de ser uma mãe presente. E remato dizendo que dois filhos é uma transformação brutal na nossa rotina, é tudo aumentado em dez vezes. E que os dois anos são tramados, mas os cinco também estão cheios de desafios e são uma fase completamente diferente. Sem conseguir ainda explicar muito bem, é como se a minha presença fosse ainda mais exigida, como se eles dos dois, em conjunto, consumissem 80% do meu tempo e daquilo que sou. Em 99% das situações já não dá para deixar passar ou ter uma desculpa, é preciso educar – é isso! E com eles, há uma casa que começa a estar 100’% das vezes em estado caótico e, embora relativize, eu preciso de alguma ordem ao meu redor.
E, no meio de tudo isto, vocês percebem que eu não sou uma rapariga de escrever só por escrever. Preciso de tempo, de concentração e, especialmente, de ter a cabeça no sítio certo. E isto não são desculpas, é falar da vida como a vida é! É aceitar que estamos a crescer e aceitar-nos como somos. Quero ser velhinha e acompanhar os meus filhos, quero ter saúde para continuar a fazer as coisas de que gosto e quero a cabeça sã para que tudo isso seja feito com a maior qualidade de vida possível. Saúde é tudo e aquilo que separa a idade adulta da outra idade mais jovem, é precisamente este pensar sobre a vida, ter esta noção da passagem do tempo, saber que queremos cá estar muito tempo, mas que de um dia para outro tudo, mas tudo pode igualmente mudar.
Espero não ter sido muito down para uma segunda-feira, porque a ideia é precisamente pedir-vos que façam também um balanço das vossas vidas e das vossas prioridades. Façam como eu, tirem um dia da vossa semana para organizar a vossa mente e o vosso espírito.