(Ainda) Sobre o nosso Natal sem presentes
Há poucos dias atrás o meu marido olhava para a nossa árvore de Natal e dizia-me que, para ele, ainda era esquisito vê-la sem presentes. Parecia-lhe um pouco despida. E eu entendo. No entanto, a minha primeira reacção é sentir um sentimento de libertação enorme. Não ando stressada a pensar em presentes, não ando no meio da confusão das pessoas que anda às compras e sobretudo, estou concentrada apenas na mesa de Natal e no menu dessa noite, pois é aí que vamos estar todos reunidos, dia 24 e dia 25.
Obviamente que tenho lembranças para o resto da família, que não é assim tão grande, mas aquilo que eu quero é que a véspera e o dia de Natal não giram em torno dos presentes. O que eu espero é viver o convívio, as brincadeiras, as conversas e boa disposição de uma família (especialmente sendo o nosso núcleo já tão pequenino). Quero que os meus filhos se recordem destes momentos com alegria e da nossa boa disposição. Quero que me perguntem mais tarde qual era a receita das bolachas que fazíamos para deixar ao Pai Natal, por exemplo.
Na minha opinião, educar uma criança nos dias de hoje é completamente diferente de quando eu era criança. Em pequena, lembro-me perfeitamente do entusiasmo com os presentes, com as surpresas que os meus pais preparavam e com a dúvida se eles tinham ouvido os meus pedidos. Esperávamos ansiosamente pela meia-noite e depois era ver a sala com papéis de embrulho por todo o lado, misturado com o cheiro do café da borra e das filhoses.
Nos dias de hoje as crianças estão sempre a receber presentes, lembranças, alguma coisa nem que seja por se terem portado bem no supermercado. O maior poder compra levou ao aumento do consumo. E, se por um lado, isso teve (e tem) um lado bastante positivo, por outro, veio banalizar também o valor que atribuímos às coisas.
Muitas vezes acabamos por querer algo apenas porque sim e as crianças quanto mais têm mais querem. E nisto a culpa não é de ninguém e é, ao mesmo tempo, de todos nós. Vivemos numa sociedade que se orientou desta maneira. Mas não nos podemos alhear dos efeitos menos bons de tudo isto.
As crianças querem muito uma coisa para depois se fartarem passado cinco minutos. Querem muito uma coisa porque os amigos da escola têm, porque viram na televisão, porque acham que precisam (muito) e também porque se dá a impressão que é tudo muito fácil e acessível. As crianças não têm a maturidade (ainda) necessária para perceber que as "moedinhas" que usamos para comprar, levam o seu tempo (e trabalho) a juntar-se. Essa maturidade cabe-nos a nós ter.
Com efeito, dizer que nós não oferecemos presente no Natal, ou mesmo nos aniversários, aos nossos filhos não é privá-los de nada. Aliás, os meus filhos têm tudo aquilo que precisam e mais ainda. Têm oportunidades incríveis que muitos meninos e meninas não têm.
O Natal é uma época especial, tem um significado mais profundo. Nesse sentido, se andamos um ano inteiro a “consumir”, então que agora se invertam os papéis. Que o Natal seja uma época diferente de todas as outras.
A magia que eu lhes tento transmitir está associada as experiências que lhes proporcionamos, às viagens que fazemos e ao tempo que lhes dedicamos em exclusivo nesses dias, à visita ao Pai Natal, às bolachas em forma de estrela que fazemos para levar para a escola, às decorações de Natal que preparamos, às idas ao teatro, aos passeios para ver as iluminações e tudo mais que a nossa imaginação (e o tempo) permitirem fazer.
Com isto não obrigo avós, amigos ou outros familiares a fazerem o mesmo que nós. Têm toda a liberdade para oferecerem presentes ao Vicente e à Laura. Mas enquanto eu conseguir, vou tentar ao máximo que o valor dos presentes seja deixado para terceiro ou quarto lugar.
E, por fim, tenho a sensação de que andamos tão atarefados com tantas outras coisas que nos esquecemos de aproveitar o mais importante nestes momentos, a companhia uns dos outros e isso presente algum substitui. E sem querer sem muito down, num ano tão marcado por perdas de pessoas, umas mais cedo que outras e outras de forma mais inesperada do que outras, não há como negar que a vida é volátil e que o tempo não é piedoso. Portanto, vamos gozar-nos da companhia uns dos outros o mais que podermos!!!
Boa noite!