Estou sempre a ouvir que as mulheres são muito más umas para a outras. Queixamo-nos a toda a hora das outras mulheres, da sua maldade e da forma como tratam e falam das outras mulheres e esse é o nosso maior erro. Por muito que gostássemos, nunca iremos conseguir mudar o outro e muito menos o mundo. Portanto, a única saída possível é fazer com que a mudança aconteça em nós.
Digo muitas vezes que a decisão de me despedir foi para poder explorar outras possibilidades de carreira que me realizassem mais, pois estava a viver uma realidade que me deixava bastante infeliz e a qual não me preenchia. Contudo, para além disso, foi também para me libertar de um ambiente que me deixava vazia, deprimida e sem alegria. E foi na minha grande pausa, da licença sem vencimento, que eu, sozinha e longe, numa vida que me preenchia por completo - não havia outra forma com um bebé tão pequeno - que me redescobri, que aprendi a contar comigo, a valorizar-me, a gostar de mim e a ser a minha melhor amiga.
Foi, então, que se tornou claro para mim que ao despedir-me eu não me podia permitir entrar num outro mundo dominado pela malvadez, mesquinhice e falsidade. Errado! Eu não posso fugir de um mundo que é assim, não posso alienar-me daquela que é a natureza humana. Ainda assim, posso (e devo) proteger-me de tudo isso. A minha vida basta-me e já me dá muito que entender, não preciso de arranjar mais problemas fora. Com efeito, a única coisa que tenho a fazer é afastar-me, não entrar em conversas que não quero, não alimentar rumores, não tomar partidos, talvez até ser um pouco mais "outsider" do que seria suposto. Aquilo que eu desejo, acima de tudo, é poder fazer a minha vida e gozar "este estatuto" que conquistei a pulso e para o qual foram precisos meses e meses para ganhar coragem, confiança e a paz interior com as decisões que iria tomar.
E o conselho que deixo a todas vós, mulheres, é o mesmo: afastem-se das conversas sobre os outros, não se importem de ignorar ou fingir que não percebem alguma coisa, não tomem partidos e nem as dores de ninguém, avaliam muito bem com quem despendem as vossas energias e o que recebem em troca, concentrem-se naquilo que é vosso, na vossa vida e na vossa família. Acima de tudo, cuidem de vocês próprias, tornem-se mulheres seguras e fortes interiormente, pois só assim vão conseguir estar acima do que os outros pensam ou dizem. Tenham a certeza de quem vocês são e de que "matéria” são feitas e ninguém, seja quem for, vos poderá convencer do contrário.
No final de cada dia o que conta é a paz interior com que conseguimos deitar a nossa cabeça na almofada e dormir descansadas. E, agora, nesta altura do ano em que as pessoas tendem a cobrar muito mais umas das outras, não o façam. Não se queixem a alguém por não vos ter ligado, escrito ou aparecido ou até porque não vos liga nas redes sociais. Fiquem, pelo contrário, felizes porque esse alguém tem vida própria, tem projectos e desafios com os quais anda concentrado e ocupado. Ou estejam atentos, pois pode também ter tido coisas menos boas e pode estar a precisar de apoio.
As amizades/pessoas que são verdadeiras duram uma vida inteira sem se contar o tempo que se esteve junto ou em contacto. Hoje em dia todos nós sofremos da falta de tempo, não são só os outros, nós próprios não temos tempo para mais ninguém ou para mais nada. A sociedade, da forma como está estruturada, não permite a maioria de nós conciliar a vida profissional com a pessoal e o que fará quando se junta a familiar.
Se querem resoluções para 2018, comecem por vocês. Criticar é fácil, o difícil é contagiar os outros com coisas boas. Eu não quero mudar o mundo, mas no meu mundo só entra quem eu deixo e eu só me deixo afectar por coisas que realmente fazem parte desse mundo.
Agradeço a todos vocês que me acompanham e que me seguem, que fazem parte da minha vida, que acompanham os meus filhos, que os conhecem e a quem no fundo, abri parte da nossa vida e da nossa casa. É muito graças a vocês e a tudo o que significam na minha vida actualmente, que eu consegui tomar as minhas decisões e que hoje estou aqui, firme de que fiz o que tinha que ser feito. Gosto de vocês, de cada um de vós, daquilo que em conjunto significamos, das partilhas que fazemos e de cada mensagem que me escrevem. Obrigada! Mas a minha vida privada, essa está bem segura, é nela que eu me refugio, é nela que eu mantenho a minha integridade e a pessoa que eu sou. E é essa que se mantém secreta de tudo e de todos.
E, posto isto, não vale a pena tentarem, pois eu não entro em confusões, nem sequer quero saber que elas existem! Sabem? Custou-me muito, mas muito mesmo, chegar até aqui. Foi difícil furar por entre todos os preconceitos, formas de estar e até conseguir fugir do círculo mais óbvio da sociedade para encontrar o meu mundo, estar com as pessoas com as quais realmente me identifico e as quais tornam o meu dia diferente nas mais pequenas coisas. E é aí que eu quero estar, num nível - sem pudores e sem querer ser arrogante - acima dos “diz que disse” e da vontade de criticar. Eu não preciso de procurar a aprovação em ninguém, preciso que o meu trabalho seja reconhecido e respeitado, preciso de saber me relacionar com todas as pessoas, de as respeitar, mas também de ser respeitada.
As mulheres são más umas para as outras porque nós deixamos, dando importância a isso. No dia em que cada um de nós deixar de se importar com a “vizinha do lado” e se meter a fundo na sua própria vida, isso vai acabar e vão-se sentir muito mais livres, felizes e... plenas!
Bom dia :)
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